Os negros nos ensinam

Por José Vicente

Foi com os negros e seus quilombos que o Brasil aprendeu, primeiramente praticou e vivenciou a construção de um espaço democrático, de igualdade e consciência do valor inegociável da dignidade da pessoa humana. Neles, negros, brancos, indígenas, homens, mulheres e crianças sempre conviveram numa relação de liberdade, fraternidade e respeito à diversidade. Foi os negros com sua força de trabalho e inventividade que ajudaram a transformar o Brasil de capitanias hereditárias a sexta maior econômica do mundo.

Por isso, ninguém coerente e de bom senso jamais entendeu porque no Estado em que os negros escravizados construíram sua riqueza com a força do seu trabalho e defenderam seus valores constitucionalistas com as baionetas perfiladas dos mais de dois mil soldados da Legião Negra, lutando até a morte no vale do Ribeira, não tivesse afinal realizado qualquer gesto de reconhecimento, gratidão e mesmo de reparação.

Ninguém entendeu porque sendo São Paulo o maior país negro da América do Sul, os negros permanecessem apagados e excluídos da sua historiografia, dos seus espaços sociais e do padrão da cultura e da estética. Por que afinal, a história, o pertencimento, e as contribuições culturais, politicas, econômicas, religiosas, científicas e artísticas dos negros continuavam diminuídas, excluídas e inferiorizadas. Porque, afinal, no estado das mil raças, a raça negra nunca houvera sido prestigiada e nunca tivera reconhecido seu valor.

O Feriado Estadual da Consciência Negra celebra o aniversário da morte do líder negro e herói nacional Zumbi dos Palmares

Para aquelas coisas que nem Floyd explica o melhor mesmo é vivenciar e principalmente celebrar. No estado em que o progressismo e os progressistas, seja lá o que for isso, governaram por quase quatro décadas, foi a direita, seja lá o que for isso também, que finalmente promoveu e realizou o maior gesto de reparação e valorização dos negros paulistas: a criação do Feriado Estadual da Consciência Negra, que celebra o aniversário da morte do líder negro e herói nacional Zumbi dos Palmares, sancionado pelo governador Tarcísio de Freitas, no dia 13 de setembro, a partir de um projeto de lei de um deputado petista.

Com a iniciativa, além da justa e merecida reparação, o Estado de São Paulo junta-se aos estados, capitais e quase dois mil municípios que da mesma maneira transformaram a data em feriado e, agora, do alto da sua liderança politica, econômica e de influência de poder passa a convocar e a provocar a discussão ao próprio País: se é bom para São Paulo e, portanto, é bom para o Brasil porque não temos um feriado nacional? Agora é com Lula, Tarcísio já fez a sua parte.