Cultura

Cansou da mesma musiquinha de Natal? Veja esta setlist

A tradição de discos natalinos começou nos EUA com cantores como Bing Crosby e Frank Sinatra. Hoje, lançamentos de artistas das novas gerações mostram que ainda há espaço para reinventar o gênero

Crédito: Divulgação

Kylie Minogue: ritmos dançantes marcam seus álbuns temáticos (Crédito: Divulgação)

Por Felipe Machado

O Natal é aquela época do ano que traz consigo não apenas presépios e encontros familiares, mas também uma trilha sonora única que invade as rádios e domina as paradas de sucessos. A tradição dos discos natalinos nasceu nos EUA e remonta ao final da Segunda Guerra, quando Bing Crosby capturou o otimismo vigente após a recém-conquistada paz mundial e lançou sua versão de Merry Christmas, marcada por sua voz suave e calorosa. A repercussão foi tão grande que a moda pegou.

O próximo a estourar nas paradas com um lançamento do gênero foi Nat King Cole, cuja interpretação magistral faz de “The Christmas Song” um hino de celebração até hoje.

Vieram depois Elvis Presley, Frank Sinatra e Johnny Cash, entre outros ícones. Desde então, dezenas de cantores investem todos os anos nessas produções, buscando proporcionar uma sensação de nostalgia.

Nos últimos tempos, a prática comum aos nomes da velha geração, populares principalmente entre o público adulto, chegou aos artistas pop — com resultados igualmente rentáveis e uma variedade surpreendente de estilos.

Acostumadas aos ritmos eletrônicos, a australiana Kylie Minogue e a norte-americana Ariana Grande engataram discos temáticos com batidas dançantes e foco no público adolescente.

Já a cantora Brandy Norwood foi a aposta da gravadora Motown, especializada em Soul Music, para a temporada.

Outra estrela pop que chega com disco nesse estilo não é exatamente uma estreante, mas curiosamente é a primeira vez que se arrisca no gênero: Cher, aos 77 anos, lança disco com participação de Michael Bublé, Cyndi Lauper e Stevie Wonder.

Bom lembrar que outra veterana, Barbra Streisand, já havia se aventurado pelo estilo natalino — mesmo sendo de origem judaica.

Afirmar que há lançamentos para todas as tribos não é modo de dizer. Os fãs de heavy metal podem comemorar a chegada de Jesus ao som de Celestial, do vocalista Rob Halford, do Judas Priest.

Já a turma dos desenhos pode cantar com os personagens politicamente incorretos da animação South Park.

Até os punks têm lugar na festa, como prova o álbum Christmas Songs, do Bad Religion. Há opções inclusive para quem prefere um som mais sombrio: Dark Christmas, da finlandesa Tarja Turunen.

A primeira artista a redescobrir esse filão, ainda nos anos 1990, foi Andrea BocelliMariah Carey. Em vez de regravar os clássicos, ela se reuniu com o compositor Walter Afanasieff e escreveu “All I Want for Christmas is You”. Segundo ela, o processo de criação durou apenas quinze minutos — e a música tornou-se um dos maiores sucessos de todos os tempos.

No Brasil a prática já foi mais comum. “Boas Festas”, de Assis Valente, e “Recadinho de Papai Noel”, cantada por Carmen Miranda, chegaram a fazer sucesso estrondoso no passado.

Recentemente foram lançados discos de Natal de nomes que vão de Roupa Nova a Luan Santana, mas o destaque que vem à mente é o da cantora Simone. Nos anos 1990, ela vendeu milhões de cópias de “Então é Natal”, versão de “Happy Xmas (War is Over)”, de John Lennon. O marketing nas rádios foi tão agressivo, no entanto, que a música gerou irritação no público e foi aposentada pela artista durante um bom tempo. Agora, finalmente decidiu relançar o disco — mas apenas com as letras traduzidas para o espanhol.

Entrevista com Andrea Bocelli: “É uma festa que comove o nosso coração”

Matteo, Virginia e Andrea Bocelli: pai e filhos cantando juntos (Crédito:Divulgação)

Que memórias vem à mente quando interpreta canções de Natal?
Dos Natais de criança, com meus pais, que já não estão entre nós, meus avós, meus tios. Temos uma família muito grande. Sempre foi e continua sendo uma época especial.

Qual é a emoção de cantar ao lado dos filhos Matteo e Virginia?
Trabalhar com as crianças foi incrível e importante para mim. Tivemos a oportunidade de viajar pelo mundo e foi uma experiência muito linda. Foi a primeira vez que fizemos isso juntos, e provavelmente levará algum tempo até que possamos ter essa experiência novamente.

O que sente ao vê-los seguindo a mesma carreira do pai?
Virgínia ainda vai para a escola. Ela começou a estudar piano e, quando for mais velha, decidirá. Hoje cantar é apenas um hobby. Já Matteo decidiu embarcar na carreira de cantor. É uma grande responsabilidade, pois procuro compartilhar meu conhecimento e dar conselhos. Somos, no entanto, donos de nossos próprios destinos. Em algum momento ele terá de seguir seu caminho.

Como surgiu o dueto com os personagens de Os Simpsons?
Eles entraram na nossa casa como fizeram com a maioria das pessoas, por meio de seu humor único. Foi divertido ouvir a reação da família quando souberam da iniciativa.

Após tantos anos, o que ainda faz as pessoas se emocionarem com um repertório de clássicos?
O Natal é uma festa que comove o nosso coração. Além de essas músicas serem autênticas, há a ligação religiosa. Eu realmente acredito em Deus, então elas têm um significado importante para mim. É o que desejo transmitir aos meus filhos.

Em 2020, o senhor se apresentou na Catedral de Milão, sozinho, durante a pandemia. O mundo melhorou desde então?
Apesar dos problemas, acredito que o mundo está melhorando ao longo do tempo. Vivemos dias cruéis e violentos em duas partes do mundo, mas no passado havia mais guerras do que vemos hoje. Não creio, no entanto, que a pandemia tenha contribuído para essa evolução.

No novo álbum há canções em inglês e espanhol. Nunca pensou em incluir uma em português?
Não cantei músicas de Natal em português, mas já gravei “Corcovado” e “Garota de Ipanema”. É um idioma desafiador, requer tempo de estudo. Tem uma mensagem ao Brasil? Com prazer: a família Bocelli deseja uma calorosa e fraterna noite de Natal a todos os brasileiros.

Brandy Norwood: repertório clássico no melhor estilo da Motown (Crédito:Divulgação)