Cultura

Brasileiros voltam ao Carnegie Hall para celebrar lendário show da bossa nova

Seis décadas após o concerto histórico que apresentou a bossa nova ao mundo, brasileiros liderados por Seu Jorge e Daniel Jobim retornam ao mítico palco em Nova York

Crédito: Rita Franca

Seu Jorge: banda do artista será a base do grupo que se apresenta em 8 de outubro (Crédito: Rita Franca)

Por Felipe Machado

Chuvosa noite de 21 de novembro de 1962. Carnegie Hall, em Nova York. Os pioneiros da recém-criada bossa nova se apresentavam em um concerto histórico que marcaria oficialmente a internacionalização da música popular brasileira. A sinfonia dos violões e as harmonias vocais sedutoras, pontuadas pela suave percussão do samba, transformaram o evento em um capítulo especial na trajetória de artistas que logo se tornariam ícones, como Tom Jobim, Sérgio Mendes, Carlos Lyra e João Gilberto. Seis décadas depois, o mesmo palco está prestes a registrar outra ocasião memorável. Em 8 de outubro, uma nova geração de brasileiros se reunirá para celebrar o legado do gênero e apresentar caminhos para o futuro. Roberto Menescal, que participou do show original, estará presente.

Não faria sentido estabelecer uma comparação entre os elencos das duas noites, até porque os escalados para essa festa não estão restritos aos acordes e sussurros da bossa nova.

O novo time inclui o cantor e compositor Seu Jorge, que transita por diversos estilos; Daniel Jobim, neto de Tom Jobim e herdeiro do seu talento ao piano; Carlinhos Brown, mestre da percussão e compositor de inúmeros sucessos na vertente pop; e duas jovens cantoras, Carol Biazin, de 26 anos, e a britânica Celeste, de 29.

O repertório, no entanto, será parecido com o da apresentação de seis décadas atrás: clássicos como “Chega de Saudade”, “Corcovado”, “Garota de Ipanema” e “Wave” estão garantidos.

“É o Brasil no palco”

Segundo Daniel Jobim, o setlist ficou a cargo do produtor musical Max Viana, e será uma combinação do que foi apresentado em 1962 com o acréscimo de canções de Tom Jobim e de outros compositores que ficaram de fora do concerto original, como Marcos Valle.

“É um sonho. Aquele show projetou uma geração inteira no exterior. Me sinto honrado por tocar na mesma casa que recebeu meu avô e tantos artistas geniais. A ideia agora é elencar essa nova geração e demonstrar que há uma continuação”, afirma Jobim.

Segundo o empresário Fabio Almedia, da Join, produtora responsável pelo show, será gravado um álbum ao vivo.

Daniel Jobim: “A ideia é elencar essa nova geração e demonstrar que há uma continuação” (Crédito:Rita Franca)

Ao receber o convite do Itamaraty, quase uma missão diplomática oficial, Menescal reviveu a experiência de seis décadas atrás. “No início recusei, alegando que tinha uma pescaria marcada na mesma data”, lembra o artista. “O Tom veio em casa e disse que aquilo era maior que cada um de nós, era o Brasil no palco. Daí não teve jeito, eu tive que aceitar.”

Mas o violonista sofreu outro revés ao chegar em Nova York. Sergio Mendes, pianista com quem estava planejado para acompanhar, disse a ele que sua presença não seria mais necessária, porque ele tinha contratado uns jazzistas norte-americanos que conhecera por lá. “Para não deixar de me apresentar, me sugeriram que cantasse uma música sozinho. Eu nunca tinha cantado na vida. Me arrisquei e soltei a voz em ‘O Barquinho’. Minha estreia como cantor foi no palco Carnegie Hall”.

Banquinhos e violões

O Carnegie Hall já havia testemunhado inúmeros momentos memoráveis em sua história, mas o concerto de 1962 foi singular. A bossa nova já era conhecida de alguns músicos antenados, mas seria a primeira vez que o estilo enfrentaria o teste de uma plateia internacional — no caso, a exigente audiência do mais importante “concert hall” de Nova York.

Apesar da timidez inicial, os músicos mostraram que estavam prontos para conquistar o mundo. João Gilberto, com seu estilo inovador de tocar violão e seu sussurro vocal hipnotizante, era o protagonista.

Tom Jobim, o cérebro por trás do estilo, encantou a plateia com suas composições líricas e harmonias complexas.

Ao todo, 18 músicos subiram ao palco na ocasião, entre eles Sérgio Mendes, Roberto Menescal, Oscar Castro Neves, Agostinho dos Santos, Caetano Zama e Carmen Costa.

Recheada de estrelas, a plateia era um espetáculo à parte. Estavam presentes grandes nomes do jazz, como o cantor Tony Bennett e os trompetistas Miles Davis e Dizzy Gillespie.

O projeto nasceu de uma ideia do empresário Sidney Frey, fã do Brasil e dono da gravadora Audio Fidelity, que depois lançou o disco gravado ao vivo.

Pioneiros: espetáculo de 21 de novembro de 1962 mostrou o talento dos artistas do Brasil (Crédito:Divulgação)