Comportamento

Celebridades e seus pais empresários: raramente dá certo

O embate público de Larissa Manoela com a família foi apenas mais um caso de rompimento entre pais empresários e seus filhos famosos. A dependência financeira dos genitores pode levá-los a esticar a infância de jovens celebridades para manter o controle sobre suas carreiras — e fortunas

Crédito: Divulgação

1. Larissa Manoela e os pais, Silvana Taques e Gilberto Elias: brigas pela imprensa e acusações de uso indevido do dinheiro da atriz 2. Lewis Hamilton e Anthony Hamilton: piloto demitiu o pai após 17 anos 3. Gabriel Medina e Simone Medina: briga com a nora Yasmin Brunet a levou a romper com o filho surfista. 4. Britney Spears e Jamie Spears: tutela imposta à força na Justiça (Crédito: Divulgação)

Por Felipe Machado

Não importa se estamos nos bastidores do mundo corporativo ou sob as luzes de Hollywood: qualquer relação profissional entre membros de uma família é sempre delicada. Essa dinâmica fica ainda mais sensível quando entramos no universo das celebridades, onde a disputa entre os egos e a exposição midiática costumam amplificar os problemas. Há, no entanto, um vínculo ainda mais suscetível a crises de grandes proporções: a ligação entre jovens famosos e pais que assumem o papel de empresários.

Já é difícil para as crianças equilibrar a pressão entre uma vida normal, o estrelato e a busca pela identidade própria. O estopim para um bomba-relógio surge quando crescem e buscam caminhos diferentes daqueles planejados por seus familiares.

Quem tem a palavra final? Os artistas ou seus empresários? Filhos ou pais? A inversão na natureza dessa relação nos lembra que contratar familiares ou pessoas muito próximas traz um agravante ainda maior — não é fácil demiti-las, sob o risco de afetar as conexões pessoais.

O escândalo recente da atriz Larissa Manoela, que continua a nos surpreender pela quantidade de detalhes íntimos expostos em manchetes sensacionalistas a cada dia, comprova que encerrar um contrato com os pais não é uma tarefa simples.

Ainda mais no caso dela, uma celebridade mirim que sustenta financeiramente a família há tantos anos. Como administrar o dinheiro? E qual a responsabilidade dos pais no sucesso da filha? Impossível definir.

O drama de Larissa está na boca do povo, mas não é o primeiro. Infelizmente, também não deve ser o último.

A cantora Jojo Todynho entrou na Justiça para retirar o nome da sua mãe biológica da certidão de nascimento, para evitar que sua herança seja deixada para ela em caso de morte.

O surfista e campeão mundial Gabriel Medina brigou com a família após um desentendimento entre a sua mãe e empresária, Simone Medina, e sua mulher, a modelo Yasmin Brunet. A briga ganhou contornos tão drásticos que chegou à Justiça: Simone chegou a acusar o filho de não pagar seu salário. Dois anos depois, Medina e Yasmin se separaram — e o filho se reconciliou com a mãe.

Para a psicanalista Fabiana Guntovitch, autora do livro Chega de Brigas — Pequeno Manual para Viver em Paz, esse tipo de ligação não é simples porque os papéis se confundem: as crianças são remuneradas como adultas e os pais passam a trabalhar para os filhos.

“Há uma codependência tóxica. Na infância é natural que as crianças sejam dependentes, mas isso tende a diminuir com o tempo. Quando os pais passam a depender financeiramente dos filhos, os papéis tornam-se múltiplos e têm de ser muito bem definidos. A tendência é que eles queiram esticar essa infância de maneira artificial, impedindo o desenvolvimento natural para evitar o rompimento da estabilidade”, diz Fabiana.

A psicanalista diz que é difícil saber como fica a influência quando chega alguém de fora, como um namorado ou namorada. “Um relacionameno romântico força o adolescente que estava infantilizado pelos pais a questionar e sair dessa posição. Isso leva à perda do controle e ao rompimento.”

Estrelas mirins

Nos EUA, onde as celebridades mirins são parte importante do mundo do showbiz, disputas entre pais e filhos alimentam os tabloides há décadas. Não sabemos como se comportavam os pais de estrelas como Shirley Temple, a criança mais famosa da história do cinema, muito menos de Don Marion e Eugenia Clinchard, atrizes infantis que brilharam ainda na época do cinema mudo.

Não se falava sobre isso à época. Um dos primeiros casos públicos da revolta de um filho contra o pai responsável pela gestão de sua fortuna foi o de Michael Jackson. O Rei do Pop conquistou fama global, mas carregou consigo um escrutínio implacável e controvérsias que inevitavelmente afetariam a relação com seus próprios filhos — e com as crianças de modo geral, como mostram os casos em que foi acusado de pedofilia.

