Comportamento

Papa beatifica mártires da Guerra Civil Espanhola

Vaticano homenageia vinte religiosos mortos durante a Guerra Civil Espanhola e os eleva à condição de bem-aventurados

Crédito: Vanessa Gómez

Cerimônia de beatificação de mártires da Guerra Civil Espanhola (Crédito: Vanessa Gómez)

Por Alan Rodrigues

A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) foi um conflito armado que envolveu as mais diversas tendências políticas e militares do País e do mundo à época. Foi nessa batalha que potências totalitárias, como a Alemanha nazista, de Hitler, e a União Soviética, de Stalin, mostraram ao mundo seus respectivos aliados ideológicos. A guerra terminou em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, com a derrota dos republicanos e a vitória dos nacionalistas liderados pelo general Francisco Franco, aliado ao fascismo e ao nazismo, que permaneceu no poder até 1975, ano de sua morte. Quase 100 anos após a guerra e meio século da queda de Franco, os efeitos continuam ecoando.

Estudiosos do conflito afirmam que a crueldade de ambos os lados foi fator onipresente.

• No campo da esquerda, comunistas e anarquistas aproveitaram o ambiente da luta para destruir tudo o que fazia referência à monarquia e à tradição católica.
• Do lado dos nacionalistas, também houve todo tipo de barbárie e atrocidades, vitimando milhares de republicanos. Só que a Igreja Católica ainda não esqueceu seus mortos, considerados mártires pelo Vaticano.

No dia 18 de novembro, sob a benção do Papa Francisco, a Igreja decidiu reverenciá-los na catedral de Sevilha, maior templo católico da Espanha. Numa cerimônia especial, o cardeal Marcello Semeraro, prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, beatificou o sacerdote Manuel González-Serna Rodríguez e outros 19 religiosos que morreram durante o conflito.

“As perseguições não são uma realidade do passado, porque, ainda hoje, também as sofremos, de forma cruel, como tantos mártires contemporâneos, como de maneira mais sutil, por meio de calúnias e falsidades”, disse Francisco em sua homilia.

A Igreja Católica estima que seis mil padres, freiras e monges, além de 12 bispos, morreram no conflito. “O mártir, no final das contas, não é simplesmente alguém que sofre perseguições, mas também alguém que, como Jesus na cruz, é capaz de dizer: ‘Pai, perdoa’”, afirmou o cardeal.

“Vivemos o Evangelho, em nossos dias, apesar das tantas ambições de poder e interesses mundanos. Nossa sociedade é alienada e envolvida em uma trama política, midiática, econômica, cultural e até religiosa, que impede o autêntico desenvolvimento humano e social. Por isso, sigamos o exemplo dos nossos mártires, com esperança e amor. Tenhamos confiança, apesar das nossas fragilidades. Deus concede a sua força aos mais frágeis e indefesos, sobretudo, a força do martírio”, concluiu.

Os 20 novos mártires vão se juntar aos outros 498 que foram beatificados em 2007 por perseguição religiosa, ocorrida também na Espanha durante a Guerra Civil. Agora, são todos bem-aventurados.