Cultura

A desilusão de Priscilla Presley com Elvis é retratada no filme de Sofia Coppola

Inspirado na autobiografia da ex-mulher do cantor Elvis Presley, o filme Priscilla narra uma história que começou como conto de fadas e terminou em decadência e desilusão

Crédito: Divulgação

Priscilla (Cailee Spaeny) e Elvis (Jacob Elordi): da amizade ao casamento de aparências (Crédito: Divulgação)

Por Felipe Machado

Os fãs de rock nunca entenderam: por que Elvis Presley, podendo escolher garotas em todo o mundo, inclusive modelos e atrizes de cinema, optou por se casar com Priscilla Ann Beaulieu, uma jovem tímida e recatada que conheceu quando ela tinha apenas catorze anos? O longa Priscilla, de Sophia Coppola, que estreia nos cinemas, dá pistas sobre esse fato.

Apesar de já ser famoso e bem-sucedido, Elvis fora convocado e teve de prestar serviço militar em uma base norte-americana na Alemanha. Lá, carente de amigos e, principalmente, de amigas, conheceu Priscilla, filha de um oficial da Força Aérea americana. Longe de casa e sem o glamour a que estava acostumado, encontrou na jovem uma amiga que ouvia seus problemas e o acompanhava sem questionar seus hábitos.

Embora ela tenha se mudado para Graceland, em Memphis, aos 17 anos, a relação platônica só foi se concretizar de forma plena após ela se tornar maior de idade. Pelo menos é isso que diz o roteiro, cuja polêmica sobre a questão da idade invadiu as redes sociais. Quem garante a veracidade é a própria Priscilla: o filme é baseado em sua autobiografia Elvis e Eu.

O rei do rock a oficializou como rainha em maio de 1967, quando ela já tinha 21 anos e era uma das mulheres mais famosas do mundo. Por muito tempo, porém, sua história foi eclipsada pelo brilho do marido.

O que a produção busca revelar agora é que, por trás da garota que cresceu dentro de um conto de fadas, existia uma mulher de personalidade que só se viu à vontade quando escapou da desilusão ­— e quando o decadente castelo de cartas começou a ruir.

Sophia Coppola captura os dez anos do relacionamento do casal com riqueza de detalhes em relação à moda e ao estilo da época.

Sobre o relacionamento, em si, prefere ser distante e, às vezes, um pouco fria. Quer mostrar, talvez, que aquele era um mundo tão à parte, que somente os dois envolvidos compreendiam realmente o sentimento que os unia.

A trama se desenrola a partir de memórias íntimas e de um ponto de vista infantil que se expande à medida que Priscilla cresce. É uma transição delicada, mas que transforma a narrativa.

Cailee Spaeny como Priscilla: a rainha do rock conheceu Elvis na Alemanha aos 14 anos e casou-se aos 21 (Crédito:Melodie Mcdaniel)

Nada de shows

O filme é um retrato imersivo em uma existência glamourosa, mas também uma visão delicada e cheia de detalhes sobre uma jovem que realiza o sonho — e percebe que ele está longe de ser perfeito.

Desde o primeiro momento, a diretora deixa claro que trata-se de uma cinebiografia sobre Priscilla, não sobre Elvis. Não há uma única cena de show nem dos filmes do cantor.

Há apenas citações indiretas sobre seu sucesso, por meio de revistas de celebridades que sua mulher se vê obrigada, pela curiosidade, a folhear. Na mansão de Graceland, sempre acompanhado por uma entourage que lembra a dos jogadores de futebol dos dias de hoje, Elvis é retratado como um garoto mimado, um apaixonado por armas que se rende, pouco a pouco, ao vício em remédios para dormir.

São evidências dos excessos que o levaram à morte em 1977, cinco anos depois da separação da mulher. Em 1972, Priscilla abandonava Graceland, levando consigo somente o carro conversível, uma mala de roupas e a única filha do casal, Lisa Marie.

“Ao ler a história pela primeira vez, me chamou a atenção como foi fácil se identificar com o que ela viveu”, afirma Sophia. “Ela sempre foi vista como a namorada de Elvis, mas senti que havia uma história mais interessante para contar: um desejo infantil que se tornou realidade, mas não da forma como ela imaginava.”

Se a carreira de Elvis foi essencial para compreendermos sua época, vemos que a vida de Priscilla também foi importante para lembrarmos como o papel da mulher se transformou desde então.

Sophia Coppola e a força de suas protagonistas

Sophia Coppola não tem problemas em admitir que seus filmes têm foco voltado para as mulheres. Claro que eles também apresentam personagens masculinos — sua parceria com Bill Murray em Encontros e Desencontros e On the Rocks é admirável —, mas sua câmera olha de maneira diferente para elas.

A diretora transformou um desastre em uma carreira de sucesso: filha de Francis Ford Coppola, foi duramente criticada por sua atuação em O Poderoso Chefão III.

Em vez de desistir, foi para os bastidores e estreou como diretora nove anos depois, em 1999. As Virgens Suicidas fez sucesso no Festival de Cannes e lhe rendeu o prêmio de melhor filme do ano pela MTV.

Sua voz original definitiva porém, só veio em Maria Antonieta, onde ela observou a indulgência que existia em Versailles por meio dos olhos de uma garota ingênua jogada ao centro do poder.

(Divulgação)