Inteligência de robôs é obra do demônio

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Luiz Cesar Pimentel: "As credenciais da inteligência inanimada proliferam carregadas de ameaças a atores e autores (do que quer que seja), a artistas e compositores, a estetas e estilistas" (Crédito: Divulgação)

Por Luiz Cesar Pimentel

A criação é o ato divino em essência. É o extrair a existência de algo a partir do nada. Ou melhor, é a manifestação imaterial de Deus. Ao oposto disso, chamamos Inteligência Artificial (IA), no sentido mais distorcido que o sinônimo de sabedoria pode ter.

A menção religiosa no título e nas primeiras frases, além da crítica à inovação, não configura este como um texto amish de aversão tecnológica. Muito longe disso, já que mesmo exercendo profissões analógicas por essência, como jornalismo e literatura, pratico o meio digital há 20 e tantos anos.

Não fui eu quem criou a cosmogonia, a narrativa de criação do universo. Mas baseio meu ponto na própria. Primeira linha do primeiro livro da Bíblia: “No começo Deus criou os céus e a terra”. Na sequência do Gênesis, Ele cria a luz e a escuridão, o Sol e a Lua, os seres vivos, de árvores a aves, e a fertilidade entre eles, o homem e a mulher, e descansa ao sétimo dia.

Temos nessa exposição filosófica da concepção do mundo a informação de que todas as maravilhas do universo são resultado da manifestação criativa divina. Vou além: de que tudo que faz a vida valer a pena é fruto de criação.

E tudo, absolutamente tudo, o que a Inteligência Artificial não faz é criar. Sua (dela) função única é se apropriar da maior quantidade de composições criativas humanas, estabelecer padrões mecânicos e retornar um resultado inanimado.

Consigo vislumbrar inúmeras possibilidades da boa utilização da IA. Ela poderia servir, por exemplo, para acelerar padrões de composição de medicamentos para doenças que demandam anos de pesquisa atrás de fórmula de cura. Outra? O combate à fome que assola 783 milhões (ou 10% da população mundial) atualmente. Poderia a IA equacionar regiões, solo, semeadura, cruzar com predição de informações climáticas e ajudar o mundo a melhor alimentar a todos.

Ou então utilizá-la na conservação da vida selvagem no planeta, já que a ONU chegou ao número de um milhão de espécies animais ou plantas em risco de extinção hoje. Quem sabe a criação de ferramentas para oferecer dignidade e qualidade de vida a pessoas com deficiência? Possuímos contingente de 1,3 bilhão de seres humanos (ou um a cada seis) com alguma incapacidade.

Mas não.

Toda a propaganda e promessas da IA fogem dessa perspectiva como o diabo da cruz. Não satisfeitas, vão além. As credenciais da inteligência inanimada proliferam carregadas de ameaças a atores e autores (do que quer que seja), a artistas e compositores, a estetas e estilistas. Num bom português, a tudo e a todos aqueles que fazem da existência ofício para manifestarem a beleza em suas criações. Por isso, só duas conclusões são cabíveis: ou a IA é atéia ou está a serviço de tais.