Mente sã

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Rachel Sheherazade: "Quanto mais falamos sobre saúde mental, mais ajudamos a vencer o estigma" (Crédito: Divulgação)

Por Rachel Sheherazade

Em dez de outubro, comemora-se, em todo mundo, o Dia da Saúde Mental.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a quantidade de pessoas com transtornos mentais, especialmente ansiedade e depressão, tem aumentado nos últimos anos, principalmente depois da pandemia. O caos na saúde com a chegada da Covid, o medo da infecção e a imposição do isolamento social são alguns dos fatores que aumentaram exponencialmente o sofrimento mental.

Segundo a OMS, há cerca de um bilhão de pessoas vivendo com algum tipo de transtorno da mente.

Apesar dos diversos tratamentos disponíveis – medicamentosos e psicoterápicos –, a maior parte dos pacientes desconhece sua condição: não sabe, não procura ajuda e não se trata.

Muitas não querem ser vítimas de preconceitos e do estigma de “doente mental”, por vezes ainda pior que a própria condição de saúde.

Um dos exemplos mais emblemáticos da estigmatização que acompanha portadores de transtornos mentais foi o da histeria, hoje nomeada transtorno dissociativo.

Na gênese da Medicina, acreditava-se que o útero tinha a capacidade de se deslocar dentro do corpo e causar o sufocamento da paciente. O trata-mento para esse “mal” consistia na internação e até na retirada do órgão.

Séculos mais tarde, Sigmund Freud afirmou que a histeria era consequência de abuso sexual sofrido pela paciente na sua infância, reforçando o rótulo de que a “doença” seria uma condição exclusivamente feminina.

O estigma de que pessoas com transtornos mentais são problemáticas, perigosas ou mesmo incapazes contribui para isolá-las socialmente e afastá-las do diagnóstico e de um possível tratamento.

Mas, não é só isso: fazer vista grossa ao problema pode levar à morte. Cerca de 96,8% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais não tratados, como depressão e transtorno bipolar.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, existe aproximadamente um bilhão de pessoas vivendo com algum tipo de transtorno da mente

Estranha-me que a sociedade que enaltece corpos esculpidos em acade-mias é a mesma que esconde a visita ao psiquiatra. Como se cultuar o corpo fosse glória e cuidar da mente, humilhação.

Inaceitável, portanto, essa dicotomia quando a ciência já nos ensinou: não existe separação entre corpo e mente. Pois, mente sem saúde faz o corpo adoecer. E corpo doente também adoece a mente.

Quanto mais falamos sobre saúde mental, mais ajudamos a vencer o estigma. E quando o estigma se desfaz, o silêncio se quebra, o paciente se dá conta de que não está só, que há mais gente ao redor, sofrendo, talvez, dos mesmos males, buscando, também,  mesma cura.

Talvez por isso, em psicoterapia se diz que a cura vem do falar.