Comportamento

“Ser filho do Faustão é privilégio maior que a responsabilidade”, diz João Silva

Crédito: Silvia Zamboni

João Silva: “Morava fora e voltei com um convite do meu pai: `Vamos fazer um programa para famílias pai e filho juntos?” (Crédito: Silvia Zamboni)

Por Luiz Cesar Pimentel

O reconhecimento público surgiu como um furacão na vida de João Silva, filho do meio do apresentador Fausto Silva – tem os irmãos Lara (25) e Rodrigo (15); ele tem 19 anos. João morava na Suíça, onde estudava, quando recebeu uma ligação do pai convidando-o a formar uma dupla para a atração Faustão na Band, que estreou em janeiro de 2022. Um ano e meio depois, o programa encerrou-se junto com os problemas cardíacos do protagonista. A família entrou em turbulento processo da necessidade de transplante de coração de Fausto, que foi bem-sucedido, enquanto João se dividia com o convite que recebeu da emissora para comandar uma atração própria.

Ele aceitou as duas propostas televisivas que teve e diz conduzir a situação com tranquilidade, até que pare de ser conhecido como filho do Faustão e torne-se referência como símbolo do Programa do João (no ar pela Band nas noites de sábado), que, não por acaso, remete à estréia televisiva do pai, o extinto Perdidos na Noite.

Você entra em voo solo em 2023 trazendo de volta um formato de gravar em teatro, um clássico da TV, que foi popularizado pelo seu pai com o Perdidos na Noite. Foi proposital essa construção?
Na verdade, não foi pensado exatamente no Perdidos na Noite. Óbvio que a gente teve como referência. Alguns programas marcaram gerações e o Perdidos marcou uma de jovens – o H [Luciano Huck] marcou outra, e o Pânico [na TV]. O Programa do João segue uma linha jovem, mas em tempos modernos. Então, acredito que ele mire outra linha, entendendo quem é o público que está na televisão hoje. Gosto muito de estarmos gravando no teatro.

João Silva: “Tive todas as oportunidades de estudo, de conhecer gente como o Ronaldo” (Crédito:Renato Pizzutto)

Com referência ao Perdidos na Noite e à trajetória do seu pai na televisão, quanto você diria que tem de influência dele na sua carreira?
Ah, 90%.

Os outros 10% são relativos a quê?
90% das coisas que ele fala, eu escuto, né? Óbvio que tem 10% que vamos acabar discordando, mas ter um professor desse em casa é um privilégio. Como é que você não vai se influenciar em relação a isso?

Compreensível, porque se pegar a lista dos grandes apresentadores da TV brasileira, terá o Silvio Santos, o Gugu e o Fausto Silva. Existe esse privilégio mas também vem junto uma responsabilidade grande com a missão de levar adiante o trabalho. Como é que você lida com esses dois lados: tamanhos privilégio e responsabilidade?
A responsabilidade vai existir sempre, independente de quem você seja filho, de onde você venha, porque, querendo ou não, um filho que assume uma padaria do pai, em um bairro, se os negócios vão mal, as pessoas começam a falar. A televisão só tem mais exposição em relação a isso. Mas é uma história nova, eu acho que o privilégio é muito maior do que a responsabilidade.

Ao formatar o programa, você pode dizer quais elementos eram imprescindíveis, que você sentia que eram os seus principais pontos como comunicador e aquilo que você queria apresentar ao público?
A construção vai indo de sábado a sábado. Mas o que quis começar de maneira diferente do meu pai era me posicionar, pois é difícil para os diretores trabalharem muito tempo com ele e vir essa mudança. É novidade para todo mundo. Cada vez mais me dão liberdade de poder falar o que eu quero. O fato de eu gravar as externas do programa e ser gravado no palco tem muito a ver com o que eu queria, assim como acontecer no teatro, ter banda própria, foram coisas que eu falei no processo de criação.

Sendo um apresentador que já nasceu com internet, como você pensa a estratégia de mesclar elementos orgânicos, como banda, gravar ao vivo, com o digital?
Hoje em dia não tem como fazer um programa só na televisão. Óbvio que a televisão é um canhão, então ela dá força para o conteúdo digital, mas falo muito isso: milhões assistiram a um corte de um minuto na internet, outras tantas só assistiram na televisão, algumas viram o programa inteiro, outras assistiram uma parte, e são todas consumidoras do produto, então acabamos indo ao mesmo ponto quando falamos em digital e televisão. E vamos produzir não só para televisão e replicar na internet, mas produzir para a internet.

Como você nasceu em ambiente bastante artístico, as primeiras memórias da sua vida tem relação com televisão ou com outras coisas?
É engraçado você perguntar isso, até porque meu pai sempre foi muito presente em casa. Tive a sorte de ele gravar somente aos domingos, então no fim de semana era difícil estar com ele, mas durante a semana nós o tínhamos em casa. Eu lembro de muito pequeno estar brincando no Projac, tenho essa memória forte de ir visitar os cenários das novelas, isso é uma coisa que está guardado na minha cabeça, então com certeza fez parte da minha primeira infância, do zero aos sete anos.

