Comportamento

Estariam os chefs de cozinha com os dias contados?

Empresa alemã inventa o robô cozinheiro: máquina consegue preparar três mil pratos por dia, trabalhar com dezenas de ingredientes e fazer até oito refeições diferentes ao mesmo tempo. Profissionais da gastronomia dizem que o trabalho vai muito além da automação

Crédito: Divulgação

Estação com geladeira, fogão, lava-louças e braços robóticos: 150 refeições por hora (Crédito: Divulgação)

Por Elba Kriss

A cozinha do futuro tem cozinheiros com braços robóticos e aparelhos que imitam as mãos humanas. Foram criados pela GoodBytz, empresa alemã que assumiu o protagonismo na automação gastronômica. Fundada em 2021, embarcou na missão de revolucionar o setor com soluções inovadoras. Anunciou o lançamento do “assistente de cozinha robótica”, que repercutiu em todo o mundo como o primeiro robô chef.

De longe, o equipamento parece um contêiner. O aparato tecnológico de aço inoxidável é munido de fogões que produzem três mil refeições por dia ­­— são oito diferentes ao mesmo tempo.

A estação trabalha com 72 ingredientes, graças a seus mecanismos de cocção e empratamento. A engenhoca vai além: até lava a louça. A novidade fez a companhia receber aporte de 12 milhões de euros em investimentos. A estimativa é de que esse tipo de automação movimente US$ 4,4 bilhões no mundo inteiro até 2028, segundo dados da Verified Market Research.

O auxiliar eletromecânico alemão foi criado para operar em grandes estabelecimentos — uma máquina que ocupa 15 m2 não é para qualquer cozinha.

“Ela é adequada para aeroportos ou refeitórios de empresas, onde muita gente se alimenta nos horários de pico”, afirma Hendrik Susemihl, um dos fundadores. “É uma boa solução para produzir rapidamente pratos saudáveis e saborosos”, conclui Oyster Bay, investidor da GoodBytz.

O equipamento segue receitas como:
• saladas,
• sopas,
• mingaus,
• macarrão,
• ovos mexidos,
• sobremesas simples, como panquecas.

Apesar de não cortar os alimentos — é preciso abastecer o sistema com tudo no tamanho e formato corretos — é útil pela agilidade e produtividade. A ideia do negócio é suprir a escassez de mão de obra, com a vantagem de reduzir os custos trabalhistas em 80%.


Franquias de algodão-doce automatizadas: robôs encantam os principais clientes, as crianças (Crédito:Marcio Ferreira)

A Nala Robotics é outra empresa que investe no segmento. Seu robô cozinheiro opera em lanchonetes especializadas em frango e batata frita. Batizado de Wingman, ele:
empana,
frita,
mistura e
 tempera.

Segundo Anderson H. Moreira, professor de Engenharia de Controle e Automação do Instituto Mauá de Tecnologia, o progresso na área é inevitável. “Há uma evolução nos serviços relacionados à área de alimentação. Podemos citar como um exemplo as primeiras máquinas que vendiam refrigerantes, as vending machines. Já podia ser classificado como automação de entregas alimentícias”, explica.

“Em viagem para o Japão, fui a restaurantes em que não se tem contato nenhum com pessoas: os pedidos são feitos por totens de autoatendimento. É uma otimização natural ter parte de fabricação também feita via automação.”

Terminais para acelerar a fila e para o preparo de alguns alimentos já são realidade no Brasil. Moreira cita a Cololido, equipamento que faz algodão-doce. Faz sucesso nos shoppings entre as crianças — a franquia está presente em 23 estados.

”O cliente escolhe entre trinta formatos e quatro sabores, e daí faz o pagamento. Todos amam ver o robô fazer o algodão-doce”, diz Tatiane Fernandes, responsável pelo marketing da franquia.

O entretenimento atrai, mas assim como GoodBytz e Nala Robotics, o benefício maior é o econômico, uma vez que traz redução dos custos e do trabalho de administração dos funcionários.

Chef André Mifano (Crédito:Divulgação)

“Se os robôs vêm apenas para fazer trabalhos repetitivos e mundanos, acho bom. Mas uma máquina jamais fará uma criação que um chef faria.”
André Mifano, chef

Sem alardes

Os dias de humanos na cozinha estariam contados? “O novo desperta curiosidade, mas junto vem o receio. A Revolução Industrial foi impactante em todos os sentidos, e não podemos negar o salto que proporcionou para a sociedade. Muito em breve teremos outra. Ainda assim, creio que inspiração, capacidade de combinar, sentir e se expressar não condizem com as máquinas”, afirma o chef Flavio Fukuda.

“Um robô jamais irá fazer uma criação que um chef faria. Ele não tem alma e isso é insubstituível. Cozinhar tem a ver com energia, que é transmutada quando você está ali”, defende o chef André Mifano.

Para ele, aperfeiçoar as etapas necessárias para finalizar uma receita, no entanto, é positivo: “Se os robôs vêm apenas para trabalhos repetitivos e mundanos, acho bom. Como picar cebola ou cortar tomates. Pode substituir uma centena de pessoas que fingem amar gastronomia e se esquecem que têm de fazer o mesmo movimento milhões de vezes para se aperfeiçoar”. Apesar de toda a modernidade, o paladar ainda é uma exclusividade humana.