Comportamento

Entenda a crise da Disney, que luta para sair do buraco no ano de seu centenário

Conglomerado enfrenta reveses que afetam todas as áreas e planeja até embarcar no negócio de bets esportivas

Crédito: Divulgação

O camundongo Mickey Mouse: mesmo com crise, homenagens aos 100 anos de história transcendem os muros de qualquer castelo (Crédito: Divulgação)

Por Ana Mosquera

Transformar os sonhos em realidade. Foi com esse mote que Walt Disney criou a marca que virou império com seu sobrenome em 1923. No ano em que completa 100 anos, entretanto, o projeto inicial do estúdio de animação, que se tornou o maior e mais famoso grupo de mídia do mundo, divide as comemorações e homenagens com uma crise econômica inédita. Somente entre abril e junho recentes, a empresa acumulou prejuízo de R$ 2,2 bilhões. A marca enfrenta dificuldades em se reinventar em todas as frentes de atuação e até cogita entrar no ramo de apostas esportivas com o ESPN Bet, contrariando princípios do fundador dos parques infantis.

A meta de corte de custos e de pessoal está definida: R$ 26,7 bilhões e sete mil funcionários pelo mundo. Os que continuam trabalhando seguem empenhados em realizar protestos por aumento salarial.

Uma greve na Disneyland Paris levou trabalhadores a ocuparem um castelo, o da Bela Adormecida, e ao cancelamento das atividades que marcam os 30 anos do complexo francês.

“Cinco anos trabalhando para o camundongo, sempre pagos como ratos” é um dos bordões que reforçam a luta dos colaboradores no pedido de aumento de 200 euros nos salários.

Ron DeSantis, governador da Flórida: “O reino corporativo finalmente chega ao fim. Há um novo xerife na cidade” (Crédito:Scott Olson)

O canal Disney+ está em crise e seu streaming, que deveria competir com a Netflix, beira a extinção. Apenas no primeiro semestre do ano, 12 milhões de assinaturas foram para o ralo.

A empresa pretende aumentar o valor pago e restringir o compartilhamento de telas de Disney+ e Star+, como fez sua concorrente, apesar de um dos motivos da fuga dos assinantes ser a necessidade particular de diminuir despesas.

As bilheterias de remakes e continuações de clássicos tampouco vem dando o retorno esperado para o período de arrefecimento da pandemia.

O faturamento de “A Pequena Sereia”, por exemplo, foi pouco maior que o dobro do orçamento inicial, R$ 1,2 bilhão e R$ 2,7 bilhões, respectivamente, enquanto em “Indiana Jones e a Relíquia do Destino” o lucro se igualou ao valor gasto na produção da sequência, R$ 1,4 bilhão.

Mickey politizado

Nos Estados Unidos, casa dos principais parques da franquia, a batalha com Ron DeSantis, governador da Flórida e favorito a ser candidato à presidência no próximo ano, piora a autonomia do grupo.

A briga começou com divergências entre o conglomerado de mídia e o republicano sobre o ensino de orientação sexual e identidade de gênero nas escolas.

O Estado é contra, enquanto os protagonistas do universo da magia querem revogar a legislação. Como retaliação, o político assumiu o conselho que supervisiona o parque e restringiu vantagens que a empresa colecionava desde sua fundação do primeiro parque, há meio século.

“O reino corporativo finalmente chega ao fim. Há um novo xerife na cidade”, ele comemorou, na ocasião em que incluiu líderes conservadores no controle do complexo turístico norte-americano. A empresa entrou com um processo contra o líder estadunidense, que já está recorrendo. Pioneira, a unidade emprega 75 mil pessoas e recebe 50 milhões de turistas por ano.

À francesa: “Funcionários do camundongo, pagos como ratos” (Crédito:Mohamad Salaheldin Abdelg Alsaye)

Mesmo em um cenário conturbado, que foge aos velhos anos de fantasia, o CEO, Bob Iger, que esteve à frente da companhia entre 2005 e 2020 e está de volta ao comando, segue otimista.

“Apesar dos ventos contrários, tenho uma confiança incrível na trajetória de longo prazo da Disney.”
Bob Iger, CEO da Disney

O executivo carrega expectativas e o desafio de retomar os lucros da empresa nos próximos três anos de gestão. Até o final do ano, estão previstas mais duas derrocadas no Estado americano: o fechamento de um dos hotéis mais luxuosos da marca, o Star Wars Galactic Starcruiser, com diárias de cerca de R$ 24 mil por casal, e a interrupção da construção de um centro de formação corporativa, no qual já tinham sido investidos R$ 4,2 milhões. Nem só de mágica vive o Mickey.

A magia continua

Em clima de fantasia, grifes lançam produtos para honrar 100 anos do império

Venda do sapatinho terá renda revertida para fundação (Crédito:Divulgação)

Apesar da nuvem de ameaças ao redor do mundo onde o rei é o Mickey Mouse, as homenagens aos 100 anos de história transcendem os muros de qualquer castelo.

Renomadas marcas de moda, do Brasil e do mundo, vêm lançando itens exclusivos relacionados aos principais personagens. Entre maquiagens da Charlotte Tilbury, que prometem visual de princesa, e joias luxuosas da Maison Schiaparelli, o sapatinho de cristal é o que mais chama a atenção.

Desenhado pela diretora criativa da Swarovski, Giovanna Elgenbert, a réplica do famoso calçado com que Cinderela foi ao baile não surgiu com o simples toque da varinha mágica de nenhuma fada. Foram 150 horas gastas e oito técnicos mobilizados para lapidar as 221 facetas do objeto feito com o material característico da marca de joias.

Feito sob encomenda, a versão do “sapatinho perdido” terá venda revertida para a fundação beneficente da Disney, a Make-a-Wish.