Comportamento

Moda e esporte: dá jogo? Exposição mostra colaborações surpreendentes

Exposição na capital francesa abre a programação das Olimpíadas de 2024 abordando a estreita relação entre moda e esporte desde o século XVIII. Parcerias entre grifes, inserção nas ruas e liberdade feminina integram a trajetória da mostra

Crédito: Divulgação

Primavera-verão: conjunto criado por Karl Lagerfeld para a Chanel. Em 1991, modelo desfilou com prancha de surfe (Crédito: Divulgação)

Por Ana Mosquera

Já no rumo das próximas Olimpíadas e Paralimpíadas, que serão realizadas na França em 2024, a exposição Moda em Movimento: De um Pódio a Outro abre as portas no Palais Galliera, o Museu da Moda de Paris. A mostra que atravessará os Jogos Olímpicos, seguindo até fevereiro de 2025, aborda a conexão entre corpo, roupa e movimento, e a evolução paralela das duas áreas, moda e esporte, desde o século XVIII, quando as mulheres, no hipismo, ainda usavam espartilho e os homens pilotavam aviões vestindo pomposas casacas. São centenas de peças, entre roupas, acessórios, fotos, croquis, pôsteres e vídeos, que acompanham a trajetória das vestimentas esportivas ao longo dos séculos, assim como a sua influência na moda convencional.

Se certas grifes surgiram dentro do universo esportivo, como Lacoste, para o tênis, e Hermès, na equitação, outras entraram na onda da estética no final do século XX. Literalmente. A francesa Chanel, sob direção criativa do designer Karl Lagerfeld, levou o surfe às passarelas, em 1991, e a uma campanha publicitária estrelada por Gisele Bundchen, em 2015.

“O campo esportivo, misturado a signos das grandes marcas francesas, é lucrativo”, diz Antonio Slusarz, coordenador da Graduação em Design de Moda do Istituto Europeo di Design, de São Paulo.

Como a moda e as modalidades abraçadas por ela são símbolos de diferenciação social, é também a partir desse encontro que marcas de luxo passam a atingir novos grupos. “As pessoas adquirem a marca para fazer parte do universo e isso é cultural, porque envolve o bem-estar dos que almejam o estilo de vida”, fala Antonio Rabàdan, professor de design da ESPM.

Evolução: traje e leque feminino para a prática da equitação no século XVIII fazem parte do acervo (Crédito:Divulgação)

A mostra ainda ressalta o crescimento das colaborações entre marcas de luxo e esportivas a partir da década de 1990. “Saímos da questão de nicho e começamos a ver fusões”, lembra Slusarz.

São parcerias criativas, mas também comerciais, que não pretendem afetar o DNA da grife. “Quando a Nike está fazendo uma ‘collab’ com a Tiffany, o que se está querendo? Mostrar que algumas pessoas conseguem ter tempo para fazer esporte em um lugar restrito e ainda utilizar Tiffany. Eu restrinjo, mas gero desejo para quem está indo nas grandes lojas comprar itens da Nike”, acrescenta Rabàdan.

Alta-costura: vestido da Lacoste, com design de Freaky Debbie. Grife fundada em 1933, pelo tenista francês René Lacoste, leva esporte no DNA (Crédito:Divulgação)

Em busca de liberdade

Apesar da mística sobre a primeira camisa polo da Lacoste, cortada pelo tenista fundador da marca para melhorar a mobilidade, o real encontro do esporte com o conforto só aconteceu em décadas recentes. A partir de 1980, o avanço da indústria têxtil, somado às aulas de ginástica na televisão, à explosão cromática e à cultura do corpo musculoso, marcou a popularização da roupa esportiva.

O destaque dos profissionais da área foi outro fator que contribuiu para que o estilo fosse além do guarda-roupa dos praticantes. No começo dos anos 2000, o auge da carreira do tenista Gustavo Kuerten, o Guga, acompanhou a fama da “marca do crocodilo” no Brasil, como lembra Rabàdan. “Desenvolveu-se uma linha que não é a que o esportista usa. Ele é só o influenciador da marca.”

Ao abordar a influência da moda esportiva sobre as ruas, a exposição também define como essa união impulsionou a liberdade feminina: os maiôs de duas peças usados pelas nadadoras e as saias-calças das ciclistas são exemplos da evolução.

“Se no século XVIII o corpo feminino estava restrito por espartilhos, depois ele experimenta uma silhueta mais solta”, diz Slusarz. É a moda, junto ao esporte, mais uma vez moldando a sociedade.