Cultura

Cinema made in Brazil, à moda de Hollywood

Super produções brasileiras de nível internacional são a aposta da indústria cinematográfica para reconquistar o público e alavancar o setor

Crédito: Ju Chalita

Efeitos especiais: fuselagem de um Boeing construída em estúdio (Crédito: Ju Chalita)

Por Felipe Machado

Em 1988, um desempregado sequestra um avião e planeja jogá-lo contra o Palácio do Planalto para atingir o então presidente José Sarney, figura que considerava responsável por todo o mal que afligia o País. Trinta e cinco anos depois, em 2023, uma dupla de policiais federais se infiltra numa quadrilha de traficantes internacionais e descobre a operação para resgatar seu líder da prisão de segurança máxima. Os enredos do filme O Sequestro do Voo 375 e da série DNA do Crime possuem todos os elementos do cinema de ação típico dos arrasa-quarteirões de Hollywood, mas com uma diferença: foram feitos no Brasil, com profissionais locais e produzidos por estúdios nacionais.

Inspirada em uma história real de 1988, baseada em pesquisas de Constâncio Viana, O Sequestro do Voo 375 é a aposta do audiovisual nacional para reconquistar o público nas salas. O episódio não é chamado de “11 de setembro brasileiro” à toa: material apreendido com a Al Qaeda, grupo responsável pelo atentado às torres gêmeas em Nova York, teria citado o caso, o que ligaria o plano do maranhense Raimundo Nonato ao maior atentado terrorista da história.

Esse detalhe, porém, não será a única razão que levará o longa a chamar a atenção no exterior. Gravado no icônico estúdio Vera Cruz, eleva o nosso cinema a outro patamar — ao menos na parte técnica, em relação a cenários e direção de arte. A construção da fuselagem de um Boeing permitiu ao diretor Marcus Baldini recriar na ficção as manobras radicais realizadas pelo comandante Fernando Murilo, interpretado brilhantemente por Danilo Grangheia. O resultado não deve nada às superproduções de Hollywood.

Elenco de Sequestro do Voo 375: filme custou R$ 25 milhões, um dos mais caros da história do cinema nacional (Crédito:Ju Chalita)

“Queremos fazer cinema para o mundo, mostrar um Brasil global. Ao unir boa curadoria e um alto nível financeiro e técnico, ganhamos em competitividade, porque em termos de histórias não devemos nada a nenhum país”, afirma a produtora Joana Henning, CEO do Estúdio Escarlate, que se associou ao Star Originals, braço de conteúdo adulto da Disney. “Somos ricos em conteúdo, o que falta é coragem e investimento. Os talentos sempre existiram por aqui.”

O diretor Marcus Baldini concorda: “Esse é um filme sobre a nossa realidade. Quando falamos sobre mudança de patamar, é importante lembrar que isso deve ser feito respeitando as características do País, nossas histórias e personagens”.

Contada de uma forma bastante calcada nos thrillers internacionais, o resultado começa a aparecer: Lusa Silvestre e Mikael Albuquerque levaram o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cinema Brasileiro em Los Angeles.

Para Silvestre, isso confirma que toda a equipe estava certa em ser ambiciosa. “É um roteiro de ação vertiginosa, tecnicamente complicado de escrever, com uma estrutura inédita no País. Queremos provar que dá para fazer filmes assim aqui — e parece que estamos conseguindo”, diz o roteirista, que já escreveu 18 filmes. “A porteira está aberta para outras iniciativas igualmente ambiciosas; somos criativos e, quando estamos amparados por uma estrutura à altura, a gente entrega”.

DNA do Crime: cenas grandiosas e explosões situadas na Tríplice Fronteira (Crédito:Netflix © 2023)

Conteúdo universal

Criada por Heitor Dhalia e Leonardo Levis, e inspirada em crimes reais, DNA do Crime segue um grupo de agentes federais durante a investigação de um roubo de banco na tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina.

A produção é do estúdio nacional Paranoid Pictures, em associação com a Netflix. Estrelam a série Maeve Jinkings e Rômulo Braga, ambos excelentes em seus papéis, formando a dupla de policiais que persegue a quadrilha.

“Fiquei impressionada com o tamanho do projeto e com a quantidade de câmeras. O fato de ser exibida na Netflix faz com que ela se comunique com muita gente, traz essa enorme dimensão”, diz Maeve. “O gênero policial é popular no mundo inteiro. Esse é um conteúdo universal e, ao mesmo tempo, muito brasileiro.”

Para Braga, o clima histórico era sentido: “Foram muitas cenas grandiosas, perseguições, efeitos especiais. Todo dia era uma aventura, tudo muito intenso. Havia no ar a sensação de que estávamos fazendo uma coisa incrível.”