Comportamento

‘Succession’ real: saiba como magnatas planejam em família a continuidade dos negócios

Além de dinheiro, as famílias abastadas do mundo são numerosas. O francês Bernard Arnault, do grupo Louis Vuitton Moët Hennessy, tem cinco filhos e os prepara para a sucessão de US$ 203 bilhões. À frente da Tesla e SpaceX, Elon Musk tem US$ 271 bilhões para dividir entre 10. Quem são os herdeiros das maiores fortunas do mundo?

Crédito: Denis Charlet

Bernard Arnault e Hélène Mercier já preparam a prole para gerenciar os negócios da família (Crédito: Denis Charlet)

Por Elba Kriss

Uma das séries mais aclamadas do ano ganhou a audiência com um roteiro provocativo: a sucessão familiar. Esse é o mote de Succession, disponível na HBO Max. Na ficção, a rixa dos irmãos Roy pelo controle de um bilionário conglomerado de mídia arrebatou prêmios. Na vida real, despertou interesse sobre famílias parecidas — e igualmente abastadas.

Uma curiosidade sobre os membros dessa opulenta geração é que, além de dinheiro, tem muitos filhos: Elon Musk, dono da Tesla e SpaceX, tem US$ 271 bilhões e dez herdeiros. Será que esses jovens seguirão o caminho da família Roy, marcado por um testamento malfeito e o despreparo da prole?

Esse último ponto não se aplica ao francês Bernard Arnault, presidente do luxuoso Louis Vuitton Moët Hennessy (LVMH) e dono de um patrimônio líquido de US$ 203 bilhões. Aos 74 anos, o magnata prepara os cinco filhos para liderarem o legado: todos já trabalham nas empresas do pai.

Os irmãos Delphine e Antoine são frutos do casamento com a colecionadora de arte Anne Dewavrin. A primogênita é diretora e vice-presidente da Louis Vuitton e presidente e CEO da Christian Dior Couture. Ele, por sua vez, é chefe de imagem e meio ambiente da LVMH e CEO da Christian Dior SE. Também atua no conselho da varejista Loro Piana e é diretor-executivo da masculina Berluti.

Da união com a pianista Hélène Mercier, Alexandre é vice-presidente executivo de produto e comunicações da Tiffany e já trabalhou na liderança da Rimowa, Frédéric é CEO da marca de relógios de luxo Tag Heuer, e Jean, diretor de marketing e desenvolvimento do setor de relógios da Louis Vuitton.

O clã prestigiado detesta comparações com a família Roy. O veterano vem preparando a próxima geração dos Arnault desde a infância — além das melhores escolas e universidades, todos passavam por sabatinas sobre negócios ao redor da mesa de jantar.

No início da fase adulta trabalharam em cargos baixos no respeitado grupo econômico do pai. Por essas e outras que, em recentes declarações, o patriarca espera não ver um duelo por seu trono.

“O recomendável é estabelecer as regras do jogo em vida a fim de evitar — ou pelo menos, suavizar — um conflito após o falecimento. Deixar as determinações bem estabelecidas enquanto estão vivos tende a prevenir disputa por patrimônio ao final”, analisa Thiago Braichi, sócio do escritório de advocacia Freitas Ferraz.

“Não há dúvida de que os prejudicados pela ausência de planejamento é a própria relação familiar e os negócios envolvidos — que tendem a ser lesados por herdeiros despreparados e disputas de poder. Para tanto, diversas ferramentas podem ser usadas, como protocolos familiares, acordos de acionistas e testamentos”, prossegue o especialista em planejamento tributário.

O fundador do Facebook e a médica Priscilla Chan são pais de Max, Augustine e Aurelia: rosto das crianças escondidos em nome da segurança (Crédito:Divulgação)

À frente da SpaceX e Tesla, Elon Musk, 52, vê a sucessão como problema de potências empresariais. Por isso, já avisou que seus 10 rebentos não ganharão participação automática nas organizações — mesmo que tenham capacidade. “Acho um erro”, declarou.

Igualmente pensa o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, 39, que tem três crianças e deixará 99% de seus US$ 110 bilhões para caridade.

O proprietário da Amazon, Jeff Bezos, com seus US$ 167,4 bilhões e quatro descendentes anunciou a doação da maior parte de sua fortuna em vida.

“Não é segredo que grandes empresários como Bill Gates [US$ 112 bilhões] e Warren Buffett [US$ 123 bilhões] anunciaram que gastarão todo ou a maioria de seus patrimônios em causas sociais. Um livro sobre esse assunto chamado Die With Zero — Morra com Zero, de Bill Perkins, ainda sem tradução no Brasil —, ficou famoso”, diz Braichi. A obra sugere uma relação filosófica e de desprendimento diante do dinheiro.

Jennifer, Rory e Phoebe: herdeiros do casamento com a cientista Melinda Gates (de turquesa) (Crédito:Divulgação)

No Brasil, um clã influente serve de referência no tema. A família Menin, acionistas do Banco Inter e da construtora MRV, soube administrar seu quinhão. “No caso da instituição financeira, o CEO é João Victor Menin, enquanto Rafael Menin atua como CEO da empresa de engenharia, ambos filhos de Rubens Menin, fundador do grupo. A Fundação Dom Cabral foi contratada para auxiliá-los no planejamento sucessório”, cita o especialista.

Seja qual for o desejo, ficção e realidade ensinam dois pontos relevantes. “Um planejamento sucessório, quando bem-feito, pode trazer benefícios, como a manutenção do patrimônio, redução de conflitos familiares, economia tributária e atendimento à vontade dos doadores”, diz o advogado.

A lição que serve para todos é: “Planejamento sucessório e familiar não é exclusivo para bilionários, mas aplicável a toda e qualquer família que possui patrimônio”.