Não à privatização de serviço essencial

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Felipe Machado: "A ideia de privatizar a Sabesp me dá calafrios" (Crédito: Divulgação)

Por Felipe Machado

Sugestão de lei: “O próximo governante que culpar as mudanças climáticas por algum problema será afastado do cargo imediatamente”. Ignorar os cientistas que alertam para o aquecimento global há décadas e jogar a responsabilidade na natureza é prova de incompetência — ou de má fé dolosa, mesmo. Graças à negligência da Prefeitura e à desfaçatez do governo do Estado, a falta de energia em São Paulo após as chuvas do início de novembro teve um único lado positivo: mostrou que privatizar um setor essencial é abandonar a população à própria sorte.

A sociedade brasileira guarda uma lembrança positiva da privatização da telefonia. Em um País onde as telecomunicações eram pré-históricas e uma linha telefônica era tratada como investimento, tivemos um processo que, mesmo com problemas, transformou de maneira radical todo o setor — para melhor. Não é um sistema perfeito, mas foi um belo passo à frente.

Ao contrário do que os neoliberais tentam vender desde então, porém, a privatização não é remédio para tudo. Pelo contrário, aliás. A pandemia nos mostrou que, em tempos de crise, ficamos reféns das empresas privadas. Só que isso não pode acontecer com áreas essenciais. Imagina ficar cinco dias sem àgua, como ficamos sem luz. Energia, correios, segurança pública e saneamento são áreas estragégicas. Apesar do discurso “pró-modernização”, sabemos como funciona a privatização à brasileira: um governante se alia a um grupo para aprovar a venda de alguma estatal lucrativa — ninguém quer comprar as falidas, que surpresa — alegando que o serviço vai melhorar e o preço cairá. Entram bilhões no caixa, que nunca se sabe direito para onde vão. Daí o novo proprietário investe em “gestão”: demite milhares de funcionários para ter mais lucro. Se tiver de descumprir obrigações contratuais, problema dos usuários. Se for cobrado pela agência reguladora ou Ministério Público, coloca um exército de advogados e leva a briga para o Supremo, adiando ao máximo a decisão. Enquanto isso, o serviço piora, o povo sofre… e os liberais procuram outro para culpar.

A pandemia nos mostrou que, em tempos de crise, ficamos reféns das empresas privadas. Imagina ficar cinco dias sem água, como ficamos sem luz

O Brasil tem excesso de estatais? Claro que sim. Já devíamos ter nos livrado de muitas delas? Concordo plenamente. Mas a ideia de privatizar a Sabesp me dá calafrios. Espero que o MP impeça esse absurdo, ou seremos reféns, mais uma vez. Depois de ficar sem luz, ficaremos sem água? Em tempos de mudanças climáticas, o mais importante é pensar no futuro.