Cultura

Documentário traz informações inéditas sobre a morte de Lennon

'Assassinato sem Julgamento' foi baseado em depoimentos de quase todos os indivíduos relacionados ao ataque a tiros contra o ex-Beatle e promove uma “jornada pela mente do assassino”

Crédito: Divulgação

John Lennon: uma voz que incomodava a CIA (Crédito: Divulgação)

Por Felipe Machado

Juntos durante apenas oito anos, os Beatles tiveram uma das carreiras mais curtas da história entre os grandes nomes da indústria musical. A força de seu impacto cultural é tão grande, no entanto, que hoje, mais de cinquenta anos após o fim do grupo, vemos a canção inédita “Now and Then” ocupar o primeiro lugar nas paradas e vibramos com Paul McCartney, aos 81 anos, numa turnê que lota estádios em todo o mundo. Um novo lançamento deve sensibilizar ainda mais os admiradores do quarteto de Liverpool: o documentário John Lennon: Assassinato sem Julgamento, série documental da AppleTV+ que traz informações inéditas sobre a morte do astro, em 8 de dezembro de 1980.

Poucos episódios causaram tanta comoção popular entre os fãs de música. Lennon foi morto por Mark David Chapman em frente ao edifício em que morava, o Dakota, em Nova York, e diante da mulher, Yoko Ono.

Narrado pelo ator Kiefer Sutherland (de 24 Horas) e dirigido por Nick Holt e Rob Coldstream, a produção promove “uma jornada pela mente do assassino”.

Em uma minuciosa investigação, os produtores obtiveram informações via Lei de Liberdade de Informação do Departamento de Polícia de Nova York, do Conselho de Liberdade Condicional e do escritório do Promotor Público. Graças a elas foi possível chegar a praticamente todos os indivíduos relacionados à morte.

O documentário traz entrevistas exclusivas, incluindo:
• Richard Peterson, motorista de táxi que testemunhou o crime;
• Jay Hastings, porteiro do edifício Dakota, que ouviu suas últimas palavras;
• David Suggs, advogado de defesa de Chapman;
• Dr. David Halleran, que estava no pronto- socorro;
• e a Dra. Naomi Goldstein, a psiquiatra que avaliou o atirador pela primeira vez, logo após o ataque.

A médica afirma que o considerou totalmente responsável por suas ações, posição oposta à tese de defesa. Chapman se declarou inocente e seus advogados tentaram provar sua insanidade para tentar buscar sua libertação.

A confusão sobre os limites dessa suposta incapacidade deram margem a diversas teorias da conspiração.

Documento da CIA classifica John Lennon como radical: “todos os extremistas devem ser considerados perigosos” (Crédito:Divulgação)

O fato de nunca ter havido um julgamento é um deles. Em geral, crimes dessa natureza nos EUA levam a júri popular, mas nesse caso houve certa confusão processual. Depoimento de um especialista da CIA, a agência de inteligência norte-americana, contrariou a perita Naomi Goldstein e validou a tese de que Chapman não podia responder por seus atos. Esse mesmo profissional, no entanto, havia hipnotizado o réu em outra ocasião.

A CIA considerava Lennon um ativista perigoso por sua posição radical contra a guerra do Vietnã. É bom lembrar que em 1980, ele saiu de um período de cinco anos de reclusão para lançar o álbum Double Fantasy. O ex-beatle, portanto, receberia uma enorme cobertura midiática e poderia voltar a incomodar o governo ­— há outro documentário, de 2005, dedicado exclusivamente ao tema: Os EUA vs. John Lennon.

Sem julgamento

Após manobras jurídicas de ambos os lados, o julgamento de Chapman foi finalmente marcado. No momento em que as portas iriam se abrir para os jurados e a imprensa, o juiz interrompeu a sessão: Chapman mudou sua versão em cima da hora e se declarou culpado, dizendo que cometeu o crime porque obedeceu a “vozes em sua cabeça”.

Afirmou ainda que sua intenção era divulgar as ideias do livro O Apanhador no Campo de Centeio, uma vez que ele era “a versão contemporânea de Holden Caulfield”, o problemático protagonista.

O depoimento mais contundente, no entanto, é do ex-procurador de Nova York Kim Hogrefe, que cuidou do caso. Sua repulsa por Chapman é evidente, inclusive ele faz questão de se referir a ele apenas como “o réu”, sem citar seu nome, para evitar dar-lhe qualquer publicidade ou a notoriedade que cobiçava.

“É lamentável que o réu tenha conseguido chamar a atenção para si, roubando a fama de alguém como John Lennon”, conclui.

Novos depoimentos sobre o caso

A testemunha

(Divulgação)

O taxista Richard Peterson: “Quando vi Lennon no chão, achei que estavam fazendo um filme”

O médico

(Divulgação)

David Halleran: “Achei a vítima parecida com o ex-Beatle. Só tive certeza após ver seus documentos”

O promotor

(Divulgação)

Kim Hogrefe: “É lamentável que o réu tenha conseguido roubar a fama de alguém como Lennon”