Conflito de gerações

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Mentor Neto: "Enquanto outros velhos como eu teriam desprezo pelos meninos, eu tenho outro sentimento. Profunda inveja. Sim. Admito." (Crédito: Divulgação)

Por Mentor Neto

Sua geração, o ano em que você nasceu, tem nome, dizem os especialistas.

Não apenas tem nome, como também imputa um certo comportamento àqueles nascidos no mesmo período.

Tipo um horóscopo, só que criado por psicólogos e marqueteiros.

Já aviso que não concordo com essas generalizações. Não posso acreditar que o ano que o sujeito nasceu, ou a posição de Marte no espaço naquele dia, tenham alguma influência no comportamento do infeliz para o resto da vida.

Mas vá lá. Para quem acredita, vou resumir:

Se você nasceu até 1964, é considerado um Baby Boomer. Até 1979, um Geração X, 1985, um Xenial, se for até 1994, um Millennial, a partir de 2012, um Geração Z e se nasceu de 2013 para cá, um Geração Alpha.

Como nasci no final de 1964, decidi que serei um Geração X, que é para não parecer tão velho.

Uma geração ensina a outra. Esse é o problema

Mas como essas gerações se comportam?

Numa simplificação extrema, podemos dizer que os Baby Boomers são marcados pela estabilidade e a tradição, os Gen X pela independência e adaptabilidade, os Xenials pela flexibilidade, Millennials pela colaboratividade e tecnologia, Gen Z pela diversidade, inovação e autenticidade e os Gen Alpha…bem, esses ainda têm algum tempo pela frente para mostrar a que vieram.

Ao contrário de certos Gen X amigos, não cultivo o hábito de usar a geração do dito cujo para criticá-lo.

É fácil ouvir de gente da minha idade coisas como:

— Esses Millennials não sabem o que é bom. No meu tempo não tinha frescura não. Eu virava à noite trabalhando. Agora, quando arrumam emprego só querem saber de qualidade de vida. Ah, faça-me o favor!

— Olha, tô por aqui desses Gen Z. Não se pode falar mais nada que vem um Gen Z desses nos chamar de homofóbico, racista, machista. Até gordofóbico inventaram.

Acho estranho esse tipo de crítica.

Afinal, nenhuma dessas gerações inventou seus comportamentos e sim aprenderam esses valores das gerações anteriores, ou seja, de velhotes como eu e talvez você, leitor.

Se Millennials prezam por qualidade de vida, é porque nós, os Gen X ensinamos que a vida não pode ser só trabalho.

Se os Gen Z estão pondo fim aos preconceitos, é porque nós entendemos que a sociedade evoluiu mal e algo precisava mudar.

Sim meus queridos jovens. Não nos olhem com desprezo.

Vocês são o que ensinamos (ouvem-se palmas na plateia).

Mas apesar desse admirável mundo novo, tem coisas que tenho certa dificuldade ecompreender.

A primeira é essa cultura de celebrização. Difícil entender como uma moça, que rebola os quadris em vídeos de 30 segundos, tem mais de um milhão de seguidores.

Outra coisa esquisita é a cultura do cancelamento. Quando foi que decidimos fazer justiça com os próprios celulares? A tal ponto que tem gente que prefere ser preso do que ser cancelado.

Mas nada, nada do que essas novas gerações inventaram me irrita mais do que a facilidade com que os desgraçados ganham dinheiro.

Estou vendo no TikTok dois meninos de uns 20 anos.

Os dois dão dicas de como investir.

Para exemplificar, aplicam R$ 1.000.000 num fundo de renda fixa, como se fossem trocados.

Mostram dia a dia o quanto lucram, o quanto é descontado de IOF e imposto de renda.

Sem perceber, passo 3 minutos assistindo ao vídeo.

De lá, procuro outros vídeos.

Quando desperto de volta ao mundo real, me dou conta de que gastei duas horas do meu dia assistindo aos ensinamentos de dois Gen Z.

E o pior. Percebo que aprendi muito.

Enquanto outros velhos como eu teriam desprezo pelos meninos, eu tenho outro sentimento.

Profunda inveja. Sim. Admito.

Fomos nós que ensinamos essa geração a se preocupar com suas economias.

Mas, infelizmente, esquecemos de aprender nossa própria lição.