Cultura

Tchau gurus de autojuda: pesquisadores oferecem novas trilhas para o autoconhecimento

Esqueça as obras de autoajuda do passado: a tendência agora são os textos de filósofos contemporâneos que explicam conceitos complexos para quem quer enfrentar os desafios da atualidade

Crédito: Felix Sanchez

Brené Brown: palestra online assistida por 38 milhões de pessoas (Crédito: Felix Sanchez)

Por Felipe Machado

Na era da informação instantânea e da busca quase obsessiva por autoconhecimento, uma nova safra de filósofos contemporâneos emerge como faróis de sabedoria em meio ao oceano tumultuado das ideias superficiais e dos modismos passageiros. É bom deixar claro que o fenômeno passa longe dos manuais de autoajuda, tão populares nas décadas de 1990 e 2000. Os gurus, agora, dão lugar a catedráticos de universidades renomadas, pensadores e até cientistas. À medida que avançamos em um novo capítulo da história, com a inteligência artificial à espreita, suas mensagens acabam servindo de bússola para muitos que buscam novos significados para a vida.

Apesar de venderam muitas cópias, seus livros não são simples best-sellers, mas obras que transcendem as convenções e oferecem reflexões dignas dos grandes teóricos do passado.

O nome de Brené Brown destaca-se. Com sua abordagem inovadora sobre a vulnerabilidade, a pesquisadora norte-americana desencavou um conceito que, por séculos, foi marginalizado ou considerado uma fraqueza.

Em obras como A Coragem de Ser Imperfeito e Mais Forte do que Nunca, Brown convida a explorar as profundezas de nossa própria humanidade, enfrentando os medos e abraçando a autenticidade.

Sua exploração da insegurança humana como um ato de coragem, sem perder o bom humor e a honestidade, ecoa as discussões dos filósofos clássicos sobre a virtude e o autodomínio.

A influência de Sócrates, que destacou a importância do autoconhecimento, é clara: Brown nos lembra que somos movidos pelas emoções e temos de olhar para dentro de nós mesmos para encontrar a genuína conexão com os outros.

Os números superlativos ligados a ela comprovam a quantidade de gente que busca mensagens dessa natureza. Sua apresentação no TED Talks, plataforma de palestras online, tem mais de 38 milhões de visualizações — sua adaptação virou um especial da Netflix que está entre os conteúdos mais vistos da plataforma.

Neil deGrasse Tyson: astrofísico oferece uma perspectiva moderna a respeito dos mistérios do universo (Crédito:Craig Barritt)

Enquanto os filósofos de outrora olhavam para o céu em busca de respostas, Neil deGrasse Tyson oferece uma perspectiva moderna ao explorar os mistérios do universo.

Primeiro astrofísico-celebridade desde que Carl Sagan ficou famoso nos anos 1980, com o programa de TV Cosmos, seus livros Origens e Astrofísica para Apressados não apenas desvendam os segredos das estrelas, mas também nos fazem questionar a própria existência humana.

Ao seguir os passos de Aristóteles, que buscava compreender a natureza do mundo, Tyson nos convida a contemplar o desconhecido e a valorizar o poder da ciência. Sua escrita acessível e didática transcende os laboratórios e nos leva a refletir sobre a vida na Terra — inclusive conceitos mais abstratos, como relação entre o tempo e o espaço aplicada ao dia a dia.

No espírito dos filósofos que exploram a natureza humana, o pesquisador britânico Malcolm Gladwell se destaca ao dissecar os padrões do comportamento humano. Em O Ponto da Virada e Blink – A Decisão em um Piscar de Olhos, Gladwell nos leva a questionar nossas decisões e a compreender como essas ações são influenciadas por fatores ocultos.

Sua abordagem remete a questões como a ética e a racionalidade, à medida que examina os fios invisíveis que conectam as alternativas que se apresentam no cotidiano.

Como seus colegas, ele também busca inspiração nas observações dos clássicos, desafiando cada um a olhar para dentro e a adotar uma visão mais ampla de suas motivações. Assim como Platão indagava sobre a natureza da realidade, Gladwell nos instiga a sondar as complexas razões por trás de nossas atitudes.

A popularidade desses filósofos modernos e as milhões de cópias vendidas de seus livros não são apenas as testemunhas de suas habilidades literárias. Atendem a uma espécie de fome por conhecimento significativo e reflexões profundas, em um mundo que valoriza cada vez mais o efêmero.

São um antídoto contra as discussões rasas das rede sociais, cuja polarização amplificada pelos algoritmos gera apenas mais ansiedade e desconexão com quem é diferente.

Brown, Tyson e Gladwell, entre tantos outros que mergulharam nesse filão, conquistaram os corações e mentes dos leitores que estão em busca de mais do que respostas rápidas — para isso, fazem sucesso oferecendo dicas para uma jornada de autotransformação.

Malcolm Gladwell: pesquisador britânico se inspira nos clássicos para examinar padrões de comportamento atuais (Crédito:Bryan Bedder)

Essência da vida

Nesse renascimento da consciência, Brown, Tyson e Gladwell proporcionam uma experiência de aprendizado que vai muito além das páginas impressas.

Eles nos levam a questionar, a explorar e a compreender os fundamentos das relações entre as pessoas. Enquanto os textos de autoajuda tentavam oferecer soluções momentâneas para os desafios da rotina, os trabalhos desses novos filósofos mergulham profundamente nas raízes dos problemas da atualidade, buscando compreender as complexidades da mente e da sociedade.

Enquanto o mundo ao nosso redor evolui rapidamente, eles nos lembram de que as questões essenciais da vida são atemporais e que a busca pelo conhecimento nunca sai de moda.