Comportamento

Brasil investe R$ 200 milhões em supercomputador contra desastres

Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação investe R$ 200 milhões em nova máquina para aprimorar previsão climática e alertar a população sobre possíveis calamidades

Crédito:  Fom Conradi

Santa Catarina: 46% das cidades afetadas pelas chuvas na última semana (Crédito: Fom Conradi)

Por Elba Kriss 

As catástrofes naturais que afligem o Brasil nos últimos tempos fizeram a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, anunciar investimento de R$ 200 milhões em um supercomputador para o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Assim, o centro poderá fazer melhores previsões de riscos.

Hoje o País depende do Tupã, um equipamento adquirido em 2010 e aprimorado com o passar dos anos. No entanto, está obsoleto em termos tecnológicos.

A máquina que está por chegar será, igualmente, um computador com alta capacidade de processamento de dados e memória. Só que mais moderno para os fins científicos em que serão ampliadas e atualizadas as aptidões do Inpe para previsão de tempo e clima, especialmente, sobre eventos extremos.

“O recurso anunciado pelo MCTI é sobre a modernização e expansão da capacidade de supercomputação do instituto, que beneficiará toda a meteorologia nacional e propiciará desenvolvimento, pesquisa e operação de um novo modelo de previsão numérica de tempo e clima”, explica Ivan Barbosa, da Coordenação de Infraestrutura de Dados e Supercomputação.

Será possível prever volume e local de chuva com maior precisão, por exemplo, para alertar a população sobre possíveis desastres.

Além do Tupã, o centro conta atualmente com o Egeon, um cluster – conjunto de aparelhos menores – de processamento de alto desempenho.

O tecnologista explica que Tupã e Egeon juntos têm performance de, aproximadamente, 500 teraflops – medida usada para estimar o desempenho de um processador. Flops é o termo de FLoating-point Operations Per Second, ou seja, operações de ponto flutuante por segundo. Acima dos teraflops, há o petaflops.

“A diferença da nova máquina é que ela terá, aproximadamente, dois petaflops. Então, estimamos que teremos capacidade de quatro a cinco vezes maior da que temos hoje”, calcula Barbosa.

“A importância dessas iniciativas está na preservação do maior número de vidas durante os eventos climáticos extremos.”
Luciana Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação

O investimento do MCTI tem recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e aguarda pormenores burocráticos para que seja aberta licitação pública internacional.

Quando, finalmente, existir um contrato e, por consequência, o maquinário, ele será instalado em Cachoeira Paulista, interior de São Paulo, no prédio do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Inpe.

O aparato será crucial para o atual trabalho do órgão, que lidera projeto de criação e implementação de novo modelo de previsão numérica, o Monan (Model for Ocean, Land and Atmospheric Prediction ou Modelo para Previsão dos Oceanos, Superfícies Continentais e Atmosfera, em livre tradução).

A meteorologista Izabelly Carvalho da Costa, da Divisão de Previsão de Tempo e Clima do instituto, explica que com a nova tecnologia será viável obter informações mais detalhadas do que as que são geradas hoje.

“As pessoas estão interessadas na parte de temperatura e precipitação [todas as formas de água, líquida ou sólida, que caem das nuvens alcançando o solo]. E, sim, conseguiremos prever melhor os eventos extremos”, diz. “Será possível prever onde se formará aquela célula precipitante ou convectiva e o horário mais preciso, se será uma célula isolada ou uma linha de instabilidade com várias outras. Com maior refinamento, conseguiremos precisão em termos do que e onde vai acontecer”, acrescenta.

Parece complicado, mas é simples: as previsões meteorológicas geradas pelo Monan, utilizando o supercomputador, podem diminuir o impacto de desastres, como os que afligiram o País nos últimos tempos. “A modernização do Inpe auxiliará na mitigação de tragédias naturais, uma vez que a precipitação é um dos principais deflagradores dos desastres naturais. Porém, é necessário que sistemas e processos de comunicação sejam também implantados”, acrescenta Izabelly.

Máquina atual do Inpe: será descontinuada após a chegada do novo supercomputador (Crédito: Lucas Lacaz Ruiz)

A exatidão de dados técnico-científicos que se espera com o gigante tecnológico será um aliado também ao Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Segundo o MCTI, a unidade trabalha para expandir seu sistema de monitoramento para alcançar 1.837 municípios brasileiros.

“A importância dessas iniciativas está na preservação do maior número de vidas durante os eventos climáticos extremos e na mitigação dos prejuízos”, considera a ministra Luciana Santos.

As catástrofes recentes, como as fortes chuvas no sul da Bahia, em Petrópolis, região do Rio de Janeiro, em São Sebastião, litoral de São Paulo, as enchentes no Rio Grande do Sul e a seca no Amazonas mostram que o governo federal deve agir diante da emergência climática. “É preciso ter agenda comum e somar esforços para enfrentar problemas complexos que estamos atravessando, não só no Brasil como no mundo”, finaliza a ministra.