Economia

Demanda faz preço das passagens aéreas aumentarem

Aeronaves lotadas e tarifas atingindo os maiores níveis em 14 anos. Essa situação dificulta a vida dos viajantes e ameaça a meta de inflação estabelecida pelo governo para o início do ano

Crédito: Marcos Assis

Tarifas áreas têm alta acumudalada de 81,93% nos últimos quatros meses (Crédito: Marcos Assis)

Por Mirela Luiz

C om aviões lotados e tarifas atingindo níveis não vistos desde 2009, as companhias aéreas brasileiras iniciam o ano de 2024 em uma situação semelhante à do ano anterior: bom desempenho operacional, mas ainda com altos níveis de endividamento, quadro que está afetado na parte mais frágil dessa corrente, que é o bolso do consumidor.

De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o preço das passagens aéreas sofreu um aumento de 81,93% nos últimos quatro meses e essa situação pode ter um impacto significativo no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Para lidar com esse cenário adverso, o governo anunciou um pacote de medidas com o objetivo de reduzir esses valores exorbitantes, priorizando um maior volume de promoções nas companhias de aviação.

“Os altos preços nas passagens podem ser atribuídos a fatores como a alta carga tributária sobre serviços e produtos, infraestrutura e logística deficiente e flutuação cambial instável. Estes aspectos contribuem para custos operacionais mais elevados, que são repassados aos consumidores”, avalia Hugo Garbe, professor de Economia do Mackenzie.

2021 
16,76%

2022
24,02%

2023
48,11%

As passagens aéreas têm sido um dos principais fatores de pressão na inflação oficial do País. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ressaltou a preocupação com o aumento desses preços em relação à prévia da inflação.

Ele destacou que o aumento afeta principalmente aqueles que dependem desse meio de transporte e, por isso, tem um impacto significativo no IPCA. Somente no mês de novembro, as viagens de avião contribuíram com 0,14 ponto percentual do IPCA, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e tiveram um aumento de 19,12% em comparação com o mês anterior.

“O preço das passagens está no seu ponto mais alto. Com a liberdade tarifária praticada desde 2001, e instituída por lei em 2005, os preços médios das passagens caíram e veio o aumento do ‘yield’ (retorno médio por km voado por assento ocupado). Neste modelo, as compras feitas com antecipação são largamente subsidiadas pelos compradores de última hora”, disse Vinícius Lummertz, ex-ministro do Turismo do governo Temer e ex-secretário de Turismo do governo de São Paulo, acrescentando que, “no final, o que faz com que as passagens fiquem mais caras são os altos impostos e o repasse dos custos operacionais em dólares. Por isso, a necessidade da Reforma Tributária”, justifica Lummertz.

Alta demanda

O aumento na procura de viagens é um dos principais fatores que tem pressionado os preços das passagens. Nos últimos anos, o número de passageiros transportados por companhias aéreas brasileiras tem crescido a uma taxa média de 7% ao ano.

Em 2023, foram transportados cerca de 120 milhões de passageiros no Brasil, o que significou um aumento de 10% em relação ao ano anterior.

De acordo com Marcos Crivelaro, professor de finanças da Fundação Vanzolini, esse crescimento é impulsionado por uma série de fatores, incluindo a expansão da classe média, que tem gerado um aumento na demanda por viagens aéreas.

A redução das barreiras para viajar, como a burocracia e a documentação, também têm contribuído para maior procura por viagens aéreas. “O aumento da demanda tem pressionado os preços e isso ocorre porque as empresas precisam aumentar a oferta de voos para atender a demanda, cada vez mais crescente. No entanto, o aumento da oferta de voos também aumenta os custos das companhias, o que tem levado a um aumento tarifário”, enfatiza Crivelaro.

Silvio Costa Filho, ministro de Portos e Aeroportos (Crédito:Divulgação)

“Para termos preços mais acessíveis aos brasileiros, é necessário um esforço coletivo e um diálogo constante.”
Silvio Costa Filho, ministro de Portos e Aeroportos

Os especialistas acreditam que 2023 foi um ano em que as companhias demonstraram sua capacidade de operar de forma lucrativa – o que conseguiram com sucesso.

Agora, em 2024, é o momento de começarem a arrecadar recursos para pagar as dívidas acumuladas durante a pandemia, momento em que as empresas tiveram os maiores prejuízos da história.

A demanda, no entanto, vem aumentando gradativamente, o que surpreende o mercado ao permanecer aquecida mesmo com os altos preços das passagens, o que pode ajudar no processo de recuperação do segmento.

Um cenário macroeconômico favorável também é essencial para a recuperação do setor, incluindo o crescimento do PIB, a redução da taxa de juros, uma valorização do real e uma queda nos preços dos combustíveis.

Embora o governo tenha anunciado medidas para ajudar as empresas a reduzir os preços das passagens, ainda existem desafios a serem enfrentados.

Um deles é o atraso nas entregas de aeronaves encomendadas pelas principais companhias, que estão se vendo obrigadas a reduzir a quantidade de voos, afetando no Brasil, por exemplo, a execução do programa do governo.

Para termos preços mais acessíveis aos brasileiros, é necessário um esforço coletivo e um diálogo constante. Esperamos que mais brasileiros possam viajar nos próximos meses”, destaca Silvio Costa Filho, ministro de Portos e Aeroportos.

Apesar disso, os brasileiros não parecem desanimados em relação às viagens durante as férias de verão. Segundo a Associação Brasileira de Operadoras de Turismo (Braztoa), espera-se um crescimento de 36% nas viagens neste período, com destinos nacionais como Gramado (RS), Maceió (AL) e Porto de Galinhas (PE) sendo os mais procurados.

Os preços altos das passagens aéreas, contudo, ainda representam um obstáculo para o turismo no Brasil. Segundo os especialistas, a pesquisa de preços, a criação de alertas em sites de passagens e um planejamento adequado são essenciais para economizar.

Além disso, utilizar milhas e pontos de cartão de crédito para converter em passagens ou descontos também é uma opção recomendada.

“O segredo hoje é comprar milhas baratas e entender sobre o mercado das emissões. Isso proporciona a compra de passagens mais baratas. O conhecimento do mercado ajuda muito a reduzir e viajar muito mais barato”, argumenta André Brito, especialista em milhas, viagens e fundador do site Milhas ao Vivo.