Comportamento

Abelhas nativas: livro sugere aplicações sustentáveis do mel na atividade comercial

Estudo desmistifica fermentação e fala sobre agregação de valor aos produtos dos insetos brasileiros, como o uso da cera na maturação de queijos

Crédito:  Gabriel Villas-Bôas

Uruçu-amarela (abaixo), produtora da matéria-prima de mel cremoso de abelhas brasileiras (acima) (Crédito: Gabriel Villas-Bôas)

Por Ana Mosquera

O céu está para as abelhas nativas. O governo Lula, em julho, sancionou lei que favorece linhas de crédito aos meliponicultores, nome dado aos criadores dos insetos sem ferrão. Chefs como Alex Atala, Bel Coelho e Manu Buffara trazem os méis no peito e no prato, orgulhando-se de optar pelos produtos de sabor mais ácido e textura fluida em seus menus.

A literatura sobre o tema também vai ficando mais interessante. O recém lançado Produtos das abelhas nativas: características, técnicas e aplicações, do Instituto Atá, em parceria com Sylvamo, Copaíba e Reenvolver, reúne resultados de pesquisas com espécies de todos os biomas, como as amazônicas canudo e jupará.

Segundo a ONU, as abelhas são responsáveis por 73% da polinização das plantas cultivadas no planeta e, de acordo com a Embrapa, há mais de 300 espécies sem ferrão no País.

Dedicado a criadores e empreendedores, mas também aos que querem aprender sobre a importância dos animais para a manutenção da biodiversidade e para a agricultura, o livro rompe mitos sobre a fermentação desse mel, que é mais úmido, aborda sua rica composição nutricional e a agregação de valor por meio de novos produtos, entre outras novidades.

O uso da cera na maturação de queijos e na conservação de embutidos, e a elaboração do mel cremoso de nativas são alguns dos métodos desenvolvidos e trazidos na publicação.

“A sistematização de processos permite fortalecer a meliponicultura como atividade comercial, mas com escopo educativo”, diz Marcelo de Podestá, designer, pesquisador e autor da publicação, ao lado de Jerônimo Villas-Bôas e Fabio Menna. Coordenados pelo Projeto Verde Mel, os estudos foram executados junto ao Senai, Unifesp e Centro de Nutrição Funcional VP.

(Divulgação)

Métodos de beneficiamento pouco conhecidos e contemplados pelas legislações, como a fermentação, são desmistificados pelos pesquisadores. “O processo ajuda a criar compostos que inibem o crescimento de microrganismos indesejáveis”, fala Marcelo.

Além de garantir a variedade de sabores que os chefs apreciam. “Mas estamos falando de um alimento que deve ser tratado como precioso. Nem tudo precisa ficar no caminhão, viajando, nem na prateleira, esperando as pessoas”, complementa, sobre a delicadeza do produto.

Outro ponto importante é a relevância do manejo das nativas para a cultura dos territórios, a começar pela escolha por realizar experiências com 18 espécies de todas as regiões.

No Projeto Tupyguá, do Espírito Santo, povos tupiniquim e guarani criam variedades, como uruçu-amarela e mandaçaia, para a produção de mel, pólen e cera utilizada em cosméticos, uma das formas de elevar os subprodutos da meliponicultura.

Por falar em cosmetologia, é em potinhos que as abelhas sem ferrão armazenam mel, fugindo ao formato hexagonal do favo da mais conhecida Apis melifera, a abelha africanizada. No imaginário popular, as nativas ainda buscam seu espaço.