Comportamento

Revolução da estilista Coco Chanel chega a Londres

Primeira exposição sobre estilista, que faria 140 anos em 2023, acontece no Reino Unido. Entre fotos, cartas, objetos pessoais e roupas, como o tailleur imortalizado pela francesa, mostra recria a trajetória da mulher que simplificou o luxo no começo do século XX

Crédito:  Justin Tallis

Conforto e funcionalidade: com linhas retas e cintura solta, conjunto revolucionou vestuário feminino (Crédito: Justin Tallis)

Por Ana Mosquera

Sessenta anos de carreira, única estilista entre os 100 nomes do século XX pela revista TIME, criadora de ícones da moda mundial e feminina. A francesa Gabrielle “Coco” Chanel (1883-1971) recebe sua primeira exposição no Reino Unido. Depois da estreia no Palais Galliera, em Paris, 200 itens que recontam sua trajetória agora ocupam o tradicional Museu Victoria & Albert, em Londres.

Ela sucede as mostras de Christian Dior e Alexander McQueen, e faz parte da programação de moda do local. São fotos, cartazes, cartas, acessórios e objetos pessoais reunidos ao lado dos documentos que melhor confirmam a inovação da personalidade: suas roupas e acessórios, como os pioneiros chapéus. “É o momento em que a mulher moderna está abrindo caminhos na sociedade europeia”, diz Laura Wie de Lucca, especialista em história da moda e professora de cursos livres da FAAP, que planejou a viagem para o exterior em data próxima à abertura da exibição.

(Divulgação)

“Chanel foi uma influenciadora, pois sabia vestir suas criações, divulgando-as para a sociedade francesa.”
Laura Wie de Lucca, professora da FAAP

Foram muitas as revoluções de Chanel para as figuras femininas:
• uso do jérsei e do tricô,
• os vestidos retos e o tailleur,
• o preto fora do luto,
• o corte de cabelo curto, à la garçon.

“Chanel viu a importância de conceber um look soltinho para que elas jogassem tênis e golfe, e caminhassem pelo calçadão do balneário de Deauville, onde a blusa marinière foi lançada”, fala Laura, sobre um dos lançamentos da artista que chegou a ser cantora de cabaré: a blusa de listras brancas e azuis, inspirada nos marinheiros da Normandia. Foi na mesma região que ela abriu sua primeira boutique, aos 30 anos de idade.

Influencer do passado

De origem humilde e órfã de mãe, aprendeu a costurar no internato. Apesar do luxo associado à grife avaliada em R$75 bilhões, a estilista francesa foi responsável por simplificar a vestimenta feminina, inspirada em suas próprias necessidades.

“Eu inventei o traje esportivo para mim mesma, porque eu praticava. Não saía porque precisava desenhar vestidos, desenhei-os justamente porque vivia, a vida do século”, dizia a designer.

O fato de desfilar pelas ruas as peças autorais a tornava uma influenciadora, ou it girl, à moda antiga. “Ela servia não só como criadora, mas como divulgadora das suas ideias, a partir de uma identidade imagética própria”, diz João Braga, professor de história da arte da Faculdade Santa Marcelina.

Do alto de sua discrição, Chanel transgrediu ao estabelecer códigos inesperados para o modo de vestir feminino à época. A simplicidade como chave para a sofisticação poderia até remeter a um tipo de quiet luxury do passado.

Afinal, a estilista teve seu auge no pós Guerra, momento de crise contra ostentação e em que as mulheres, muitas viúvas, precisavam conquistar a independência no mercado de trabalho.

O próprio vestido preto, ligado ao luto, vira símbolo de praticidade, elegância e conveniência. “O little black dress foi tão universal quanto transformador em seu apelo. Um verdadeiro hit”, acrescenta Laura, feliz ao visualizar na mostra as variedades originais do traje.

Marie-Hélène Arnaud, modelo, veste sapato bicolor, tailleur de tweed, bolsa à tiracolo, cabelo à la garçon e chapéu (Crédito:Divulgação)

Preservar a memória da moda em galerias e exposições itinerantes, além de ser fonte de pesquisa para estudantes, é uma forma de divulgação das marcas. “Uma das características da moda contemporânea é não só a releitura, como também o aspecto vintage. Isso tudo difunde a realidade estética de um período”, afirma Braga.

A exposição Gabrielle, The Fashion Manifesto vai até 24 de fevereiro de 2024 em museu na capital inglesa.


Um século: criado em parceria com o perfumista Ernest Beaux, o clássico pode custar mais de R$ 2000 (Crédito:Divulgação)