Comportamento

Ousadia e inventividade marcam a nova moda ecológica; confira

Sustentabilidade ultrapassa minimalismo: guarda-chuva, anel de lata e plástico de praias dão base a roupas e acessórios. Cuidado com meio ambiente passa pela inclusão social de mulheres e comunidades tradicionais

Crédito: Edgar Berg

De anéis de lata, peças da Bottletop são feitas por mulheres em situação vulnerável e povos originários (Crédito: Edgar Berg)

Por Ana Mosquera

O recado das iniciativas que se destacam na transformação de resíduos em itens de moda é claro: o estilo sustentável vai além do minimalismo e da discrição, pode ter muita personalidade e ser clean, no sentido de limpar a natureza. Em São Paulo, a última semana de moda foi marcada pela sustentabilidade, com a Brasil Eco Fashion Week no fechamento de um ano marcado pelo calor excessivo e outras tragédias ambientais. A busca por tecidos orgânicos, como linho, seda e cânhamo, e tingimentos naturais cresce, mas é com apelo às peças largas e à ousadia que criadores dão aos objetos descartados outro valor.

“A moda tem intrínseca a paixão pelo novo, mas ele começou a ficar obsoleto. O que é novo, de verdade? É aquilo que é absorvido novamente para não parar no aterro sanitário e poluir a natureza”, diz Jackson Araújo, diretor criativo da Trama Afetiva.

Em seu mais recente projeto, a plataforma de design social e regenerativo reutiliza o náilon de antigos guarda-chuvas para a produção de roupas, bolsas, acessórios, calçados e até mesmo mobiliário.

Essa utilização transcende o patchwork e o fio elaborado com o material serve de base para um crochê inovador. Um guarda-chuva pode resultar em 42 metros de linha contínua, enquanto 103 deles servem para gerar o primeiro maxi pulôver criado pela estilista e diretora de moda Thais Losso.

“Transformá-lo em cultura e em uma nova visão da moda é de importância gigantesca. Além da limpeza e da preservação do meio ambiente, há a inclusão social das pessoas que sobrevivem por meio da reciclagem”, diz Ionara Pereira, liderança da cooperativa paulistana Avemare, com 70 integrantes.

Só ali 300 pessoas são afetadas positivamente, além das famílias das costureiras, que são mães solo e mulheres que trabalham em casa.

Jackson Araújo, diretor criativo da Trama (Crédito:Divulgação)

“Dar vida a matérias ‘mortas’ faz bem ao planeta e traz sustentabilidade financeira a grupos vulneráveis.”
Jackson Araújo, diretor criativo da Trama

Tecnologia popular

Se as bolsas feitas com anéis de latinhas foram populares nos anos 1990 e 2000, versões sofisticadas e mais ecológicas se espalham pelo Brasil e pelo mundo. A Bottletop, marca e fundação consciente e artesanal de acessórios regenerativos, produz acessórios a partir do lacre e de fios de plástico reciclado das praias, além de sementes de açaí.

De origem inglesa, é em países como o Brasil que a marca possui ateliês, entre Salvador e o território amazônico, e de onde tira inspiração. Inclusive nas peças retrô de crochê.

“Fomos atraídos para o Brasil por causa da incrível cultura da criatividade”, diz Cameron Saul, designer, empreendedor social, ativista e co-fundador da empresa.

“Com esta bolsa, podemos preservar o patrimônio cultural e artesanal de nossa comunidade e fornecer meios de subsistência para nosso povo”, disse Tashka Yawanawá, chefe dos Yawanawá, em nota oficial.

Apesar dos desafios, do financeiro ao tratamento dos materiais e acabamento das peças, o esforço compensa. “Focar em um design bonito e de alta qualidade é ousado. É algo que as pessoas têm orgulho de vestir, pois, além de ter um desempenho técnico e funcional, causa um belo impacto nas pessoas e no planeta”, diz Saul.

(Divulgação)