Michael e o pai, Joseph, tinham uma relação péssima. Em um documentário, o cantor chegou a dizer que “tinha vontade de vomitar quando lembrava do pai”.

Questionado em uma entrevista a Oprah Winfrey sobre esse comportamento, Joseph disse que não se arrependia: “As surras mantiveram meus filhos fora da cadeia e no caminho certo”.

Joseph controlava com mão de ferro o grupo Jackson Five, que Michael formara junto com os irmãos. Assim que teve a chance de partir em carreira solo, com a gravação do álbum Off the Wall, aos vinte anos de idade, Michael trocou o pai por Frank DiLeo e Tohme Tohme, empresários profissionais.

Com a mudança, ele se livrou do pai opressor, mas não ficou imune a dores de cabeça — seus managers foram acusados de desviar milhões de dólares do cantor e viraram alvo de diversos processos na Justiça americana.

Outro caso emblemático é o de Britney Spears, uma das maiores estrelas pop de todos os tempos. A cantora tornou-se o símbolo da batalha pela autonomia pessoal e financeira.

Sua ascensão à fama, ainda adolescente, lhe obrigou a viver sob uma intensa vigilância da mídia e do público. Vieram os abusos com drogas e álcool, motivo usado por Jamie Spears, seu pai, a entrar na Justiça e pedir sua guarda legal, alegando que ela não tinha condições de cuidar de si mesma.

A partir daí, ele passou a administrar a fortuna da filha por dez anos. Nos tribunais, a luta de Britney para se libertar dessa tutela levantou questões sérias: ele estava interessado na saúde da cantora ou apenas no dinheiro?

A polêmica gerou até a campanha #FreeBritney (Libertem Britney) nas redes sociais, mobilizando milhares de fãs em defesa da artista. O caso expôs ao máximo como a relação de dependência e poder entre pais e filhos famosos pode ser problemática.

Como demitir o pai?

O problema não ocorre apenas na música. Macauley Culkin, que encantou o mundo como a estrela de Esqueceram de Mim, também teve problemas com álcool e drogas.

Ele revelou que os pais brigaram por sua fortuna durante o processo de divórcio. Aos 16 anos, exigiu a emancipação e disse que era “a melhor coisa” que acontecera em sua vida.

E contou ter dado aos pais um alerta.

“Estou fora, espero que vocês tenham ganhado bastante dinheiro, porque não vão ter mais nenhum centavo meu”.
Macauley Culkin

O piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton iniciou sua jornada de campeão mundiall ainda muito jovem, com o apoio de Anthony Hamilton. O pai foi seu empresário e mentor durante 17 anos, período essencial para a sua bem sucedida trajetória nas pistas.

Quando adquiriu mais experiência, Lewis descobriu que ele cobrava bem mais que os empresários profissionais de seus colegas.

Em entrevista à TV, o piloto relatou a dificuldade em ter de demiti-lo. “Chegou um ponto em que eu falei: ‘eu só quero que você seja meu pai’. Foi incrivelmente difícil para ele aceitar, mas também foi difícil de dizer”.

Anthony também deu a sua opinião sobre o episódio: “Desejava tanto que ele fosse bem-sucedido, que isso me levou a ser mais empresário que pai. Mas se eu tivesse sido mais pai, ele provavelmente não teria sido tão bem-sucedido”. Nunca saberemos.

Sandy e Xororó: raro caso de harmonia

Xororó e Sandy: transição suave entre o pai e o empresário profissional (Crédito:Divulgação)

Nem todos os casos em que os pais cuidam da carreira dos filhos famosos terminam em briga. Um dos poucos exemplos de harmonia é a relação entre o cantor Xororó, integrante de dupla sertaneja ao lado de Chitãozinho, e os filhos.

Sandy e Junior Lima começaram a ficar famosos em 1989, quando tinham 6 e 5 anos, respectivamente. Sandy afirma que o pai não gastava o dinheiro da dupla infantil, e que sustentava os filhos mesmo depois da fama.

A artista disse que começou a entender melhor a questão financeira somente no final da adolescência. Eles vivem uma situação bastante única, uma vez que Xororó também tem uma carreira de sucesso e atua na mesma área.

“Tudo o que a gente ganhou sempre foi nosso. Ele cuidava e administrava da melhor maneira para que a gente pudesse usufruir daquilo no futuro”, afirmou a cantora. “Ele não gastava nosso dinheiro com nada. E ainda sustentava a gente.”

Aos poucos, Sandy foi fazendo sua transição profissional e hoje sua carreira está nas mãos do profissional Pietro Toscano, empresário de Michel Teló.