Comportamento

Crise do azeite: saiba fugir de produtos falsificados

O preço do óleo de oliva dobra em Portugal, a Espanha, principal produtora da Europa, sofre com a seca nas principais áreas de cultivo de azeitonas. No Brasil, o consumidor já sente no bolso as consequências dessa situação

Crédito: Ahmet Abbasi

Onda de calor e forte seca prejudicam a Espanha: safras reduzidas pela metade (Crédito: Ahmet Abbasi)

Por Elba Kriss

RESUMO

• Preços recordes na Europa são consequência da mudança climática
• Restaurantes já racionam azeite
• Brasil é o segundo maior importador do Planeta
• Produção brasileira do óleo também foi afetada
• Expectativas para futuro próximo não são das melhores

O preço do azeite disparou na Europa em uma crise que já chegou às gôndolas dos supermercados do Brasil. Em junho, a média era de R$ 20 por um vidro de 500 ml. No último fim de semana, a empresária paulistana Cristina Mamani assustou-se ao deparar com valores acima dos R$ 40 para marcas portuguesas ou espanholas. “É um absurdo”, resume. A opção é aguardar por ofertas melhores.

Mas isso não ocorrerá tão cedo. O País é o segundo maior importador de azeite do planeta, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. E essa alteração do preço tem origem nas principais potências em olivicultura.

Em Portugal, por exemplo, o óleo de oliva saltou de R$ 24 para R$ 47 desde o começo de 2022. Na Espanha, o quilo do azeite igualmente disparou, passando de R$ 20 para R$ 43 em um ano.

“A crise na Europa com preços recordes é consequência das mudanças climáticas que o mundo enfrenta. Com a seca dos últimos anos, a produção diminuiu drasticamente, o que força o aumento”, explica a olivicultora Vanessa Bianco, especialista em gestão de negócios pela Universidade de São Paulo.

94 %
aumento do valor do azeite em Portugal

Esse é o resumo da situação confirmada por Pedro Lopes, presidente da Associação de Olivicultores e Lagares de Portugal. “Algumas fortes e sucessivas geadas que aconteceram no final do inverno e início da primavera condicionaram o potencial produtivo, impedindo que o ano seja melhor”, lamentou ele.

Até 2024, a situação pode evoluir positivamente, mas “não será extraordionária”. “Estimamos que a fabricação nacional possa se situar na ordem das 140 mil toneladas de azeite, em face das 126 mil toneladas da campanha anterior”, prossegue o executivo.

55 %
queda na produção de azeite na Espanha

Em terras vizinhas, as previsões seguem o mesmo ritmo desanimador. Luis Planas, ministro da Agricultura da Espanha, anunciou uma “ligeira baixa” nos preços para as próximas semanas.

Com 2,75 milhões de hectares de oliveiras, o país é o maior produtor mundial de azeite — domina 45% da produção. A safra de 2021/2022 teve média de 1,5 milhão de toneladas. A de 2022/2023, no entanto, caiu para 680 mil. Tudo depende do impacto do clima. Em maio o bispo Sebastián Chico, da cidade de Jaén, organizou uma procissão que reuniu milhares de pessoas. “Senhor, mandai-nos chuva”, rogaram olivicultores. “Sem água não tem azeitona, e sem ela a província sofre.”

Vanessa Bianco, olivicultora (Crédito:Mariane Ribeiro)

“Os preços recordes são consequência das mudanças climáticas que o mundo enfrenta. Com
a seca dos últimos anos, a produção diminuiu drasticamente”
Vanessa Bianco, olivicultora

A colheita prejudicada repercutiu na Europa com racionamento do alimento em restaurantes. A venda de produtos adulterados aumentou. A mercadoria falsificada tem óleo de baixa qualidade com corante, e engana quem compra pela internet. E uma questão de segurança alarmante.

Autoridades enfrentam o cenário de furto em supermercados e até de toneladas de cargas de azeitonas. Em março, a polícia espanhola prendeu 16 pessoas responsáveis por um esquema que resultou no desvio de 17,5 toneladas de azeitonas de fazendeiros de Madrid.

Em investigação que teve início em janeiro, agentes encontraram depósitos clandestinos com mais de seis mil litros de óleo. “Furtos como esse assustam por mostrar o tamanho do problema que nossos colegas olivicultores europeus estão passando”, lamenta Vanessa, que no Brasil integra a diretoria da Associação dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira e Sudeste (Assoolive).

Contra fraudes

Segundo a entidade, o cultivo de azeitonas para a produção de azeite ainda está em fase de crescimento no País. Aos poucos, a versão nacional ganha espaço em distribuidoras e prateleiras.

No Sudeste, por exemplo, há aproximadamente 200 produtores. Em Minas Gerais, em torno de 150.

Por aqui, a mudança climática também afetou a safra. “Em 2022, produzimos 120 mil litros. Este ano, tivemos queda na ordem de 50% em função do clima adverso”, lamenta Moacir Batista do Nascimento Filho, presidente da Assoolive.

Mesmo assim, o óleo vegetal brasileiro ganha visibilidade. “A diferença de preço em comparação com o importado passa a ser menor”, aponta Vanessa. No entanto, é preciso que o consumidor desconfie dos muito baratos. “Produzir um azeite de qualidade é difícil e custoso”, defende ela.

Importado ou nacional, se atente a alguns pontos relevantes na hora de comprar: data de fabricação e envase, pois quanto mais novo melhor.

O frasco também deve ser escuro para evitar a incidência de luz. “É possível perceber uma fraude pelo paladar. O extravirgem tem o aroma frutado, picância e amargor. Ele não pode ter cheiro de vinagre ou de coisas fermentadas. Se identificar algumas dessas características, o produto não deve ser ingerido”, alerta Vanessa.