O rico novo paulista
Por Mentor Neto
O descaramento dos ricos é uma coisa assustadora.
Me refiro aos ricos de São Paulo, porque os ricos de outras regiões faz tempo que já conhecemos bem e sabemos
o que esperar. Nada.
Pois cada região do país tem seu rico cheio de particularidades.
O Nordeste tem os coronéis, todo mundo sabe. Estão lá ainda, não se engane. Atravessam os séculos esses senhores feudais seguidos por seus asseclas que decidiram, desde os mais antigos ascendentes, apenas aceitar o poder absoluto por oportunismo ou à bala mesmo.
No Norte, são ainda muito mais selvagens.
Exploram o que há de mais sagrado na Natureza, entregando a companhias multinacionais pelo vil metal. Não mexa com eles. São ricos sindicalizados.
No meio do País, todo mundo sabe, estão os ricos com partido político.
Seres humanos que optaram por viver como rêmoras do Estado.
E não estão nem aí. Nem eles, nem nós.
Aceitamos seus comportamentos públicos sem reação alguma há mais de um século.
Damos risada de seus despautérios como se fossem um quadro de humor.
No Sul e no Centro-Oeste, estão os ricos agrícolas.
Com suas fazendas maiores do que a Bélgica ou a Holanda, se orgulham de serem o motor do País.
Nas cidades que permitem existir dentro de suas terras, são um segundo poder, ou primeiro, onde tentam ser os déspotas esclarecidos, e as vezes sonham em ocupar esse mesmo cargo em Brasília.
Aí vêm os ricos do Rio.
No alto das montanhas enxergam até o poder central. Entre milícias e traficantes, são os ricos que menos ostentam sua riqueza pelo mundo. Senão vão presos.
Ficam ali, se matando entre si.
No passado até serviam à população com os serviços que o Estado esqueceu. Hoje em dia, nem isso.
Então são esses os ricos do Brasil. Milionários. Bilionários. Muitos deles são reconhecidos nos melhores hotéis do mundo, nas revistas de fortunas, donos dos veículos mais velozes já fabricados, proprietários das melhores terras aqui e pelo mundo, cientes de seu absoluto poder, acima de qualquer hierarquia democrática.
Defendem a meritocracia, sem jamais terem questionado o mérito de seus métodos violentos, heranças familiares, ou caráter pessoal.
Então chegamos aos ricos de São Paulo.
Os ricos do dinheiro novo Paulista.
Porque os ricos do dinheiro velho, esses também não são novidade.
Basta um pouco de atenção para descobrir que os velhos milionários paulistas vieram de gerações e gerações de famílias quatrocentonas que fizeram todo o mal que puderam no passado, preservando a pobreza alheia com rédea curta.
São aqueles que José Mujica, ainda presidente do Uruguai, se referiu quando afirmou que é a “burguesia paulista falha em não promover a integração das empresas da região”.
Em troca produziram café e criaram a mais forte indústria da América Latina.
Essa mesma que afunda dia-a-dia.
Mas velhos ricos paulistas são diferentes dos ricos novos paulistas.
Aqueles se escondiam. Tinham vergonha de serem identificados. Ou medo do Imposto de Renda.
Esses novos estão nem aí.
Usam o TikTok e o Instagram como public relations.
Esfregam na cara de quem quer que seja como enriqueceram facilmente.
Ironizam os jovens que chegaram aos 25 anos sem uma Ferrari.
Ganham dinheiro operando na bolsa, dando cursos de empreendedorismo, ou apenas postando em vídeos onde gastam suas fortunas.
Nada de errado, claro. Apenas uma constatação. Todos têm o mérito de ter produzido suas fortunas sem explorar ninguém.
Mas não produzem nada.
Um desses ricos novos paulista mostra sua rotina nababesca. Tem milhares de seguidores que imploram por sua atenção, ou dinheiro.
Ele ignora a todos. Seu objetivo é mostrar como partiu “do zero e chegou lá”.
E como qualquer um pode trilhar o mesmo caminho.
Não podem, mas o que importa?
No ethos do rico novo paulista, tudo vale para ver e ser visto.
Só isso.