Comportamento

Garotas douradas: conheça a geração que enche o Brasil de medalhas

Brasileiras acumulam medalhas nos Jogos Pan-Americanos, mostrando que lugar de mulher é no topo do pódio. Ginastas, skatistas, boxeadoras, tenistas e judocas estão entre as que conquistaram lugar e favoritismo para as Olimpíadas de 2024

Crédito: Lionel Bonaventure

Rebeca Andrade, ginasta: ouros na trave e no salto sobre a mesa em sua estreia no Pan (Crédito: Lionel Bonaventure)

 Por Ana Mosquera

Ginástica artística, tênis, surfe, skate, boxe, judô, vôlei, handebol. Os Jogos Pan-Americanos de 2023, em Santiago, no Chile, ainda nem chegaram ao fim e o Brasil já comemora a volta para casa com uma coleção de medalhas de ouro. Rayssa Leal, Rebeca Andrade, Rafaela Silva, Laura Pigossi, Beatriz Ferreira. São muitos os nomes femininos ocupando o primeiro lugar do pódio, o que comprova que o esporte no Brasil ganha força nas mãos delas, feito inimaginável até um tempo atrás. Sem contar as de bronze e de prata. Apesar de não haver notícias da criação de esportes por mulheres, ao longo da História, sempre foram símbolo de resistência no que dizia respeito à execução da prática esportiva, ainda que podadas por restrições que iam do vestuário à idade.

Ao ouro: a dupla Duda e Ana Patrícia, do vôlei de praia, superou as canadenses em sua participação inaugural em Pan-Americanos (Crédito:Ezra Shaw)

“Hoje a sociedade pede outra postura e estamos moldados a ela. Temos a Jade Barbosa, de 32 anos, convivendo com a Júlia Soares, de 18. É uma troca de conhecimento, uma soma de experiências, e todas estão caminhando na mesma direção”, diz Adriana Alves, coordenadora técnica da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG).

Ex-treinadora de Daiane dos Santos, ela comenta sobre a ginasta ter sido um divisor de águas na trajetória feminina do esporte. Para além dos resultados surpreendentes, ela trouxe a simplicidade e a emoção brasileiras para dentro da modalidade considerada rígida por muitos anos. “Até chegar um ponto em que se discutia um duplo twist carpado e não mais o futebol.”

A ginástica artística passou a atrair olhares além do nicho e colecionar novos nomes para representar o Brasil lá fora, como Flávia Saraiva, Lorrane dos Santos, Jade Barbosa e Rebeca Andrade, que acaba de levar duas medalhas de ouro no Pan.

Francisco Porath, treinador da seleção brasileira de Ginástica Artística Feminina, relembra a evolução, paralela à sua própria trajetória. “Graças a resultados inéditos é que conseguimos mais estrutura, aparelhos e conhecimento. Uma geração começou a se formar a partir das meninas anteriores. É uma satisfação muito grande olhar para o passado, quando eu era estagiário e ficava depois do horário assistindo ao treino da seleção, com a Daiane, e hoje estar presente nas competições mais importantes.”

Tatiana Weston-Webb, surfista: competição mais desafiadora da atleta foi na costa chilena (Crédito:Buda Mendes)

Novo brilho

As “garotas douradas” também são responsáveis por “quebrar jejuns” no Pan Americano, como se diz por aí. No judô, Alexia Nascimento conquistou o primeiro ouro em 36 anos. O último havia sido de Monica Angelucci, nas competições de Indianápolis (EUA), em 1987.

Outras mulheres que trazem o ouro direto do tatame de Santiago são Larissa Pimenta, Samanta Soares e a veterana Rafaela Silva.

Parece brincadeira, mas no tênis a história se repete: Laura Pigossi levou a primeira medalha dourada do Brasil desde a vitória de Gisele Miró, nos mesmos jogos do final da década de 1980, o que garantiu sua vaga nas Olimpíadas de Paris. Na mesma competição, a paulistana ainda trouxe o primeiro lugar para o Brasil em duplas, ao lado de Luisa Stefani, com quem dividiu o pioneirismo do esporte no pódio olímpico, em Tóquio 2020.

