Coluna

Os critérios do presidente Lula

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Ricardo Kertzman: "Lula deveria abandonar as acusações levianas que faz a Israel por mera ideologia, e passar a acusar – com fundamentação fática – as polícias dos estados acima por alguma forma de racismo" (Crédito: Divulgação)

Por Ricardo Kertzman

Um estudo divulgado pela Rede de Observatórios, com base em dados das secretarias de segurança pública, mostrou que em 8 estados brasileiros (Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, São Paulo e Rio de Janeiro), 90% das vítimas fatais em confrontos com a polícia são pretas.

Foram 4.219 mortes em intervenções policiais, em 2022, nestes oito estados, e desse total, 3.171 registros informaram a cor da pele das vítimas: 87% preta. É espantoso! Uma pessoa negra morreu pelas mãos da polícia a cada quatro horas no País, no ano passado.

A Bahia ficou em desonroso primeiro lugar, com 94,7% de vítimas pretas. Na sequência, Pará (93,9%), Pernambuco (89%), Piauí (88%) e Rio de Janeiro (86%). Mas atenção: estes números podem ser piores, porque há subnotificação no Maranhão, Ceará e Pará. Os maranhenses, por exemplo, nem sequer possuem tais informações. No Ceará, os registros foram feitos em apenas 30% dos casos, e no Pará, em somente 33%.

É espantoso! Uma pessoa negra morreu pelas mãos da polícia a cada quatro horas no Brasil, ao longo do ano passado

A Bahia foi governada, por anos, pelo aliado e ministro de Lula, o petista Rui Costa. O Maranhão, pelo atual ministro da Justiça, Flávio Dino. O Ceará, por outro aliado e ministro, Cid Gomes, irmão de Ciro Gomes. O Pará, pelo também ministro Jader Filho, pimpolho de Jader Barbalho. E o Piauí, por Wellington Dias, mais um aliado e ministro do chefão do PT.

Por diversas vezes o presidente da República tem acusado Israel de praticar genocídio contra o povo palestino. Uma coisa, a meu ver, é criticar, com razão, a morte de civis em Gaza, após os ataques terroristas do Hamas aos judeus, em 7 de outubro passado. Outra, muito diferente e inapropriada, é acusar um estado de ser – e praticar – o que não é.

Define-se genocídio como a eliminação sistemática e intencional de um grupo, ou etnia, por aplicação de forças que resultem na morte. Bem, eu não vi o presidente Lula acusar seus aliados e ministros de praticarem genocídio contra a população negra no Brasil. E não. Eu não considero que as polícias desses estados estejam praticando genocídio, mas os números, em análise fria e utilizados indevidamente (por má-fé), afirmam justamente o contrário.

Lula deveria abandonar as acusações levianas que faz a Israel por mera ideologia, e passar a acusar – com fundamentação fática – as polícias dos estados acima por alguma forma de racismo. Para isso, contudo, precisaria ser coerente e corajoso o bastante para apontar o dedão acusador em direção às fuças de seus amigos, mas isso, definitivamente, ele não é.