Farsa ambiental em Dubai

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Marcos Strecker: "Há algo muito errado, para dizer o mínimo, na governança climática global" (Crédito: divulgação)

Por Marcos Strecker

A principal conferência anual sobre mudanças climáticas, a COP28, bateu um recorde este ano. Não se trata do número de participantes, mas de lobistas da indústria do petróleo: foram mais de 2,4 mil. Em comparação com o evento do ano passado, no Egito, a bancada do óleo e gás quadruplicou. É um feito e tanto, levando-se em conta que o objetivo desse encontro da ONU é exatamente encontrar formas de acelerar a descarbonização da economia.

Esse não foi o único marco, por assim dizer, do convescote. O próprio presidente da COP, que dirige a companhia estatal de petróleo dos Emirados Árabes Unidos, cometeu um deslize ao afirmar que não há evidências científicas apontando a necessidade de eliminar os combustíveis fósseis. Um espanto, já que a multidão de especialistas e gestores presentes em Dubai tinha como missão exatamente debater a redução desses insumos, responsáveis por 75% dos gases que causam o aquecimento global.

Há algo muito errado na governança climática global quando a indústria petrolífera é quem mais fatura com a COP28

A jacobice não foi apenas da lucrativa indústria petrolífera. O Brasil levou a maior bancada, mais de 3 mil representantes, grupo maior até do que o escrete do óleo. Por um lado, faz sentido, já que o País tem uma das maiores riquezas em biodiversidade do planeta, a maior porção da Floresta Amazônica e vai sediar essa convenção em 2025, em Belém. Mas o presidente Lula, que tinha tudo para celebrar a queda no desmatamento este ano, chamuscou sua credibilidade ambiental ao anunciar a adesão do Brasil à OPEP+. Num drible retórico digno da habilidade exibida pelo técnico Fernando Diniz na seleção, o petista afirmou que entrará no grupo “para convencer os países produtores a migrar para energias renováveis”. Como arremate, o presidente da Petrobras divulgou a criação da Petrobras Arábia. Mas o plano não era ser líder mundial em energia verde?

No mundo corporativo, já está consagrada a expressão “greenwashing”, que significa divulgar falsas virtudes ambientais para mascarar práticas nocivas. Em Dubai, esse logro ganhou sua versão multilateral e transnacional. Há algo muito errado, para dizer o mínimo, na governança climática global. Ruim para o planeta, pior para o Brasil. Por sua adesão ao cartel do petróleo em plena festa climática, o País ganhou dos ativistas o troféu “Fóssil do Dia”, concedido anualmente ao pior vilão ambiental. O antiprêmio já havia sido entregue com toda a justiça a Jair Bolsonaro, e foi renovado ao atual governo. Não queimamos apenas a floresta, queimamos o filme.