Guerra de imagens e narrativas

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Rosane Borges: "Ao que tudo indica, a ONU perdeu o time até para emitir parecer" (Crédito: Divulgação)

Por Rosane Borges

Das guerras que parecem ser para sempre, a carnificina na Faixa de Gaza sofre de uma barbárie de dupla face que coloca em risco a humanidade inteira: a morte real de tantas pessoas e a morte simbólica pela linguagem — esta última protagonizada pela imprensa, em particular, e pela mídia, em geral. As notícias e imagens que nos chegam não deixam sombra de dúvida quanto ao caráter exorbitante da reação de Israel, pois trata-se de uma guerra em escala absurda, da ordem da astrofísica, que revela a face do terror em sua mais profunda crueza. Combater duramente o Hamas é tarefa para a qual qualquer pessoa que subscreve o pacto civilizatório não se opõe.

Combater duramente o Hamas é tarefa para a qual qualquer pessoa que subscreve o pacto civilizatório não se opõe

Enquanto escrevo este artigo, fico sabendo que três semanas após o início da guerra entre Israel e Hamas, palestinos de Gaza invadiram depósitos das Nações Unidas em busca de comida e itens básicos, segundo a organização. Diretor da agência para refugiados, Thomas White afirmou que os saques são um sinal preocupante de que a “ordem civil está começando a colapsar”.

Sinal preocupante, Thomas White? É “verdade este bilete (sic)”? Ao que tudo indica, a ONU perdeu o time até para emitir parecer. Enquanto isso, na sala da injustiça… vivemos mergulhados na banalização das imagens que atravessam os dramas das pessoas como cortina fumaça; imagens que se prestam a um espetáculo barato, por vezes, travestido de jornalismo; imagens que entram na lógica do algoritmo; imagens que guerreiam umas com as outras em busca de likes e engajamento. Uma guerra paralela que sanciona a “guerra oficial” e diz muito de qual lado está boa parte dos sistemas que conferem visibilidade ao que está acontecendo desde o (re)início da guerra Israel X Palestina.

Tudo isso tem como fundamento o racismo em que, segundo Nurit Peled-Elhanan, professora da Universidade Hebraica de Jerusalém, “tudo está relacionado às pessoas que são vistas como sem valor. Neste caso, são os palestinos (…). O que é chamado de mundo ocidental iluminado é governado pelo racismo. E, no racismo, alguns grupos de pessoas são considerados como ervas daninhas ruins. Ninguém se importa com quem são.” Na guerra das imagens que nos chegam eles são apenas pano de fundo para nosso deleite de consumidor desse espetáculo visual.

No entanto, há que se lembrar: é a guerra de sempre, portanto, é o racismo, estúpido!