Cultura

Como a Comic Con brasileira se tornou o paraíso dos nerds na Terra

A CCXP comemora, em São Paulo, uma década como o maior encontro de fãs de cinema, games e quadrinhos do mundo. Receberá 280 mil pessoas, 45 atrações internacionais e mais de 500 artistas nacionais. Em 2024, os brasileiros farão a festa no México

Crédito: Amanda Melo

É por isso que Hollywood está de olho na Comic Con brasileira: público gigante, entusiasta, fanático por redes sociais (Crédito: Amanda Melo)

Por Felipe Machado

Em março de 1970, um grupo de fãs de histórias em quadrinhos liderado pelo roteirista Shel Dorf organizou em San Diego, na Califórnia, um encontro para discutir seus personagens favoritos, trocar e vender gibis. Foi um sucesso: compareceram 300 pessoas e a turma se animou para realizar uma nova convenção semelhante no ano seguinte. Nascia ali o embrião da Comic Con, feira que se espalhou pelo mundo e que há muito tempo não está mais restrita aos fãs de quadrinhos, mas a todo o universo do entretenimento.

A Comic Con chegou ao Brasil em 2014 por meio do site Omelete, primeiro grande portal voltado à cultura geek no País. Nasceu gigante: no primeiro ano já recebeu quase 100 mil pessoas ao longo dos seus quatro dias, exibiu estandes de 80 empresas e promoveu performances dos atores norte-americanos Jason Momoa, da série Game of Thrones, e Sean Austin, dos filmes Goonies e O Senhor dos Anéis, entre outros.

Além de surpreender o mercado pelo público expressivo, a festa ficou famosa pela presença dos cosplays, fantasias usadas pelos fãs para homenagear seus maiores ídolos. A indústria tomou aquilo como um sinal de que o Brasil tinha enorme potencial para esse tipo de ação.

O diretor norte-americano Zack Snyder, que vem ao Brasil para lançar em primeira mão o filme ‘Rebel Moon — A Menina do Fogo’: fã-clubes se organizam e lotam os corredores da convenção para ver de perto as celebridades internacionais (Crédito:Divulgação)

Desde então, o crescimento foi absurdo. Na segunda edição, o público chegou a 130 mil pessoas, igualando o recorde do evento original, em San Diego.

Em 2016, a CCXP brasileira passou a ser a maior do mundo, com 180 mil convites vendidos. A repercussão foi tão grande que a organização teve de criar uma versão itinerante no Nordeste, que reuniu mais de 50 mil participantes no Recife, em Pernambuco.

Com a pandemia, os encontros de 2020 e 2021 aconteceram apenas no ambiente online, mas em 2022 o retorno foi avassalador: em quatro dias, 280 mil pessoas participaram da convenção, mesmo público esperado para esse ano no evento que acontece de 30 de novembro a 3 de dezembro, no pavilhão São Paulo Expo.

Em 2024, a CCXP brasileira fará a festa no exterior, de 3 a 5 de maio, na Cidade do México. Será batizada de CCXP-MX.

(Divulgação)

O público não é expressivo apenas em números. No Brasil estão os maiores fã-clubes e o maior engajamento nas redes sociais, o que é muito valorizado atualmente pelos estúdios.

Isso leva Hollywood a investir pesado não apenas em grandes estandes, repletos de tecnologia e experiências interativas, mas também no convite a astros de cinema que podem alavancar as audiências de suas produções.

A Warner Bros, por exemplo, montará o maior espaço temático da história da CCXP. Será dedicado às séries A Casa do Dragão e The Big Bang Theory, além de Barbie, a maior bilheteria do ano no País. O lançamento de novas versões de games como Mortal Kombat e Hogwart’s Legacy também deve fazer a alegria dos fãs.

A AppleTV+, que participa pela primeira vez, trouxe comitiva de peso para lançar a série Monarch – Legado de Monstros — são 25 pessoas, incluindo o ator Kurt Russell.

Já a Netflix optou por trazer Zack Snyder, diretor de Liga da Justiça e Batman vs. Superman. Ele participará de bate-papos e mostrará o filme Rebel Moon: A Menina do Fogo. Snyder não estará sozinho, mas com todo o elenco. Será a primeira sessão mundial do longa — ele ainda não foi exibido nem em Hollywood, o que só comprova o prestígio da CCXP brasileira.

• Atrações nacionais também estarão no cardápio: a apresentadora Xuxa vai comemorar seus 60 anos no evento, em um dos painéis mais disputados pelo público. Assim como os nerds, os baixinhos cresceram — e estão cada vez mais poderosos.

Entrevista com Roberto Fabri, VP de Conteúdos da CCXP
“O Brasil é um mercado atrativo pelo engajamento nas redes sociais”

Como a versão brasileira da Comic Con que nasceu na Califórnia acabou se tornando maior que a original?
Somos o maior evento do gênero no mundo porque combinamos um público fanático com uma produção focada na experiência. Enquanto os outros põem de pé um simples show, nós oferecemos o “Rock in Rio”.

Como é o processo para garantir a presença de tantas artistas famosos, nacionais e internacionais?
Tivemos sorte porque a greve de atores e roteiristas de Hollywood acabou. Os estúdios voltaram a investir na divulgação dos projetos e o Brasil é uma prioridade. O brasileiro ama redes sociais e esse engajamento é essencial para o sucesso de um filme.

Roberto Fabri, VP de Conteúdos da CCXP: público fanático e produção focada na experiência (Crédito:Divulgação)

Xuxa pertence a esse universo?
Sim, ela é um dos maiores ícones pop da história e precursora de uma revolução geracional.

Pensam na expansão internacional?
Teremos CCXP-MX, na Cidade do México, em maio de 2024. A ideia é estar mais próximo dos grandes lançamentos do verão nos EUA.