Você estudou fora e ao voltar teve experiência de trabalhar em rádio colegial. Pode contar sua trajetória antes de chegar à TV?
Foi isso mesmo. Quando fui estudar no Objetivo, o colégio ofereceu diversas oportunidades. Tinha equipe de robótica, de esportes, e uma diretora falou: ‘João você não quer experimentar a rádio?’ Comecei a gravar, a apresentar o Festival Fico, que é um evento de rock super importante e eu gravava as reportagens. Depois fui morar fora e voltei com um convite do meu pai: ‘Ô, João, a gente vai fazer um programa na Band e é um programa de família para as famílias. Vamos fazer pai e filho juntos?’. Então foi bem louca a entrada na televisão, não esperava que seria dessa forma. Foi uma surpresa, porque estava morando fora, ele me ligou e falei: ‘Vamos’.

Com os passos ao lado do seu pai e agora com o Programa do João você definiu que essa é a sua carreira?
Comunicador sempre soube que seria, desde criancinha. Sempre quis trabalhar com televisão, mas já tive vontade de ser embaixador, por exemplo. Só que depois que comecei na televisão, a única coisa que pensei foi: ‘Não quero abandonar isso nunca mais’. Não tem outra opção de profissão, é essa. E estou muito feliz fazendo isso.

Você tem dois irmãos, uma que já está na trajetória artística, que é a Lara [filha de casamento anterior], cantora, e o Rodrigo, que é mais novo. Você acha que é inevitável que todos sigam a trilha artística, pelo que você conhece da família e da sua criação?
Não sei. Cada um é de um jeito. Vou contar um negócio engraçado. Por mais que meu pai seja apresentador desde que a gente se conhece por gente, o jeito que ele era visto em casa não foi como artista. Óbvio que ele é artista, mas era um pai como qualquer outro. Ele não teve essa mentalidade de influenciar. Ele só quer que façamos o que quisermos fazer. Foi uma coincidência, pois eu queria ser apresentador desde pequeno. O meu irmão ainda não decidiu. A minha irmã decidiu ser cantora agora. Ela fazia artes plásticas. O Rodrigão, acho que vai ser o lutador, ou comediante. Ele é engraçado.

Você já virou a chave e passou a ser reconhecido como o João da TV? Ou ainda te reconhecem nas ruas mais como o filho do Faustão?
Ainda tem muito mais gente que me conhece como o filho do Faustão, mas cada vez mais pessoas se referem ao programa. É engraçado, nem esperava isso, mas tem mais gente me chamando de João. É um processo. Acho que também a ideia do nome ser Programa do João traz esse sentido por trás. Parece bobo o nome, simples, mas tem a função de ser popular, que esteja lá sempre João, João, João.

João Silva: “Ainda tem muito mais gente que me conhece como filho do Faustão” (Crédito:Divulgação)

Para você, virou termômetro de reconhecimento?
Sim, pois com o Faustão na Band, por estar junto ao meu pai, era difícil imprimir o João. Agora está engraçado, começando a pegar mais.

Sobre a internação e a operação bem-sucedida do seu pai. Para você, que tem vivenciado tanta carga emocional, estreia na TV, passa a comandar um programa solo, de repente a família toda se vê em uma situação bastante delicada. Como foi passar por isso?
Nesse processo todo da fila do transplante, a gente fica com a cabeça muito louca, e o fato de eu estar construindo um programa novo me distraía também. Teve um fator muito importante, que foi a participação do meu pai, porque ele estava lá construindo junto comigo, dando pitacos, então preenchia a cabeça. Foi um processo difícil, mas todo mundo passa por alguma coisa. Não tem como comparar, medir, mas todo mundo passa por algo. É muito difícil ter um pai nessa situação, mas olhar hoje e saber que o transplante é uma coisa muito delicada, mas quando dá certo, realmente muda a sua vida, é um alívio. Eu sabia que o transplante seria uma definição. Isso me tranquilizou muito, porque às vezes eu vejo quando a pessoa está em tratamento de câncer, por exemplo. Ela melhora, aquela alegria toda, depois é uma tristeza porque piorou de novo. Então esse foi o meu alívio em relação à cirurgia, porque eu sabia quão delicada era mas também que é definitiva. Isso foi muito importante para nossas cabeças no processo.

Mesmo nos momentos mais delicados o seu pai participava da construção do projeto, das suas decisões? Vocês conseguiam ter esses momentos?
100%. Na hora de ir pra cirurgia, ele foi cobrando: ‘Ô, João, como é que está tal coisa?’. Esse espírito está encarnado nele de manhã até de noite.

Você é novo e assumiu bastante responsabilidade cedo, por decisões profissionais, questões de família e isso reflete na vida privada. Você é amigo e foi padrinho do Ronaldo Fenômeno, manteve relacionamento longo com a Schynaider Moura, que tem três filhos e é mais velha que você. Como enxerga essa maturidade precoce?
Não uso a palavra maturidade, talvez eu seja um jovem de outros tempos. Maturidade, para mim, é um cara que tem 19, 20 anos e sai de casa porque o pai não mora mais lá, batia na mãe. É o cara que vai, trabalha e sustenta uma casa. No meu caso não é maturidade. É fácil falar, né? Tive todas as oportunidades de estudo, de conhecer todo mundo, como o Ronaldo. Sempre tive amigos mais velhos, desde muito novo, faz parte da minha personalidade.