Comportamento

Cruzada moderna: a viagem do papa Francisco à Mongólia

Crédito: AFP Photo/Vatican Media

Papa Francisco em Ulan Bator: nação majoritariamente budista tem apenas 1.450 católicos em uma população de 3,3 milhões (Crédito: AFP Photo/Vatican Media)

Por Elba Kriss

Assim como nas Cruzadas, as expedições organizadas pela Igreja para levar o cristianismo para outros povos a partir do século 11, o papa Francisco visitou a Mongólia com espírito expansionista. Ele se tornou o primeiro pontífice a pisar no país, uma nação majoritariamente budista: tem apenas 1.450 católicos em população de 3,3 milhões de habitantes. No entanto, essa pequena parcela é fervorosa e se mostrou entusiasmada com o líder em seu solo. A visita de quatro dias — entre 1º e 4 de setembro — ao país da Ásia Central foi uma amostra da política do religioso à frente do Vaticano. O Santo Padre segue à risca o trabalho da Companhia de Jesus, fundada há séculos pela Ordem Jesuíta, à qual pertence: atuar em nome da comunhão.

O líder encontrou apoio entre os seus. O monsenhor Fernando Duarte Barros Reis, da diocese de Jataí (GO), recepcionou Sua Santidade em Ulan Bator, a capital.

Ele trabalha na Nunciatura Apostólica da Coreia e resumiu o que esperava da instituição na região. “A expectativa é de esperança para uma igreja jovem, de 30 anos de relações diplomáticas da Santa Sé”, disse.

Francisco seguiu o protocolo. Em encontro com o presidente Ukhnaagiin Khürelsükh, assinou o livro de honra como “peregrino da paz”.

“Nesse país jovem e antigo, moderno e rico de tradição, tenho a honra de percorrer as vias do encontro e da amizade que geram esperança. Que o grande céu claro que abraça a terra mongol ilumine novos caminhos de fraternidade”, registrou.

Assim, a agenda se dividiu em encontros com autoridades, sociedade civil e corpo diplomático. Também ocorreram atividades com bispos, sacerdotes, missionários e agentes pastorais.

Um evento ecumênico antecedeu a despedida, com a inauguração da Casa da Misericórdia, destinada a acolher desabrigados e vítimas de violência doméstica.

O pontífice definiu o lugar como a “expressão concreta do cuidado que identifica cristãos”, pois “onde há acolhimento, hospitalidade e abertura ao outro, respira-se o bom odor de Cristo”.

Soube também se esquivar das críticas de que instituições católicas apenas querem converter mais pessoas. “Como se cuidar dos outros fosse uma forma de seduzir as pessoas”, respondeu.

Entre benfeitorias, a visita do líder foi marcada por esforços para estender a mão à China — nação com a qual o Vaticano deseja melhorar a diplomacia. Em tom acolhedor, enviou saudações aos “nobres” chineses com o pedido de que sejam “bons cristãos”.

A peregrinação surtiu aplausos ao redor do mundo. “Mais uma vez o Papa Francisco nos iluminou com sabedoria, abrindo um diálogo sincero e construtivo com o rebanho de Deus: vivo na fé e na caridade, valores tão essenciais no mundo de hoje”, analisa Padre Reginaldo Manzotti à ISTOÉ.

Outro ponto menos comentado da cruzada moderna é que tudo foi um teste para a saúde do religioso, que está com 86 anos e enfrenta problemas de locomoção. Ao se despedir da Mongólia, ele admitiu: já não é “tão fácil” viajar.