Lula faz o cheque; Congresso faz o L

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Ricardo Kertzman: "Arthur Lira, às vezes, para variar e criar algum suspense, ensaia um embate com Fernando Haddad e um muxoxo qualquer acerca de tributos, mas a verdade é que, no que importa, faz o L com gosto, ou melhor, com bilhões de reais garantidos no caixa" (Crédito: Divulgação)

Por Ricardo Kertzman

Com um ou outro revés de menor importância, o presidente Lula vai aos poucos conquistando relevantes vitórias no Congresso Nacional, sobretudo as relacionadas às pautas econômicas como a reforma tributária e o arcabouço fiscal.

Arthur Lira, às vezes, para variar e criar algum suspense, ensaia um embate com Fernando Haddad e um muxoxo qualquer acerca de tributos, mas a verdade é que, no que importa, faz o L com gosto, ou melhor, com bilhões de reais garantidos no caixa.

Lula vem batendo recordes sucessivos na liberação de verbas para as emendas parlamentares, outrora chamadas “secretas”, hoje, “pix”. O presidente tem a chave do cofre e conhece bem o caminho dos votos do centrão e companhia.

Um exemplo que salta aos olhos são os quase R$ 300 milhões, do Ministério da Saúde para Alagoas, estado do todo-poderoso presidente da Câmara dos Deputados. Lira conseguiu, desde junho, quase o dobro que o Rio de Janeiro.

Outro exemplo do poderio do Congresso e da subserviência de Lula é o anúncio da criação de mais dois ministérios, totalizando 39 pastas – um recorde –, apenas para acomodar os políticos e apaniguados do PP e Republicanos.

Como a conta não fecha, o governo federal, enquanto promete zerar o déficit fiscal em 2024, algo que ninguém acredita – nem mesmo a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet –, busca freneticamente fontes alternativas de receita para cobrir o rombo de mais de R$ 160 bilhões.

Sempre focado na arrecadação e jamais no corte de gastos e aumento de eficiência e caça ao desperdício e à corrupção, Lula conta com os deputados para avançar sobre o bolso dos “super ricos”, as disputas judiciais no âmbito do CARF e toda e qualquer alternativa de tributação.

Tudo o mais constante, teremos cada vez mais o presidente da República pendurado no presidente do Congresso, já que mais fácil fazer o cheque – com o dinheiro dos outros, claro – do que trabalhar por uma administração austera e eficiente.

Já do lado do Legislativo será sempre mais fácil fazer o L – ou arminha – com os bolsos cheios, já que ideologias políticas, religiosas e de costumes não resistem aos seis ou sete dígitos antes da vírgula, venham oficialmente ou por meio de maracutaias.

Na semana da Independência, se não temos mais um golpista aloprado em busca de uma ditadura para chamar de sua, temos, outra vez, um comprador de consciências, ou votos, a rebaixar a democracia a mero balcão de negócios a serviço dos mercadores do atraso, da miséria e do subdesenvolvimento eterno.