Coluna

A força do ressentido

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Rachel Sheherazade: "Em 'Crepúsculo dos Ídolos', o filósofo Friedrich Nietzche escreveu: “Da escola de guerra da vida. — O que não me mata me fortalece” (Crédito: Divulgação)

Por Rachel Sheherazade

Era uma questão de tempo, a retomada da guerra israel-palestina, conflito secular que tem marcado com sangue a história desses povos.

A disputa pelo território no Oriente Médio remonta a tempos bíblicos, quando a região era coabitada por filisteus, árabes, persas e hebreus.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a criação do Estado de Israel, o povo palestino tem lutado pelo reconhecimento do seu próprio Estado.

Sem o mesmo lobby político e apoio financeiro, todas as tentativas palestinas acabaram frustradas, gerando tensão, revoltas e guerras.

Nessa luta discrepante de pedras contra mísseis, palestinos sempre estiveram em desvantagem

Além da primazia do discurso ideológico no mundo, Israel goza de superioridade militar graças ao apoio do seu principal parceiro, os Estados Unidos.

Israel é o país que mais recebe recursos financeiros dos americanos, e tornou-se o 15º exército mais caro do mundo, com um investimento de US$ 23,45 bilhões em 2022.

Além disso, estima-se que o país tenha um poderio atômico considerável, com até 200 ogivas nucleares.

Nessa luta discrepante de pedras contra mísseis, palestinos sempre estiveram em desvantagem. Ao longo das décadas perderam muitos territórios e acabaram encurralados na estreita faixa de Gaza, onde floresceram perigosos movimentos extremistas.

O Hamas, célula terrorista que controla a região desde 2007, foi uma das consequências desse conflito étnico-territorial.

O grupo surgiu em 1987, primeiramente como uma entidade religiosa de assistência social, mas com o crescente colonialismo de Israel avançando sobre populações palestinas, o Hamas acabou se convertendo em uma entidade paramilitar de resistência política que usa o terrorismo como arma. O Hamas representa a radicalização da luta palestina e o fim da diplomacia entre os dois povos, já que o grupo rejeita a existência do Estado de Israel e luta por seu total aniquilamento.

Em Crepúsculo dos Ídolos, o filósofo Friedrich Nietzche escreveu: “Da escola de guerra da vida. — O que não me mata me fortalece.”

Sendo assim, quanto mais violentas forem as investidas contra um povo ou uma nação, maior será sua força de reação. Os ataques israelenses à população civil palestina não geram só mortos e feridos. Entre os sobreviventes estão milhares de órfãos. Crianças e adolescentes vítimas do conflito são também testemunhas do caos e da violência.

O trauma será sua companhia, o ódio, sua força. Sem terra, sem lar, sem família, certamente serão abraçados pelo radicalismo. E então, serão eles  os futuros recrutados para essa guerra sem fim, cujo maior combustível é o ressentimento.