A Semana

Por que o atual incêndio foi o mais fatal em um século

Crédito: AP Photo/Rick Bowmer

Ilha Maui: vento, chamas e demora no socorro (Crédito: AP Photo/Rick Bowmer)

Por Antonio Carlos Prado

Ao longo da semana passada o mundo registrou mais um triste recorde. Já na fase de rescaldo, agora é possível falar mais dirigidamente em destruição e número de óbitos causados pelo incêndio florestal na Ilha Maui, no Havaí. Eis o trágico recorde: até a quarta-feira 16 sabia-se que o fogo matara 106 pessoas. Esse foi o incêndio em florestas mais letal na história dos EUA nos últimos cem anos (o Havaí, arquipélago no Pacífico, é um estado norte-americano). A contagem de vítimas pode subir, uma vez que cães farejadores só cobriram 60% da região. “Subestimamos o perigo e a velocidade do fogo”, disse à CNN a deputada democrata Jill Tokuda, representante do Havaí na Câmara dos EUA. “Incêndios florestais aumentam por causa de ventos e furacões”. A cidade de Lahaina é uma das mais destruídas. Para reerguê-la, minimamente, serão necessários US$ 5,5 bilhões.

80 sirenes de alarme contra incêndio estão instaladas na Ilha Maui. Nenhuma soou

EUA

Kamala volta ao jogo eleitoral

A vice-presidente Kamala Harris: confronto pessoal com adversários de Joe Biden (Crédito:Anna Moneymaker)

A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, surpreendeu nos últimos dias os seus correligionários do Partido Democrata — e os fez trocar críticas por elogios. Os comentários negativos ocorriam porque ela submergira politicamente desde que Joe Biden pisou a Casa Branca. Seus movimentos mais recentes, no entanto, mostram-na novamente como grande estrategista eleitoral. Foi à Flórida, sem sequer anunciar que estava indo, e moeu, em conferências, a principal proposta conservadora do governador Ron DeSantis com olhos nas eleições presidenciais. Ele decretou, absurdamente, que escolas têm de ensinar que a escravatura fez bem aos negros porque lhes ensinou uma profissão, mas Kamala teve a coragem de denunciar o seu preconceito – e fez isso no próprio ninho do adversário. Na avaliação do assessor do Comitê Nacional Democrata, Cedric Richmond, é fundamental para Biden que ela enfrente o governador da Flórida de forma assertiva. Também sem avisar ninguém, Kamala viajou a Iowa para defender o direito constitucional ao aborto. A poucos metros do local onde ela conferenciou reuniam-se treze pré-candidatos republicanos — que, logicamente, gostariam de vê-la longe de seus domínios.

Ron DeSantis: elogios à escravatura com olhos nas urnas (Crédito:Chip Somodevilla)

História

Memorial contra a ditadura militar

(Rubens Cavallari)

Foram concluídas as escavações no casarão onde funcionou, em São Paulo, o famigerado DOI-Codiprincipal centro de tortura e morte no qual a ditadura militar interrogava opositores políticos. Localizava-se no bairro (triste ironia) do Paraíso, à rua Tutóia, 921. No projeto arqueológico atuaram profissionais da Unifesp, Unicamp e UFMG. Encontraram, a um metro e meio sob o chão, objetos e manchas de sangue. Nas paredes descobriram-se inscrições datadas de um 22 de novembro qualquer, porque o torturado só registrou dia e mês, não o ano — o DOI-Codi operou entre 1970 e 1981. Tudo será encaminhado para análise e dificilmente se chegará a dados que auxiliem na identificação de corpos. Não importa. Quando a brutalidade criminosa é imensurável, como foi nesse órgão repressivo, vale muito o simbólico: as escavações ajudarão a transformar o prédio em mais um memorial dos tempos da ditadura a evitar que ela se repita no País.

Pesquisadores no DOI-Codi e objetos de torturados: em nome da verdade (Crédito:Divulgação)

Livros

Os ensaios que faltavam de George Orwell

Havia uma lacuna no País em relação à publicação das obras de George Orwell. Os seus principais escritos já circulam há tempo entre nós: A Revolução dos Bichos e 1984. Faltava, no entanto, uma reunião de seus magníficos ensaios produzidos entre 1936 e 1946 – com destaque para Livros e Cigarros. A lacuna é agora preenchida no Brasil com o lançamento de Na livraria com Orwell. Além de trazer o ensaio citado, inclui os textos A política e a linguagem inglesa e Por que eu escrevo. A obra tem a marca da qualidade de organização e tradução de Gisele Eberspächer.

George Orwell: textos para debater a própria existência de textos (Crédito: Leemage via AFP)