O Banco do Brasil e a escravidão

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José Vicente: "Banco do Brasil não está sozinho nessa e o resultado final da ação poderá colaborar para conhecer em profundidade seu passado inglório" (Crédito: Divulgação)

Por José Vicente

A Ação Civil Pública que o Ministério Público Federal impetrou contra o Banco do Brasil para apurar sua condução e responsabilidade nas operações de financiamento, suporte e estímulo ao desenvolvimento do mercado escravista, seja pelo ineditismo, seja pela oportunidade, pode constituir num marco histórico que permitir  ao Brasil e aos brasileiros conhecer os meandros e as particularidades da economia da indústria da escravidão.

Quais e quantas foram as instituições públicas e privadas que atuaram de forma deliberada na comercialização de compra e venda dos corpos de homens e mulheres negras ? Quem e quantos foram os que também organizaram, fomentaram, financiaram e logicamente, lucraram com os juros dos empréstimos para viabilizar os equipamentos, logística e infraestrutura das viagens transatlânticas do tráfico negreiro? E, o Estado quanto lucrou com os impostos, as taxas e emolumentos da época?

Os negros, o País e todos os demais brasileiros têm o direito e precisam conhecer a fundo a história verdadeira daqueles que se abastaram com a escravidão e o grau de atuação e responsabilidade de cada uma dessas instituições. É indispensável, assim, que essas empresas e instituições sejam concitadas a explanar com todas as letras suas intervenções, responsabilidades e ações na estrutura dessa cadeia organizacional imoral e infame que alimentou e manteve em funcionamento a mercancia de pessoas humanas.

É preciso saber para o bem de nossa história o quanto que o Estado lucrou com os impostos, as taxas e emolumentos da época da escravatura no País

Além do mais, se as riquezas públicas e privadas do País foram retiradas da subtração do trabalho escravo e os benefícios e locupletação econômica de toda natureza foram alcançados com a participação direta e indireta dessas empresas e instituições no financiamento e na compra e venda dos corpos negros, torna-se inexorável, da mesma forma, apurar o grau de responsabilidade de ontem e de hoje e definir com clareza a justiça os meios e critérios de promover a devida e exigível reparação.

Se o racismo na letra da carta constitucional é um crime imprescritível e a escravidão é um crime contra a humanidade, que responsabilidade a comprovação formal dessa conduta pode ser definida e delineada? E o que e como fazer para reparar erros brutais do passado que produzem seus efeitos até os dias atuais? O Banco do Brasil não está sozinho nessa e o resultado final da ação poderá colaborar para conhecer em profundidade seu passado inglório e também ajudar a pavimentar uma nova história e uma nova verdade sobre as profundezas e as fortunas da escravidão do Brasil.