Outra dupla que brilhou na capital chilena foi a formada por Duda Lisboa e Ana Patrícia Ramos, do vôlei de praia.

No boxe, a presença feminina mostrou sua força e teve recorde dourado: Beatriz Ferreira, Bárbara Santos, Carol Almeida e Jucielen Romeu saíram com o prêmio no peito e as presenças na capital francesa garantidas.

Foi na última onda que a surfista Tatiana Weston-Webb abraçou de vez o título dourado, 35º do Brasil na competição, depois de enfrentar o mar agitado de Viña Del Mar, cidade turística localizada a noroeste da capital chilena.

Em equipe, as meninas do handebol desbancaram a Argentina, rival do País em outros carnavais ao redor da bola. O handebol feminino não só vai a Paris como acumula o heptacampeonato consecutivo nos jogos do continente.

Alexia Nascimento, judoca: medalha dourada da atleta “quebrou jejum” de 36 anos do esporte (Crédito:Buda Mendes)

Garotas douradas do tênis, boxe, surfe, judô, handebol, skate e ginástica artística saem do Pan confirmadas para os Jogos Olímpicos na França, que serão realizados de 26 de julho a 11 de agosto de 2024. Com as vagas conquistadas, o momento é de breve descanso até retornarem aos treinos.

É o caso da seleção brasileira de Ginástica Artística Feminina, que deve voltar ao centro de treinamento em dezembro, segundo o treinador Francisco Porath. “Esperamos voltar com todas as meninas saudáveis e descansadas para podermos fazer de novo um bom planejamento, para que, agora classificadas para as Olimpíadas, possamos mirar nas finais por equipe e individuais. Nosso objetivo é ter todas em alta performance em julho, em Paris.”

A união de gerações e talentos citada por Adriana Alves, no caso, é fundamental. Com 30 anos de experiência, ela comenta que a expectativa sempre existe, estimulada pela qualidade do material humano que o Brasil possui. A excelência, contudo, aumenta os desafios.

“A ginástica, como qualquer outra modalidade, tem que dar um passo por vez. A preparação tem que ser detalhista, o patamar é alto e é preciso um equilíbrio grande no treinamento. Temos o objetivo do pódio, mas chegar ao topo é mais fácil do que se manter lá. Não somos o Brasil de um tempo atrás. O mundo está com os olhos atentos sobre nós.”

Assim como as veteranas foram responsáveis por inspirar os nomes que são destaque nos dias de hoje, a evolução do esporte também é relevante para o público leigo. “Nem todo mundo sabe quantos pontos ou dedicação há em um mortal, mas todos conseguem distinguir o que é bonito. Além de ser uma modalidade interessante para qualquer menina, porque exercita habilidades motoras e proporciona qualidade de vida.” Mais um ponto para o esporte feminino.

Laura Pigossi, tenista: ouro individual e em dupla (acima). Beatriz Ferreira, boxeadora: da garagem ao primeiro lugar (abaixo) (Crédito:Raul Arboleda)
(Raul Arboleda)

Rayssa vai à França

Classificada para as Olimpíadas de Paris 2024, a jovem Rayssa Leal acaba de voltar para casa com uma medalha de ouro dos Jogos Pan-Americanos de Santiago, no Chile. Primeira em muitos aspectos ­— foi a mais nova medalhista olímpica do Brasil, levando a prata em Tóquio, no Japão —, inaugurou a série de ouros brasileiros no país vizinho.

Aos 15 anos, acumula premiações: conquistou o vice-campeonato mundial e o primeiro lugar na modalidade street no Brasil, em 2019, ganhou o Prêmio Laureus, o chamado Oscar do Esporte, em 2020, entre outros feitos importantes. A “Fadinha do Skate” desembarcou em Paris no começo do mês para um desfile da Louis Vuitton, em uma das mais importantes semanas de moda do mundo.

(Alexandre Schneider)