Brasil

Esvaziado, PSDB vê seus quadros migrando para a órbita de Lula

Única governadora do Nordeste cujo partido não está na base governista, Raquel Lyra (PSDB) flerta com o PSD de Kassab, legenda que tem três ministérios e acolheu a maioria esmagadora dos prefeitos paulistas que abandonaram o tucanato

Crédito: Ricardo Stuckert

Raquel Lyra: aproximação com o presidente Lula em busca de investimentos para o seu estado (Crédito: Ricardo Stuckert)

Por Gabriela Rölke

O PSDB, que por quase três décadas foi um dos principais partidos políticos do País, tendo antagonizado com o PT em todas as eleições presidenciais realizadas entre 1998 e 2014, segue a passos largos rumo à irrelevância no cenário político brasileiro. O mais recente avanço nesse sentido tem relação com a movimentação da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, que deve deixar o tucanato em breve rumo ao PSD de Gilberto Kassab. Mais do que resultar no enfraquecimento do PSDB, a guinada de Raquel Lyra fortalece o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já que o futuro partido da governadora pernambucana integra a base do governo no Congresso e, na Esplanada dos Ministérios, está à frente das pastas da Pesca e Aquicultura, das Minas e Energia e, ainda, da Agricultura, Agropecuária e Abastecimento.

Raquel é hoje a única governadora do Nordeste cujo partido não está na base de apoio do petista. São aliados do Palácio do Planalto, compondo uma espécie de “cinturão vermelho” na região, os governadores:
• Paulo Dantas (MDB), das Alagoas;
• Jerônimo Rodrigues (PT), Bahia;
• Elmano de Freitas (PT), do Ceará;
• Carlos Brandão (PSB), Maranhão;
• João Azevêdo (PSB), da Paraíba;
• Rafael Fonteles (PT), do Piauí;
• Fátima Bezerra (PT), Rio Grande do Norte;
• e Fábio Mitidieri (PSD), em Sergipe.

Nas eleições do ano passado, a governadora, que ficou neutra na disputa pela Presidência da República, derrotou a candidata apoiada por Lula no segundo turno, Marília Arraes (Solidariedade).

“Temos a sorte de ter o nosso embaixador no Palácio do Planalto, como presidente da República.”
Raquel Lyra (PSDB), governadora de Pernambuco, sobre o conterrâneo Lula

Até recentemente, evitava citar o nome do presidente inclusive quando o estado comandado por ela era agraciado por alguma obra ou iniciativa do governo federal. Mas em meio às dificuldades que vem enfrentando junto à Assembleia Legislativa de Pernambuco, onde sofre sucessivas derrotas, tem se apoiado cada vez mais no governo federal. Viaja rotineiramente a Brasília em busca de investimentos e recursos, e passou a elogiar o petista, que é pernambucano de Garanhuns.

“Temos a sorte de ter o nosso embaixador no Palácio do Planalto, como presidente da República”, discursou ao lado de ministros lulistas durante o lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no estado, no início do mês. Um dos grandes entusiastas de sua filiação ao PSD é o ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula, que preside o partido em Pernambuco.

Presidente do PSDB no estado, Sebastião Madeira integra governo de aliado de Dino (Crédito:Divulgação)

Rumo à esquerda

No Maranhão, o presidente estadual do PSDB, Sebastião Madeira, é secretário da Casa Civil do governador Carlos Brandão (PSB), aliado do ministro Flávio Dino, homem de Lula na pasta da Justiça. Brandão era vice de Dino, que renunciou ao governo em abril de 2022 para se candidatar ao Senado.

Em 2026, Madeira provavelmente apoiará o nome indicado pelo grupo político de Brandão, que, se não for do PT, poderá ser de um partido aliado do governo. Ou seja, os tucanos devem sustentar o PT no estado.

Outra demonstração evidente da perda de musculatura política do PSDB é o fato de que em São Paulo, onde a sigla até recentemente era hegemônica, apenas 45 prefeitos seguem na legenda, sendo que, nos seus tempos áureos, chegou a comandar mais de 300 Prefeituras, mas a maioria esmagadora aderiu ao PSD de Kassab, que passou a ter 345 prefeitos.

Em meio à debandada tucana, Marconi Perillo deve ser o próximo presidente nacional do PSDB (Crédito:Marcos Oliveira)

Na presidência nacional do PSDB, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, assiste imóvel ao esvaziamento do partido e à debandada de lideranças tucanas especialmente rumo à base do governo Lula, no que é o pior momento do partido desde a sua fundação, em 1988.

Leite vem sendo questionado na Justiça e internamente por lideranças do tucanato paulista depois que insistiu na própria candidatura à presidência da República pelo PSDB no ano passado, mesmo depois de perder as prévias para João Doria, o que contribuiu para a derrocada da legenda.

Pode deixar o seu comando no final do mês, quando o partido realiza sua convenção nacional. Ao que tudo indica, será substituído por Marconi Perillo, ex-governador de Goiás, ligado ao grupo do deputado federal Aécio Neves, que indiretamente possui possibilidades de dar as cartas no PSDB.

Um destino melancólico para um partido que já comandou o País com Fernando Henrique Cardoso e que rivalizou com o PT em momentos cruciais da história política brasileira.