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Taxar super-ricos é uma ideia super óbvia

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Felipe Machado: "E daí veio minha surpresa: quer dizer que eles nunca pagaram impostos? Por quê?" (Crédito: Divulgação)

Por Felipe Machado

O Brasil, mais uma vez, me deixou estupefato. O presidente Lula assinou uma medida provisória para taxar os milionários que possuem investimentos fora do Brasil.

São os tais “super-ricos”. E daí veio minha surpresa: quer dizer que eles nunca pagaram impostos? Por quê? Se há alguma lógica nisso, além de beneficiar os poderosos a troco de nada, eu realmente gostaria de saber. Faz sentido cobrar porcentagem dos cidadãos com tostões na poupança e deixar isentos empresários com bilhões de dólares no exterior? Não faz.

Parece surreal, mas Lula teve de vir a público para justificar a MP: “Proporcionalmente, o mais pobre paga mais imposto de renda que o dono do banco.” Não importa se você é de esquerda ou de direita, é preciso concordar que a frase é de uma obviedade cruel. Mesmo assim, a oposição é contra. Claro. Como muitos têm dinheiro fora e não podem dizer publicamente que não querem pagar impostos, tentam inventar desculpas. O presidente da Câmara, Arthur Lira, fez uma declaração confusa: “A única coisa que não interessa ao País é taxar e perder recursos”. Não entendi. Se taxarmos os super-ricos, o Brasil vai ganhar recursos, não perder. Ou Lira quis dizer que os bilionários chateados vão levar o dinheiro para outros paraísos fiscais, para não pagar os novos impostos? Bem, se isso acontecer, qual seria a diferença em relação ao que temos hoje, se eles já não pagam nada?

O governo quer arrecadar R$ 13 bilhões com a novidade. Dá para fazer muita coisa com isso, imagino. Mas teve outra coisa que me deixou estarrecido. Sabe quantas pessoas serão afetadas pela medida? Duas mil e quinhentas. Leia de novo: duas mil e quinhentas pessoas. Sim, só isso.

Dúvida cruel: por que os milionários que têm conta no exterior nunca pagaram impostos?

Não enchem um ginásio de cidade do interior. É assim que a gente percebe como esse País de 213 milhões de habitantes é desigual. E é quando sinto arrepios ao ver pessoas dizendo com orgulho que são “conservadoras”.
Tudo bem, os ricos querem conservar as coisas como estão. Mas e gente mais humilde que se diz conservadora? Quer conservar o quê?

Não sou ingênuo. Sei que muitos daqueles que fazem as leis são justamente os que têm contas no exterior e que não querem abrir mão de nada. Mas é que não consigo me acostumar com essa mentalidade que o brasileiro tem de só agir em causa própria. Veja a PEC da anistia, outra lei que o Congresso quer aprovar para anular as multas por crimes eleitorais. Seria mais ou menos como eu sugerir a criação de uma lei que isente de impostos jornalistas que escrevem artigos. Faz sentido? Claro que não.