Brasil

Troca-troca nos Ministérios: dança das cadeiras de Lula promete mais confusão

Os deputados André Fufuca (PP) e Silvio Costa Filho (Republicanos) ficaram mais de um mês à espera de uma vaga na Esplanada. O presidente destravou negociações para destinar a pasta do Esporte ao primeiro e a de Portos ao segundo. O avanço do Centrão no governo irritou o PSB e não garante vida fácil no Congresso

Crédito: Fernando Donasci

Com André Fufuca e Silvio Costa Filho (abaixo) governo garante mais 60 votos no Congresso (Crédito: Fernando Donasci)

Por Samuel Nunes

Os deputados federais André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) se acostumaram a uma situação peculiar em Brasília. No dia 4 de agosto, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que os dois integrariam a nova Esplanada. O presidente Lula precisava absorver o Centrão e garantir mais votos no Congresso. Desde então, a dupla circulou pelos corredores das duas casas, com status de ministros, mas sem saber quais posições ocupariam na Esplanada. Na última quinta-feira à tarde, o sorriso de Fufuca (estampado na foto acima) revelou que a novela da reforma ministerial estava perto do fim.

Tudo estava encaminhado para Fufuca assumir a pasta do Esporte. Na última segunda-feira, 4, Padilha ofereceu a ele a pasta comandada pela medalhista olímpica Ana Moser. A promessa era de um orçamento robusto, a partir de 2024.

O deputado e o PP rejeitaram de início a proposta. Mas a incorporação a esse ministério do bilionário fundo a ser criado com a tributação das apostas esportivas parece ter aumentado o apetite do partido.

Moser foi então chamada por Lula para uma conversa no dia seguinte, quando recebeu o cartão amarelo. O partido de Arthur Lira ficou satisfeito com as tratativas, mas isso provocou mais um desgaste para o governo. No mesmo dia, a Comissão de Atletas do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), divulgou nota repudiando a troca na pasta.

Silvio Costa Filho: entrada na Esplanada dos Ministérios provoca crise no PSB (Crédito:Tripe)

Silvio Costa Filho recebeu de Lula a sinalização de que assumiria a pasta de Portos e Aeroportos, comandada pelo ex-governador de São Paulo, Márcio França. O cargo terá, nos próximos anos, um dos maiores orçamentos da União, pois o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê investimentos robustos nesse setor, de R$ 69,1 bilhões.

Diferentemente do PP, o Republicanos recebeu bem a proposta. Além disso, deve ficar com a recriada Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Mas essa movimentação criou outra crise, junto ao PSB, partido da base aliada e do vice-presidente, Geraldo Alckmin.

França chegou ao cargo depois de um acordo com o PT para desistir da disputa ao governo de São Paulo nas últimas eleições (cedeu o lugar para Fernando Haddad, que foi derrotado).

Após esse desgosto, agora irrita-se em entregar sua pasta para o Republicanos, do governador Tarcísio de Freitas (que pode se cacifar para a reeleição ao ter ascendência sobre o estratégico porto de Santos).

Na terça-feira, França se reuniu com Lula e Geraldo Alckmin para resolver sua situação. A torcida de Lula era que Alckmin cedesse sua própria pasta, a do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, ao colega de partido. Nada feito.

A França restou a opção de receber um novo ministério a ser criado, o da Pequena e Média Empresa, que surgirá de um desmembramento da pasta de Alckmin.

Na quinta-feira à tarde, o PSB ainda tentava engordar esse novo ministério (o 38º desse governo) com mais articulação junto ao Sebrae e ações para trabalhadores de aplicativos, atualmente a cargo do Ministério do Trabalho.

A falta de acordo com o PP foi o principal entrave para a reforma, que já deveria ter sido feita. Arthur Lira não ficou satisfeito inicialmente com a pasta do Esporte (desejava o Ministério do Desenvolvimento Regional, que abriga o bilionário Bolsa Família).

O presidente da Câmara contava ainda com a entrega da presidência da Caixa Econômica Federal para uma aliada, Margarete Coelho, além de todas as vice-presidências da instituição. Lula resistiu.

Pelo menos duas devem permanecer com o PT. A entrada de Fufuca na Esplanada dos Ministérios também movimentou o PP no Congresso.

Isso porque o deputado é líder do partido na Câmara. Ao assumir, deixará a liderança em aberto. Pelo menos três deputados têm brigado internamente para ocupar o posto:
* Mario Negromonte Júnior (BA),
* Dr. Luizinho (RJ),
* Cláudio Cajado (BA).

No fim, depois de quase três meses de negociações, a novela da atual reforma ministerial parecia finalmente caminhar para um desfecho, dando uma nova cara ao governo Lula, mais ao Centro e escancarado ao Centrão. Mas isso não significa o fim. Uma nova reforma ministerial já é dada como certa em Brasília no próximo ano.

Juscelino na corda bamba

Enquanto os novos ministros aguardavam a entrada no governo, um dos primeiros nomes indicados pelo Centrão, ainda em janeiro, se enrola cada vez mais na Justiça. O titular das Comunicações, Juscelino Filho, pode deixar a Esplanada nos próximos dias.

Eleito deputado federal pelo União Brasil, chegou ao cargo com o apoio de lideranças como o senador Davi Alcolumbre, mas tem acumulado sucessivos escândalos em torno de si.

Juscelino Filho: entre escândalos e a rota de saída da Esplanada (Crédito:Edilson Rodrigues)

No dia 1º, Juscelino foi alvo de uma operação de Polícia Federal que apura desvios de verbas na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf). Os investigadores chegaram a pedir um mandado de busca e apreensão contra ele, mas a solicitação foi negada pelo ministro Roberto Barroso, do STF.

Em vez disso, o magistrado determinou o bloqueio de R$ 835 mil do ministro. A PF apura indícios de que emendas do orçamento secreto, encaminhadas pelo então deputado, beneficiaram ele e empresas de amigos.

Um dos contratos firmados pelo Executivo foi para o asfaltamento de uma estrada rural que passa em frente a uma fazenda do ministro. A “brincadeira” custou R$ 5 milhões.

Antes disso, já havia outros indícios de irregularidades envolvendo Juscelino, como suposta ocultação de patrimônio, com cavalos de raça.

Ele também foi acusado de usar um avião da FAB para participar de um leilão de equinos. Mesmo com esses problemas, foi mantido por Lula. Agora, até a legenda de Juscelino admite a troca, desde que garanta alguém do partido no posto.