Vilões de quadrinhos

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Mentor Neto: "Temos vilões para todos os gostos e poderes" (Crédito: Divulgação)

Por Mentor Neto

Confesso que depois de 9 ou 10 anos de idade perdi muito o interesse pelos heróis de revistas em quadrinhos ou seriados da Marvel ou DC Comics.

Verdade que, por anos, continuei assistindo aos episódios de Batman, protagonizado por Adam West, lembram dele?
Visivelmente com sobrepeso, aquele Batman vestia uma fantasia que parecia ser do tempo em que era mais atlético, sempre acompanhado por seu ajudante, Robin, de voz aguda e propenso a uma certa histeria ao emitir suas irrelevantes opiniões.

Numa pequena TV preto e branco, assistia à série quando voltava da escola, muito mais como desculpa para adiar a lição de casa do que por prazer.

Aos poucos, fui perdendo o interesse por esse tipo de entretenimento, seja impresso ou televisado, porque percebi que o mundo oferecia vilões muito mais perigosos do que o Coringa, além de faltar, definitivamente, Homens Aranha para nos dar esperança de que no fim o bem vai superar o mal.

Essa semana mais uma vez lembrei desses vilões que parecem coisa de ficção, mas que, ao sairmos aliviados do cinema, encontramos na capa de um jornal ou revista aqui no mundo real.

Foi a sensação ao ver a foto de Donald Trump preso ou, como chamam os americanos, seu mugshot. Aquela foto que o sujeito tem que fazer no momento em que é fichado na delegacia por um delito qualquer.

Para os famosos da America, um mugshot, além de representar o momento em que é flagrado cometendo um crime ou contravenção, também consiste numa enorme humilhação.

Seja o ator de Hollywood fichado por dirigir embriagado ou o cantor famoso preso num banheiro público cometendo um atentado ao pudor, o mugshot tangibiliza o momento em que nem mesmo o poder da mídia vai tirar o fulano da enrascada em que se meteu.

Trump sabe disso, então cuidou para que seu retrato policial não transmitisse nenhum sinal de fraqueza.

Nada disso.

Com o queixo ligeiramente abaixado para que os olhos se aproximassem da câmera, lábios serrados e sobrancelhas arcadas de ódio, está lá seu pior momento.

Um ex-presidente americano preso e devidamente fichado.

Deveria ser uma vergonha, mas o resultado da pose surtiu o esperado efeito.

Pouco se falou sobre os 20 minutos que o presidente ficou em cana, antes de pagar os duzentos mil dólares estabelecidos como sua fiança.

Trump consegue amedrontar o mundo, exatamente como um vilão de quadrinhos.

E para combater esse Coringa o destino ofereceu Biden, nosso Batman sem sobrepeso. Ou, quem sabe, os candidatos que despontam pelo partido Democrático, nenhum deles com superpoderes necessários para conter o avanço de Trump na próxima eleição.

A verdade é que, se bem me lembro, nos gibis e filmes de heróis, cada confronto se dá contra um único vilão. Um vilão de cada vez. Não vale vir de turma.

Não é o caso no mundo real.

Na mesma semana que Trump nos brindou com sua foto na prisão, do outro lado do mundo caiu o avião de Yevgeny Prigozhin, o líder do grupo mercenário Wagner, contratado por Putin para a guerra contra a Ucrânia.

Prigozhin era, ele mesmo, mais um de nossos vilões.

Um sujeito que possui um exército inteiro e o coloca à disposição de quem pagasse mais, bom sujeito não é.

Agosto nos lembrou que os vilões do mundo real estão à solta

A cerca de um mês, foi ele quem criticou Putin sobre os poucos recursos que seus soldados recebiam. Agora, coincidentemente, seu avião se espatifa nas cercanias de Moscou.

Claro que as suspeitas pelo acidente recaem sobre Putin, vilão eterno do mundo real e um dos mais medonhos.

E nós, aqui no Brasil, também temos nossos vilões? Pergunta o leitor.

Claro que temos.

Mas assim como os leitores da Marvel não são fãs da DC Comics, estamos divididos.

Temos vilões para todos os gostos e poderes.

Ou melhor, temos vilões nos três poderes.

É só escolher seu malvado preferido.