Brasil

Eleições municipais vão dar novo fôlego à polarização Lula x Bolsonaro

A rivalidade entre polos opostos verificada no pleito presidencial deve se reproduzir nas disputas de 2024. Em São Paulo e Rio de Janeiro, capitais mais populosas do País, já começou a guerra entre candidatos apoiados por bolsonaristas e aliados de Lula

Crédito:  Aloisio Mauricio;Mauro Pimentel

Ricardo Nunes em São Paulo e Eduardo Paes no Rio: uma amostra da polarização que provavelmente se verá nas principais capitais (Crédito: Aloisio Mauricio;Mauro Pimentel)

Por Gabriela Rölke

As próximas eleições são em outubro do ano que vem e muita coisa ainda pode mudar, mas já é possível falar com certeza: será mantida a polarização entre o lulismo e o bolsonarismo verificada nas duas últimas disputas presidenciais, em 2018 e 2022. Aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-presidente Jair Bolsonaro devem se enfrentar na corrida pelas Prefeituras da maioria das capitais, embora não haja em vista nenhuma disputa direta entre PT e PL.

São Paulo e Rio de Janeiro, as duas capitais mais populosas do País, têm candidaturas em lados opostos no jogo nacional: em São Paulo, são pré-candidatos o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), apoiado pelo PT de Lula, e Ricardo Nunes (MDB), que em busca da reeleição se articula para ter em seu palanque o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro.

No Rio, Eduardo Paes deverá ser o pré-candidato da base do presidente, e Walter Braga Netto, que na eleição de 2022 foi vice de Bolsonaro, é o nome do PL para o pleito.

Ideologia em pauta

Na maior capital do País, que se acostumou, nas últimas décadas, a ver o PT e o PSDB no centro da arena se digladiando sobre projetos e políticas públicas para a cidade, o tom ideológico da rivalidade entre Boulos e Nunes lembra muito o que se viu na disputa presidencial do ano passado.

Aliados de Nunes tentam colar a Boulos, liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a pecha de “invasor de propriedade privada”. Além disso, na tentativa de associar o candidato do PSOL ao extremismo, seus opositores vêm tentando vinculá-lo ao Hamas, após a ofensiva do grupo terrorista ao Estado de Israel.

Associar o adversário ao radicalismo é também a estratégia dos aliados de Boulos, que trabalham para unir a imagem de Nunes ao extremismo bolsonarista. Os próprios seguidores do capitão, aliás, também não dão vida fácil a Nunes: cobram dele mais reciprocidade na relação — uma espécie de contrapartida, o que pode ser traduzido, inclusive, por cargos na administração.

O prefeito, entretanto, vive um dilema, já que sabe o custo político de assumir integralmente o bolsonarismo. O grupo reivindica o posto de vice na chapa, além de trabalhar com a expectativa de que Nunes dê a eles espaço no primeiro escalão da gestão municipal.

Ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, o advogado Fabio Wajngarten chegou a mandar uma indireta para Nunes nas redes sociais. “Ninguém, repito, ninguém se apropriará de votos bolsonaristas e deixará Bolsonaro distante”, escreveu. “A era dos gafanhotos acabou. Fica a dica”.

Em São Paulo: Guilherme Boulos (PSOL, acima), candidato da esquerda cujo vice será um petista, vai enfrentar o prefeito Ricardo Nunes (PMDB), que tenta a reeleição com o apoio dos bolsonaristas (Crédito:Marlene Bergamo)

De olho em 2026

Donos das maiores bancadas do Congresso, PL e PT estudam com cuidado as peças do tabuleiro eleitoral para que os movimentos rumo às Prefeituras não inviabilizem alianças futuras e garantam apoios também para as eleições de 2026.

O PL articula pré-candidaturas em 16 capitais — além de Braga Netto, no Rio, trabalha para viabilizar os deputados federais Nikolas Ferreira e André Fernandes, respectivamente para Belo Horizonte e Fortaleza.

No Nordeste, região tradicionalmente mais identificada com o lulismo, tem um nome bastante competitivo para a Prefeitura da alagoana Maceió, onde o prefeito João Henrique Caldas vai tentar a reeleição.

Pragmático, o partido presidido por Valdemar da Costa Neto apoiará em Porto Alegre a reeleição de Sebastião Melo (MDB), que deverá ter um nome do PL como vice.

No Rio de Janeiro: O prefeito Eduardo Paes (MDB), candidato da base de Lula, tenta a reeleição e deve ter como principal adversário Walter Braga Neto (PL), que foi vice da chapa de Bolsonaro em 2022 (Crédito:Antonio Molina)

O PT também cogita lançar candidatos em 16 capitais e tem nomes competitivos para o Executivo municipal de Natal, com a deputada federal Natália Bonavides; Teresina, com o deputado estadual Fábio Novo; Porto Alegre, com a deputada federal Maria do Rosário; e Vitória, com o ex-prefeito João Coser.

Embora tenha chegado à Presidência da República em 2022, o partido teve desempenho pífio nas eleições municipais de 2020, quando não conseguiu eleger candidatos em capitais.

O próximo pleito, portanto, é visto como uma oportunidade para que a sigla possa se reerguer como força política também na política municipal.

Em São Paulo, onde apoia o aliado Guilherme Boulos, o petista deve indicar o candidato a vice. Movimento semelhante também deve ocorrer no Rio, com Eduardo Paes, e em Recife, onde o candidato da base de Lula deve ser o deputado federal João Campos (PSB).

As articulações com Paes e Campos, no entanto, esbarram no fato de que os dois preferem alguém do seu círculo para o caso de se confirmarem suas candidaturas ao governo de seus estados em 2026.