Coluna

Os filhos do Brasil

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Ricardo Kertzman: "Se o aparelhamento familiar estivesse funcionando, menos pior" (Crédito: Divulgação)

Por Ricardo Kertzman

Na semana passada, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, Jair Renan, foi alvo de busca e apreensão pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), no âmbito da Operação Nexum, que investiga supostos ilícitos de falsidade ideológica, associação criminosa, estelionato, crimes contra a ordem tributária e lavagem de dinheiro.

Auxiliar parlamentar do senador Jorge Seif Junior, obviamente por competência, o bolsokid 04 foi sócio de uma empresa de pequeno porte que faturou incomuns 4.5 milhões de reais em curto espaço de tempo, e apesar de tanto sucesso empresarial fechou as portas misteriosamente após o pimpolho presidencial doar a própria participação.

Tal fato me lembrou outro caso de sucesso comercial envolvendo um filho de presidente da República, Fábio Luís, o Lulinha, que ficou famoso pela carreira meteórica como empresário. De biólogo em jardim zoológico, tornou-se, pouco tempo após a eleição do pai, dono de uma multimilionária empresa de jogos eletrônicos (Gamecorp).

À época, inclusive, o presidente Lula apelidou o filhote de “Ronaldinho dos Negócios”, em alusão ao Fenômeno (o jogador Ronaldo). Curioso, porém, que estes meninos de ouro só tornaram-se empresários de sucesso – ou fenômenos, como queiram –, após a chegada dos papis ao poder. Vai ver, claro, uma mera coincidência, e não “causa e efeito”.

O subdesenvolvimento, muitas vezes, não é destino; é escolha. Enquanto não abandonarmos a pobreza de espírito, jamais alcançaremos a riqueza social

Mas não apenas o executivo coleciona “cases” parentais. Um rápido olhar em notórios sobrenomes de deputados e senadores – Calheiros, Barbalho, Lobão, Sarney, Cunha, Neves –, bem como no Judiciário, onde bancas de herdeiros de juízes, desembargadores e ministros ascendem rápidas como foguetes da Nasa, para confirmar a tese.

Logo após o Descobrimento do Brasil, a Coroa Portuguesa lançou mão das Capitanias Hereditárias como forma de organização e ocupação do território. Mais de 500 anos depois, os poderosos de turno continuam loteando o País com sua parentada de primeiro grau, mantendo a hegemonia política e empresarial intocada.

Se o aparelhamento familiar estivesse funcionando, menos pior. Mas os índices sociais e econômicos, e o péssimo ambiente político, não deixam dúvidas sobre o fracasso da escolha. Retoricamente, eu pergunto: acaso não existem empreendedores e profissionais liberais competentes fora do círculo familiar dos políticos e governantes?

O subdesenvolvimento de um país, muitas vezes, não é destino; é escolha. Enquanto não abandonarmos a pobreza de espírito, jamais alcançaremos a riqueza social. Quem disse? Nossa própria história, ué. E os pais e filhos deste abominável “way of life”.