A Semana

O Nobel, ainda bem, tornou-se ativista a favor da mulher no mercado de trabalho

Crédito: Josh Reynolds

Claudia Goldin: explicação da disparidade salarial entre mulheres e homens na mesma função (Crédito: Josh Reynolds)

Por Antonio Carlos Prado

A Real Academia Sueca de Ciências surpreendeu na semana passada ao anunciar que uma mulher é a ganhadora do Nobel de Economia de 2023. Decisão mais correta, impossível. Primeiro, porque desde 1901 essa é apenas a terceira vez que um homem não coloca no bolso o cheque de US$ 1 milhão dado pela Academia. Em segundo lugar, convenhamos, a julgar pela média do estado geral da economia global, o sexo masculino não tem sido lá muito brilhante. O nome da vencedora é Claudia Goldin, norte-americana de 77 anos, economista, PhD pela Universidade de Chicago e professora em Harvard. A tese por ela apresentada é de tirar o fôlego: análise de dois séculos da mulher no mercado de trabalho, explicando que a disparidade salarial em relação a homens que executam a mesma função teve origem (e ainda tem) na imposição social de que as jovens brilhem logo em suas profissões ou então optem pela maternidade. O Nobel, que se insere em um universo machista, ao reconhecer o mérito de Goldin faz um elogio à mulher em geral. Mais importante: o Nobel deixou de ser insípido; tornou-se ativista favorável à mulher no mercado de trabalho.

CULTURA
Filme resgata a inigualável música de Josef Myslivecek

O ator Vojech Dyk interpretando Myslivecek : o tempo voa em duas horas e meia (Crédito:Divulgação)

O filme Il Boemo (direção de Petr Václav) é uma obra-prima. Trata da vida do compositor erudito checo Josef Myslivecek (1737-1781) e o liberta de injusto esquecimento histórico. Ao retratar o conturbado destino de Myslivecek, Il Boemo traz sofrimento, mas também exibe de forma emocionante o seu encontro, quando adulto, com o ainda garoto Wolfgang Amadeus Mozart. Tocou-lhe o tema de um concerto que estava desenvolvendo e, para sua surpresa, Mozart o concluiu com surpreendente rapidez ao piano — e justamente como o compositor imaginara fazê-lo. Myslivecek passou fome, sofreu humilhações dos nobres que o contratavam como músico, foi infeliz com as mulheres pelas quais se apaixonou. A tragédia maior, no entanto, foi ter contraído sífilis na época em que tal doença era devastadora — com o rosto deformado, ele regia com máscara. O seu principal legado à música erudita é o de ter criado uma das mais sensíveis líricas como compositor, organista e violinista. O tempo de duração do filme (Vojech Dyk no papel principal) é de duas horas e meia. O tempo voa.

ELEIÇÕES
Argentinos, antes de votarem em Milei, lembrem-se do Brasil de Bolsonaro

Javier Milei: negacionismo em relação ao aquecimento global (Crédito:Tomas Cuesta)

Pode ser que os argentinos não tenham à sua frente um candidato ideal para eleger nas próximas eleições presidenciais — 22
de outubro é a data do primeiro turno e o segundo, caso se faça necessário, está marcado para 19 de novembro. Mas os argentinos podem, ao menos, não abrir as portas da Casa Rosada para o pior dos postulantes — pior para eles próprios, pior também para a América Latina, e desastroso ao mundo democrático em geral. Disputam a Presidência do país, com maiores chances, o ultraliberal Javier Milei e o peronista Sergio Massa. Classifica-se como pior candidatura, aqui, a de Milei, e não sem motivos. No momento atual em que o planeta derrete, ele exibe a sua vocação negacionista ao afirmar que os seres humanos não podem ser responsabilizados pelas alterações climáticas (porque elas, em sua opinião, são cíclicas) e assegura que não cumprirá os termos do Acordo de Paris que estabelecem cortes nas emissões mundiais de gases estufa até 2030. O discurso de Milei se coaduna com o discurso de um muito recente ex-presidente brasileiro: “(…) Nós não aderimos ao marxismo cultural, nós não aderimos à decadência (…)”. Para Milei, quem fala em aquecimento global é comunista. Essas estultices da extrema direita integraram o último debate entre candidatos na semana passada. Os argentinos, na hora de votar, devem se lembrar do sufoco brasileiro com o bolsonarismo.

Os números de pesquisa
Até a terça-feira 10, o ultradireitista Javier Milei liderava as pesquisas com 34% das intenções de voto. O peronista Sergio Massa estava em segundo lugar: 29%