Como a onda de calor vai afetar o seu bolso
Conta de luz vai pesar mais com ar-condicionado e preços de alimentos devem subir se as altas temperaturas persistirem nos próximos meses

Produção de cervejas é impulsionada pelo calor inesperado no inverno, inflação em queda, PIB maior e redução do desemprego (Crédito: Sérgio Figueirêdo)
Por Regina Pitoscia
Mais do que sentir na pele sensações térmicas exacerbadas e indisposição provocadas por temperaturas recordes que atingem o País, o calor extremo também impacta a economia. Aumento de consumo de energia e contas mais altas, inflação nos preços de alimentos, tudo afeta diretamente o bolso do brasileiro. Sem respeitar o inverno, a maior onda quente em 62 anos deve atravessar a primavera e se intensificar no verão.
Sob efeito do fenômeno climático El Niño, que aquece as águas do Pacífico, produz fortes chuvas na região Sul e leva os termômetros facilmente para a faixa dos 40 graus, o calor acentuado não chega a ser algo pontual ou isolado. “Estamos caminhando para um mundo mais quente mesmo, e os impactos afetarão a economia”, afirma o economista Walter de Vitto, sócio da Tendências Consultoria.
Diante da perspectiva de continuidade e aumento do calor, uma das primeiras preocupações é com o preço da energia. “Ainda não dá para falar de escassez de energia, mas dá para falar em contas mais altas pelo consumo maior para lidar com o calor mais intenso”, pondera o economista.
Para manter a temperatura, a geladeira vai precisar ligar mais vezes, o ar-condicionado será acionado por mais horas, com elevação das despesas. Segundo estudos da empresa de ar-condicionado Frigelar, o uso do aparelho pode elevar R$ 100 a conta mensal de luz.
Em agosto, houve aumento no consumo de energia de 3,1% em relação a mesmo mês de 2022 e de 3,5% frente a julho, segundo boletim do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
O Procon-SP ressalta que com o aumento de demanda, a Aneel, agência reguladora do setor, pode autorizar mudança de bandeira e elevação do valor da tarifa, condições previstas na legislação.
Bom para as empresas
Cervejas
Previsão de venda de 16,1 bilhões de litros este ano, crescimento de 6,6%
Ar-condicionado
Empresa tem aumento de 37% nas vendas
Ventiladores
Loja vende mais de 100 por dia
Os alimentos também devem ficar mais caros se o calor persistir nos próximos meses. “Até agora, não tivemos quebra de lavouras ou aumento de preços, e sim uma demanda maior de alguns produtos como o limão tahiti, laranja, limas e maracujá pelo calor inesperado. Outros produtos refrescantes como melão, melancia e coco verde também foram mais demandados”, constata o economista da Ceagesp, Thiago de Oliveira.
O professor Carlos Honorato, professor da FIA Business School, explica que o impacto climático nos produtos agrícolas varia dependendo da região. “O café é sensível às mudanças de temperatura e setembro é um mês crítico para o desenvolvimento dos grãos. O calor excessivo pode causar a queima das folhas e afetar a qualidade e o rendimento da colheita”.
Hortaliças como alface, espinafre e couve são suscetíveis ao calor excessivo, com queda da qualidade e de tempo de prateleira desses produtos.
Em relação às frutas, maçãs, peras e uvas preferem climas mais amenos, e podem sofrer com o calor. “Todos esses impactos podem reduzir a oferta e aumentar os preços”.
O educador financeiro da Rico Investimentos, Thiago Godoy lembra que alguns produtos que não estragarem na colheita, podem estragar no transporte. O que aumenta o custo para o produtor com refrigeração e armazenamento, impactando o preço final ao consumidor.
“Alta nos preços dos alimentos pesa na inflação oficial do país com possíveis implicações na política monetária. O Banco Central pode reavaliar o ritmo e até interromper a queda dos juros” avalia De Vitto.

Mau
Para os clientes
Alimentos
Pressão de alta de preços em frutas refrescantes, hortaliças e café
Energia
Consumo subiu mais de 3% em agosto
Luz
Aumento de R$ 100 na conta pelo uso do ar condicionado
Comércio em alta
Mas há os que ganham com esse calor todo. Produtos e serviços que ajudam a aliviar os efeitos das elevadas temperaturas estão em alta.
Uma loja de uma grande rede de varejo chegou a vender mais de 100 ventiladores por dia na última semana, zerando praticamente o seu estoque.
O mesmo aconteceu com o setor de piscinas infantis, que sumiram das prateleiras. O aumento de vendas de condicionadores de ar é confirmado pelo diretor do setor da Samsung Brasil, Thiago Dias.
Durante o inverno, de junho a agosto, a empresa apresentou um crescimento de 37% nas vendas dos aparelhos em relação a mesmo período do ano anterior. O que não chegou a ser surpresa: “Desde o início do ano a Samsung vem projetando um aumento de vendas, mais focado para o terceiro trimestre, em função da estratégia e plano de expansão da categoria”, diz o diretor.
O setor de cervejas também surfa na onda de calor. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Cervejas (Sindcerv), a previsão de vendas para este ano é de 16,1 bilhões de litros, o que representa um crescimento de 6,6% em relação a 2022. Além do calor, inflação em queda, crescimento maior do PIB e redução do desemprego sustentam essa projeção.