Comportamento

Coreia promove ‘blind dates’ visando crescimento populacional

Coreia do Sul organiza encontros em massa e às cegas na tentativa de formar casais. Baixas taxas de natalidade tornaram a busca pelo amor questão emergencial com investimento do dinheiro público

Crédito: Divulgação

Mutirão para solteiros na província de Gyeonggi-do: mais de R$ 900 mil do erário para unir casais (Crédito: Divulgação)

Por Elba Kriss

A procura pelo par perfeito ganhou um empurrão generoso na Coreia do Sul. Em 2023, a cidade de Seongnam, na província de Gyeonggi-do, realizou uma série de encontros às cegas para combater a queda de natalidade. Foram cinco eventos para a socialização de solteiros. Tudo com o aval da Prefeitura, que reservou mais de R$ 900 mil do orçamento.

Um departamento especial organizou os encontros com muito vinho, chocolate, jogos, decoração romântica e até verificação de antecedentes dos interessados. As segundas intenções são óbvias: as autoridades querem que os jovens se relacionem e futuramente formem famílias. Tenham filhos, em resumo.

“Eu considero função do governo criar as condições para as pessoas que querem se casar encontrar seus parceiros”, observou Shin Sang-jin, prefeito de Seongnam. Com um milhão de habitantes, a cidade celebrou saldo positivo na iniciativa.

Afinal foram centenas de inscrições, que resultaram em 460 aprovados. Desse número, 198 saíram como casais.

O investimento local teve opiniões divididas entre entusiastas e críticos. Pois é preciso mais do que um espírito casamenteiro para driblar o declínio populacional. Para o prefeito, foi uma resolução para, ao menos, tentar mudar a mentalidade da atual geração. “Uma atitude negativa em relação ao casamento predomina na sociedade”, lamenta ele.

Shin Sang-jin, prefeito de Seongnam (Crédito:Divulgação)

“É função do governo criar condições para quem quiser casar.”
Shin Sang-jin, prefeito de Seongnam

A ação em Seongnam tem explicação: a Coreia do Sul registrou 0,78 nascimento por mulher em 2022, o índice mais baixo do mundo.

“A grande questão no país é que a população está diminuindo, ou seja, as mulheres estão tendo um número cada vez menor de filhos”, explica o professor Roberto Luiz do Carmo, do Departamento de Demografia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas. “A baixa taxa de fecundidade está associada a problemas econômicos, como dificuldades de obtenção de empregos e para comprar residências.” Soma-se a isso a questão cultural do modelo patriarcal. “As mulheres passaram a ter um nível educacional elevado, passaram a não aceitar esse contexto.”

O mesmo acontece na China e Japão. Na Coreia do Norte, a crise demográfica fez o líder Kim Jong-Un chorar. “Impedir o declínio das taxas de natalidade, proporcionar bons cuidados infantis e educação são questões que devemos resolver com as nossas mães”, disse. O apelo repercutiu.