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A vida intensa de Leonard Bernstein chega ao cinema

'Maestro', estrelado e dirigido por Bradley Cooper, narra a brilhante trajetória do regente Leonard Bernstein, criador do musical 'West Side Story' e primeiro norte-americano a ingressar no panteão da música clássica

Crédito: Jason McDonald/Netflix © 2023.

Leonard Bernstein (Bradley Cooper) e Felicia Montealegre (Carey Mulligan, abaixo): acordo do casal permitia casos extraconjugais (Crédito: Jason McDonald/Netflix © 2023.)

Por Felipe Machado

Durante cinco anos, os músicos da Filarmônica de Nova York, acostumados a conviver com estrelas dos palcos e divas da ópera, tiveram de se habituar a outro tipo de celebridade. O astro Bradley Cooper, famoso por filmes como Sniper Americano e Se Beber Não Case, passou o período frequentando de forma obsessiva o ambiente da orquestra, seus ensaios e bastidores. Ele se preparava para interpretar o maior papel de sua vida: o de Leonard Bernstein (1918-1990), primeiro norte-americano a ingressar no panteão dos grandes regentes da história.

A preparação contou ainda com a ajuda dos condutores das sinfônicas de Los Angeles, Gustavo Dudamel, e de Nova York, Jaap van Zweden. O canadense Yannick Nézet-Séguin, diretor musical do Metropolitan Opera e da Orquestra da Filadélfia, trabalhou como consultor de regência.

O resultado de todas essa dedicação pode ser visto em Maestro, longa produzido por Martin Scorsese e Steven Spielberg. Ele, inclusive, estava de olho na direção, mas o envolvimento emocional de Cooper o convenceu de que o ator era o nome certo para levar à frente esse projeto.

É a segunda vez que Bradley Cooper se arrisca a ocupar o posto de diretor. Na primeira oportunidade, Nasce uma Estrela, onde também foi protagonista ao lado de Lady Gaga, Cooper foi recompensado com oito indicações ao Oscar, incluindo Melhor Ator e Melhor Filme.

Ao final acabou levando apenas o prêmio de Melhor Canção, mas demonstrou que o seu talento ia muito além do papel diante das câmeras.

Dessa vez, há a convicção de que o trabalho é um daqueles filmes que tem tudo para conquistar uma bela coleção de estatuetas da Academia no ano que vem.

(Jason McDonald/Netflix © 2023)

Vida pessoal

Embora aborde a trajetória de um músico consagrado, o enredo é centrado no casamento de Bernstein com Felicia Montealegre, interpretada por Carey Mulligan.

Claro que é difícil narrar uma vida intensa como a de Bernstein em apenas duas horas, e que opções por certos episódios são feitas em nome da fluidez da obra. Mas o foco na vida pessoal acaba decepcionando quem deseja conhecer melhor o contexto em que foi criada, por exemplo, a obra-prima West Side Story (Amor, Sublime Amor), musical que revolucionou a indústria do entretenimento ao integrar a cultura erudita à popular — característica que Bernstein perseguiu e promoveu ao longo de toda a sua carreira.

O produtor Steven Spielberg e o ator/diretor Bradley Cooper: imersão nos bastidores das orquestras (Crédito:Divulgação)

O aspecto mais curioso dessa cinebiografia é a forma sutil com que expõe a bissexualidade do protagonista. Entre ele e a esposa havia um certo entendimento de que as aventuras extraconjugais eram permitidas, desde que não chegassem aos ouvidos dos filhos Nina Maria, Jamie e Alexander. No final da vida, essa timidez parece ter sido abandonada.

A origem judaica do maestro também foi responsável por uma certa polêmica. Tudo porque Bradley Cooper, galã conhecido pelo rosto perfeito, optou por usar uma prótese de nariz para ficar mais parecido com o homenageado.

Choveram críticas da comunidade judaica, que comparou o uso do recurso à prática dos “black faces”, atores brancos que pintavam os rostos para interpretar personagens negros. A questão foi minimizada quando a família do músico se posicionou ao lado do ator.

“É verdade que Leonard Bernstein tinha um nariz bonito e grande”, escreveram seus filhos, em um comunicado à imprensa. “Bradley escolheu usar maquiagem para ampliar sua semelhança e estamos perfeitamente bem com isso.”

Quem assistir no cinema à emocionante sequência em que o ator rege a Sinfonia No 2 de Gustav Mahler, Ressureição, terá uma única certeza: a obsessão de Bradley Cooper valeu a pena.

Festival Varilux: dois maestros em cena

Maestro(s), de Bruno Chiche: pai e filho disputam a mesma posição (Crédito:Divulgação)

A música erudita é tema de outra produção que chega ao Brasil em novembro, um dos destaques do Festival Varilux de Cinema Francês, que acontece de 9 a 22 de novembro em mais de 60 cidades brasileiras. Maestro(s), do diretor Bruno Chiche, é uma comédia inteligente com enredo simples e boas atuações.

Ao contrário do filme de Bradley Cooper, é baseada em uma trama de ficção. Tem como inspiração livre o filme Footnote, do israelense Joseph Cedar. Após crescer à sombra do pai, François, um renomado maestro internacional, Denis Dumar decide seguir a mesma carreira. Depois de alcançar o sucesso, conquista o prêmio Les Victories de la Musique Classique.

No dia seguinte, seu pai recebe um telefonema do Teatro Scala, de Milão, com um convite para assumir a direção musical da casa. A família vibra com a notícia, mas logo descobre a confusão: o convite havia sido feito ao pai por engano, quando o objetivo era contratar o filho.

Apesar de previsível, o bom trabalho dos atores Yvan Attal (Denis) e Pierre Arditi (François) transformam o longa em uma divertida e sensível sessão.