Apoio de Lula a Putin é lamentável

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Marcos Strecker: A guerra na Ucrânia é o maior desafio geopolítico da atualidade. Ficar do lado errado desse conflito que leva o planeta de volta às violações pré-Segunda Guerra não se justifica por um antiamericanismo passadista" (Crédito: Divulgação)

Por Marcos Strecker

O Barão do Rio Branco ampliou as fronteiras nacionais no início do século XX com um paciente jogo de negociações bilaterais. Reforçou a imagem de liderança natural do País por meio da promoção da paz e de princípios internacionais. Era um negociador inteligente. Por isso, virou patrono da diplomacia brasileira. A errática política externa do governo atual faz o inverso. Diminui o protagonismo internacional do Brasil ao se colocar na contramão da história e entrar em disputas equivocadas.

A guerra na Ucrânia é o maior desafio geopolítico da atualidade. Ficar do lado errado desse conflito que leva o planeta de volta às violações pré-Segunda Guerra não se justifica por um antiamericanismo passadista. Pois é exatamente isso o que o governo Lula pratica. Em pleno G20, o presidente garantiu a Vladimir Putin salvo-conduto para visitar o Rio de Janeiro em novembro de 2024, mesmo que o russo esteja sob ordem de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) por patrocinar o sequestro de crianças. O Brasil assinou o Estatuto de Roma, que criou o TPI. Agora, o petista diz que “nem sabia da existência desse tribunal”. Arrematou: “Só os países bagrinhos são signatários”. Além de renegar essa corte composta por 123 países, Lula passou por cima da lei brasileira e da Justiça. Retratou-se depois, mas isso não diminuiu o estrago. A repercussão foi internacional.

Não foi uma gafe. O mandatário repetiu o que já tinha feito antes: uma declaração explícita pró-Putin. O líder russo invadiu a Ucrânia, um país soberano, contra as leis internacionais. Promoveu a maior onda de refugiados desde a época de Hitler. Na campanha eleitoral, Lula já tinha chocado o mundo ao declarar que Zelensky era tão responsável quanto Putin pelo conflito. Não é o que pensam os países que sofreram o jugo soviético por meio século. Por essas e outras, o jornal francês Libération, criado por Sartre, o chamou de “La Decepção” e “falso amigo do Ocidente”. Touché.

A adulação a um criminoso de guerra desrespeita a Constituição, alinha o Brasil à China e enfraquece o multilateralismo

Essa adulação a um criminoso de guerra desrespeita a Constituição, alinha perigosamente o Brasil aos interesses chineses, enfraquece a busca pelo multilateralismo e afasta o País do maior objetivo perseguido pelo Itamaraty em décadas: uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Depois do desastre antidiplomático de Bolsonaro, o País não merecia voltar aos mesmos erros, agora com sinal trocado.