Comportamento

Brasil é vice-campeão mundial em consumo de música, mostra relatório

País se destaca em estudo sobre consumo sonoro global — está entre os que mais ouvem músicas mas também é o que mais pirateia a experiência

Crédito: Divulgação

Nando Machado, sócio da ForMusic: "Como somos um país de raças e cores diversas, nosso gosto musical é muito diversificado também" (Crédito: Divulgação)

Por Luiz Cesar Pimentel

Se cada amante de música brasileiro escutasse duas canções a mais em média por semana, o País seria o líder mundial em consumo sonoro no planeta. Esses seis minutos nos colocam em segundo lugar, atrás do México, e mostram uma das curiosidades sobre a relação do povo com o som reveladas pelo relatório Engaging With Music (Envolvimento com a Música), da IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica). O estudo anual investigou os hábitos de consumo musical de 43 mil pessoas em 21 países, que representam 91,2% do alcance global.

A pesquisa evidencia ainda que a América Latina lidera o ranking de audição por ampla margem. Enquanto a média mundial de consumo é de 20,7 horas semanais por pessoa, no Brasil o índice sobe para 25,4, atrás somente dos 25,7 mexicanos e tendo a Argentina em sexto lugar, com 22,6 horas.

Os principais nomes da indústria já haviam percebido a tendência. Lyor Cohen, líder de música do Google e YouTube, disse em entrevista recente: “Viajo por todo o planeta. Estive do Japão à Índia, e a principal pergunta que todos me fazem é: ‘Como podemos replicar o fenômeno que está acontecendo na América Latina?’”.

A resposta a que Cohen é cobrado possui muitas pistas de acordo com as peculiaridades do Brasil na relação com a música.

Para começar, o brasileiro encara a experiência auditiva de forma mais terapêutica do que o restante dos países. Pelo mundo, 71% dos apreciadores sugerem que a canção é um dos componentes importantes na manutenção da saúde mental. No Brasil, o índice é de 83%.

Outro fator que contribui para o crescente consumo ano a ano — a média mundial foi de 18,4 horas, em 2021, para 20,1, em 2022, até as 20,7 atuais — é a disponibilidade cada vez maior de fontes.

Em média, nos 21 países pesquisados, os ouvintes usam sete métodos diferentes de interação musical, enquanto no Brasil o número médio é de nove, de plataformas de streaming a rádio.

Bento Araújo, crítico musical e escritor (Crédito:Divulgação)

“A música faz parte do brasileiro, está em todo lugar, o tempo todo. E a democratização do acesso também conta.”
Bento Araújo, crítico musical e escritor

Enquanto a média geral global é de 8 gêneros consumidos por ouvinte, no Brasil o número sobe para 10.

Os cinco mais consumidos por aqui são:
• Sertanejo,

• Arrocha,
• Pop,
• Funk,
• Trap brasileiro.

“A nossa formação étnica contribui para o ecletismo cultural e o consumo de música é retrato disso. Além de termos um mercado musical local muito forte, que é praticamente consumido apenas no Brasil — o funk brasileiro, forró, samba e sertanejo só existem aqui”, diz Nando Machado, sócio da ForMusic.

“O fato de a música brasileira ser tão rica e diversa explica a razão de sermos tão musicais enquanto nação”, concorda Bento Araújo, crítico musical e escritor.

Outra particularidade nacional é o formato preferido de experiência. Um em especial, o TikTok, tornou-se preferência verde e amarela. Pelo mundo, 25% em média escutam música pelo aplicativo de vídeos, enquanto no Brasil esse índice mais do que dobra, chegando a 57%.

“A música brasileira é parte da identidade do País, assim como o futebol”
Eduardo Rajo, Diretor de Novos Projetos da Pró-Música

Mas nem tudo são flores nessa relação. Consumo ilegal e não licenciado são problemas relevantes em toda parte, mas no caso brasileiro são ainda mais.

Enquanto nos outros países 3 em cada 10 pessoas utilizam métodos proibidos para obter a experiência, por aqui o número esbarra na metade dos consumidores (47%).

Tanto que a própria IFPI pediu ajuda das autoridades nacionais para lançar pacote de ações inibitórias como parte do plano que foi batizado Operação 404.

A iniciativa conseguiu desde novembro recente a exclusão de 1.500 domínios e 780 aplicativos de música infratores, com entrega de uma centena de mandados de busca e apreensão. Vale tudo para garantir mercado que só cresce e que a receita atingiu US$ 21,6 bilhões em 2023.