Editorial

A popularidade lulista

Crédito: Ricardo Stuckert/PR

Carlos José Marques: "O sinal verde à gestão de Lula subiu tanto que, segundo o mais recente levantamento da empresa Quaest, atingiu o melhor nível desde o início do mandato" (Crédito: Ricardo Stuckert/PR)

Por Carlos José Marques

Um fenômeno acelerado e, em certa medida, inesperado está levando o mandatário Lula a uma aprovação e popularidade que surpreendem até mesmo os mais céticos adversários — dada a rapidez com que está acontecendo e a forma diversificada, sobre públicos distintos, que o fenômeno atinge. Lula, em poucos meses de gestão, avança na aprovação e, mais importante, vai tomando nichos estratégicos daquele que era até então o seu principal opositor, Jair Messias Bolsonaro. Isso mesmo: o demiurgo de Garanhuns está conquistando espaço nos chamados currais de votos do agora maculado “mito”. O sinal verde à gestão de Lula subiu tanto que, segundo o mais recente levantamento da empresa Quaest, atingiu o melhor nível desde o início do mandato. Exatamente assim, maior do que quando ele logrou a vitória nas urnas. Cresceu no período até aqui, o que não é o habitual entre os antecessores em seus primeiros meses de governo, quando, normalmente, experimentam um declínio na aprovação. O número é robusto: 60% dos entrevistados estão lhe dando apoio. Após tantos percalços e desafios no período, não é para todo mundo. E o que explica a escalada? Como em demais casos parecidos de melhora nos índices, a economia, naturalmente. O encaminhamento de projetos sociais aliado à queda na taxa de desemprego e da inflação, além da razoável retomada industrial, dizem muito do momento particularmente feliz e do resultado do governo. No âmbito de setores que reviram posições e passaram a dar seu apoio, Lula angariou trincheiras em um segmento até então inexpugnável, o dos evangélicos – que diziam amém a qualquer loucura do Messias Bolsonaro –, e também dentre os públicos mais escolarizados e ricos. É um fenômeno generalizado e de tal ordem que em segmentos conservadores, tais quais o do agronegócio, no Centro-Oeste do Brasil, ele repetiu o bom desempenho, alcançando razoável êxito. Tem a ver, decerto, com a frustração e até revolta desse universo com os desmandos e desvios de seu antigo salvador, metido em escabrosas transações com os árabes para enriquecimento pessoal. Lula surfa não apenas no sucesso de suas primeiras medidas – dentre elas a provável aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária –, como também sobre o baque e erros do adversário de extrema direita. Alguns, como sempre, gostam de atribuir o desempenho ao fator “sorte”. Um engano rotundo, típico de uma má vontade indisfarçável por parte daqueles que não aceitam reconhecer os feitos em andamento. É atribuída ao presidente norte-americano Thomas Jefferson, um dos mais influentes Founding Fathers da nação que ocupou o cargo de 1801 a 1809, a seguinte provocação a respeito: “Eu acredito demais na sorte. E tenho constatado que quanto mais duro eu trabalho, mais sorte eu tenho”. Na prática, e isso é irrefutável, Lula furou a bolha e passou a capturar simpatizantes nas linhas inimigas. Tome-se o caso dos mais escolarizados e nas faixas altas de renda: não faz muito tempo, ele perdia fragorosamente para o “mito” e sua rejeição nesses redutos também superava a aceitação. Virou o quadro. E esses setores passaram a dar seu aval inclusive ao relacionamento de Lula com o Congresso. A percepção popular é a de que esse diálogo abre chances para a adoção de mais programas sociais e de desenvolvimento do País. Lula tem, decerto, tido maior facilidade de diálogo com o Legislativo do que teve Jair Bolsonaro. Ali a guinada de apoios a seu favor se dá de maneira acelerada no momento. Não há dúvida de que, dado o grau de polarização social verificado nos últimos tempos, é impactante o desempenho de Lula. Para efeitos de comparação, em 2019, no mesmo período, Bolsonaro registrava apenas 44% de aprovação contra os 60% do atual presidente. O número de brasileiros que acham que a economia melhorou ao longo do ano é o maior em anos e a queda do preço dos alimentos figura como o fator responsável pela percepção, que se amplia. O otimismo parece ser o sentimento a tomar parte considerável dos consultados. Essas pessoas acreditam em novas oportunidades de crescimento e em menor custo de serviços e produtos, propiciando maior consumo/demanda e, por tabela, investimentos em produção e aumento das ofertas de trabalho, esteios da qualidade de vida. O fato: além de reter o eleitorado que já votava nele, Lula desenrolou um plano que agradou uma camada bem maior de brasileiros e segue nessa toada, reiterando a sina dos governantes que ampliam prestígio na mesma proporção da percepção geral de prosperidade.