STF na berlinda; outra vez

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Ricardo Kertzman: "Sobre a descriminalização da maconha, sou amplamente a favor, do mesmo modo e intensidade de que sou contra à sua legalização" (Crédito: Divulgação)

Por Ricardo Kertzman

Nos últimos dias, o Supremo Tribunal Federal (STF) voltou às manchetes e às mesas dos bares. A posse do mais novo ministro, Cristiano Zanin, ex-advogado do presidente Lula, e a retomada do julgamento que descriminaliza o porte de maconha, após quase oito anos paralizado, dividiu as opiniões – técnicas ou não – por todo o País.

Durante a campanha, ano passado, o então candidato Lula da Silva garantiu que não indicaria um amigo para ocupar a Suprema Corte. Mentiu. E descaradamente. Pior.

Como desculpa, alega que Zanin não é amigo, mas apenas advogado. Sei.

Fato é que a mais alta Corte de Justiça do Brasil tornou-se, ano após ano, nas últimas duas décadas, alvo de desconfiança e descrédito, sendo criticada – e literalmente atacada – por diversos matizes e espectros políticos
e ideológicos, não sem motivos, infelizmente.

O bolsonarismo quer: jipe, cabo e soldado fechando o STF. Toc, toc, toc… Isola

Se a posse de Zanin gerou calor político, “especialidade” maior do brasileiro depois do futebol, a discussão sobre drogas elevou a temperatura às alturas. Palpiteiros amadores e profissionais, muitos deles, senão a maioria, sem o menor embasamento ou raciocínio lógico, decretaram o que é certo e errado, logo adjetivando, conforme preferência e fanatismo ideológicos, os ministros como maconheiros, comunistas, conservadores, retrógrados, esquerdistas e outros chavões reducionistas de redes sociais.

Pessoalmente, considero a indicação de Zanin indecorosa, e aqui não me refiro, é claro, à sua qualidade como operador do Direito – até porque não entendo patavinas do assunto. Já sobre a descriminalização da maconha, sou amplamente a favor, do mesmo modo e intensidade de que sou contra à sua legalização – e igualmente, aqui, não entendo nada de políticas de combate ao tráfico e de saúde pública relacionada à dependência química.

Minhas opiniões acima são de mesa de bar, minha maior – e talvez única! – qualidade. Mas entendo legítimas como as de quaisquer outros brasileiros interessados em boas prosas, principalmente se abertos a posições contrárias, pois acredito que é na divergência que a gente aprende e cresce. Lado outro, na base do tiro, porrada e bomba, como queriam os arruaceiros de 8 de janeiro, a gente só caminha para trás.

Assim, na base do ‘falem mal, mas falem de mim”, Xandão e companhia vão julgando – às vezes, legislando -, até que um Eduardo Bolsonaro, ou Daniel Silveira, realizem o sonho do bolsonarismo extremo: um jipe, um cabo e um soldado fechando a nossa Suprema Corte. Toc, toc, toc… Isola.