Coluna

Eleição nos EUA e o risco de guerra civil

Crédito: Divulgação

Felipe Machado: "A simples possibilidade de imaginar Trump de novo na Casa Branca traz ares de distopia" (Crédito: Divulgação)

Por Felipe Machado

O ano de 2023 mal havia começado quando fomos surpreendidos por um dos ataques mais grotescos da nossa história. Em 8 de janeiro, logo após o almoço, liguei a TV sem compromisso em um domingo como tantos outros, daqueles em que a gente senta no sofá e pensa se vai abrir um livro ou ver uma série. O que os canais de notícia exibiam, porém, era mais surreal que qualquer ficção: uma horda de bolsonaristas invadia as sedes dos Poderes em Brasília, sob olhar cúmplice de policiais e das Forças Armadas. Foi o “Dia da Infâmia”, como bem definiu o ministro do STF Alexandre de Moraes.

O fato de que ainda existem bolsonaristas é algo que desafia a minha inteligência. Sei que a lógica nefasta das redes sociais os mantêm ativos e unidos, mas não consigo compreender como ainda há gente que tem coragem de sair por aí mostrando orgulho em seguir as ideias do ex-presidente.

Não basta a Justiça brasileira impedi-lo de participar de futuras eleições: é dever dos defensores da Constituição trancafiar quem tentou dar um golpe de Estado e se insurgiu contra os outros Poderes. São meus sinceros votos para 2024.

Enquanto Bolsonaro estiver à solta, a “democracia inabalada” do Brasil, para usar outro termo de Alexandre de Moraes, ainda não está totalmente segura. A boa notícia é que sua estultice o reduz a uma ameaça local. Em 2024, viveremos um risco global e muito maior: a eleição presidencial norte-americana. Uma vitória de Donald Trump representará não apenas a volta do republicano ao poder, mas a derrota da democracia nos EUA. O que virá em seu lugar apenas o futuro dirá — mas boa coisa certamente não será.

Indagado se agirá de forma autoritária em um eventual segundo mandato, Trump disse que será ditador “apenas no primeiro dia”. É uma piada de mau gosto. O político só não foi à frente com sua insurreição em 6 de janeiro de 2021 porque foi contido pelo sistema de freios e contrapesos, um dos principais fundamentos republicanos. Se for eleito novamente, certamente saberá como desarmá-lo.

Por isso é essencial que Trump não possa concorrer, a exemplo do que fez o Estado do Colorado, que impediu seu nome de aparecer nas cédulas — a decisão ainda tem de ser confirmada pela Suprema Corte. A simples possibilidade de imaginar Trump de novo na Casa Branca traz ares de distopia e remete a um risco de guerra civil. Se é uma opinião alarmista ou realista, só saberemos em 2025. Feliz ano novo!